Título: Dubai descarta garantias
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Fonte: Correio Braziliense, 01/12/2009, Economia, p. 21

Governo do Emirado Árabe diz que o Estado não é responsável pelo calote de US$ 59 bilhões da Dubai World. Credor será afetado

O governo de Dubai, nos Emirados Árabes, jogou ontem uma ducha de água fria no mercado ao anunciar que não garantirá a dívida da Dubai World, que, na semana passada, anunciou a suspensão, por seis meses, do pagamento de dívidas de US$ 59 bilhões. Segundo Abdulrahman al-Saleh, diretor-geral do Departamento de Finanças do emirado, os credores serão afetados no curto prazo pela reestruturação do conglomerado. ¿Os credores precisam tomar parte da responsabilidade pela decisão de emprestar às empresas. Eles acham que a Dubai World é parte do governo, o que não é correto¿, afirmou. Para ele, a reação do mercado ao anúncio dos problemas da Dubai World foi exagerada e não é condizente com a realidade.

As declarações de al-Saleh pegaram muita gente de surpresa, esfriando as comemorações em torno do anúncio, no domingo, de que o Banco Central dos Emirados Árabes havia criado uma linha especial para socorrer os bancos mais comprometidos com a Dubai World. ¿Acho que os bancos não estão em uma posição na qual necessitem de liquidez extra do Banco Central¿, assinalou, contrariando posição favorável ao socorro emitada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). No entender do Fundo, ¿os Emirados Árabes Unidos são uma economia forte e a decisão do BC de disponibilizar aos bancos uma linha especial de empréstimo é bem-vinda. ¿Esperamos mais esclarecimentos das autoridades sobre um mecanismo cooperativo para administrar as questões entre devedores e credores¿, frisou o FMI.

Até ontem, os bancos que operam nos Emirados Árabes não tinham recorrido à nova linha de liquidez disponibilizada pelo BC do país. Mesmo com o calote da Dubai World, as instituições não enfrentam problemas de caixa. Mas os analistas reconhecem que ainda é cedo para avaliar o tamanho do estrago, pois o anúncio da Dubai, de congelamento da dívida de duas de suas principais companhias, se deu às vésperas de um feriado local de quatro dias.

¿Mas os riscos são grandes. Os bancos se veem diante de enormes prejuízos e de uma possível corrida por saques por parte dos depositantes ¿ o que poderia prejudicar a recuperação da segunda maior economia árabe¿, assinalou o executivo de um dos maiores bancos locais. ¿Felizmente, ainda não vimos nenhum tipo de pânico até agora no que diz respeito à liquidez. O mercado está relativamente calmo¿, acrescentou. O mesmo executivo lembrou que as taxas de juros subiram ligeiramente, mas os custos dos seguros da dívida de Dubai World caíram, um sinal de que a preocupação é menor no mercado.

Para o presidente do BC brasileiro, Henrique Meirelles, parte dessa calma veio da decisão da autoridade monetária dos Emirados Árabes de anunciar um instrumento emergencial para dar suporte à liquidez dos bancos. ¿Essa decisão restringe a dimensão da crise¿, disse. ¿Mas existem perdas para o sistema financeiro internacional¿, ponderou. Meirelles voltou a assegurar que a crise em Dubai não deve afetar o movimento de recursos para o Brasil. ¿O fluxo de capitais para o Brasil tem componentes sólidos e vai se manter¿, afirmou.

Os credores precisam tomar parte da responsabilidade pela decisão de emprestar às empresas.

Abdulrahman al-Saleh, diretor-geral do Departamento de Finanças do emirado