Título: PT quer antigos poderes
Autor: Pariz, Tiago
Fonte: Correio Braziliense, 01/12/2009, Política, p. 6

Grupo de deputados prega o fim de disputas internas e a união de algumas alas para que campo majoritário recupere a força que tinha antes do mensalão

Guimarães, Dutra, Zaratini e Vaccarezza: deputados querem que o campo majoritário ganhe força

A ala majoritária do PT quer voltar a ter o poder da era anterior ao escândalo do mensalão. Para formar uma grande corrente com quase 60% da militância petista, um grupo de deputados federais prega a união de três tendências internas que se juntaram para eleger o ex-senador José Eduardo Dutra à presidência da legenda. A ideia é acabar com as disputas internas que causaram turbulências e incertezas com o crescimento de alas minoritárias.

A proposta está sendo costurada dentro do Construindo um Novo Brasil (CNB), o enxuto herdeiro do antigo campo majoritário, e está em negociação com as outras tendências: PT de Luta e de Massas (PTLM) e Novos Rumos, que apoiaram Dutra. Como as resistências são grandes, os articuladores da união querem tomar cuidado para não passar a impressão de que desejam engolir os aliados e marginalizá-los, como ocorria antes das turbulências que chacoalharam o partido em 2005.

Fato é que alguns parlamentares sonham com a época que o ex-ministro José Dirceu comandava o partido com mão de ferro. Os 58% de votos que garantiram a vitória em primeiro turno de José Eduardo Dutra animaram o grupo. Coincidência ou não, é essa eleição interna que marca a volta do ex-ministro e deputado cassado a um posto no Diretório Nacional.

Depois do mensalão, as disputas internas do PT se acirraram com militantes se digladiando pelo poder. Em 2005, o então presidente José Genoino pediu afastamento da presidência junto com toda a direção, abrindo espaço para Tarso Genro, que deixou o Ministério da Educação para se dedicar à vida partidária. Tarso pregou a refundação do PT e entrou em conflito direto com Dirceu. Perdeu o braço de ferro, saiu da direção e deixou em seu lugar o atual presidente, deputado Ricardo Berzoini (SP).

Alvejado pelo escândalo dos aloprados, Berzoini se afastou do comando. Assumiu o vice Marco Aurélio Garcia, que ficou no poder por pouco tempo até a volta do antigo ocupante do posto. O parlamentar por São Paulo, então, reelegeu-se após um disputado segundo turno contra o deputado Jilmar Tatto (SP), da PTLM. O partido ensaiou uma união quando aventou-se a possibilidade de Gilberto Carvalho, assessor de Lula, ser candidato. A proposta fracassou, surgiu a opção por Dutra, mas a unidade não foi preservada. Com isso, veio o sonho de unir a militância novamente, acabar com as rinhas internas e conter o crescimento do grupo de Genro, que lançou o deputado José Eduardo Cardozo (SP) à presidência e teve 17% dos votos. Apesar de o partido estar cansado do que chama de ¿busca legítima e democrática de outras tendências¿, há resistências à união. O deputado Carlos Zaratini (PT-SP), membro do Novos Rumos, tenta separar a atuação ao lado de Dutra com a união política de tendências internas. ¿Vamos atuar conjuntamente no nível nacional dentro da direção, mas está longe de haver um processo de unificação¿, disse.

O deputado Devanir Ribeiro (SP), também da Novos Rumos, acredita haver espaço para o diálogo desde que haja um propósito político para a união. ¿É preciso fazer uma avaliação. Unificar não é o problema. O que temos que nos perguntar é: unificar para quê? Unidade na luta nós temos, a questão corrente passa por projetos políticos¿, afirmou o deputado. O Novos Rumos tem como membro o líder petista, Cândido Vaccarezza (SP). O deputado José Guimarães (PT-CE), do CNB, é entusiasta da ideia de fusão das alas.

Correntes

A antiga Articulação era a corrente majoritária, que acabou desidratada pelas denúncias sobre o esquema de distribuição de dinheiro de caixa dois a partidos da base aliada. Dela surgiram o CNB, que ainda é predominante, com cerca de 45% da militância, Mensagem ao Partido, que tem o ministro da Justiça, Tarso Genro, como expoente, com 20%, o Movimento PT, com 15% de petistas, o PTLM, de Jilmar Tatto, e reforçou a atuação independente da ex-prefeita paulistana Marta Suplicy.