Título: DEM está dividido
Autor: Tahan, Lilian; Lima, Daniela
Fonte: Correio Braziliense, 01/12/2009, Cidades, p. 29

Cúpula do partido adia para hoje a definição sobre Arruda porque existe um racha entre a expulsão imediata e a abertura de processo

Caciques do DEM chegam para reunião na Residência Oficial de Águas Claras com o governador Arruda: encontro durou duas horas

Zuleika de Souza/CB/D.A Press Maia, com o senador Heráclito Fortes: indefinição no partido

Rachado entre a ala que defende a imediata expulsão de José Roberto Arruda (DEM) do partido e um grupo reticente sobre a medida drástica, o Democratas optou formalmente por dar um tempo ao governador do Distrito Federal. Ele é apontado pela Polícia Federal como parte de um suposto esquema de corrupção envolvendo o Executivo, o Legislativo e um braço do Tribunal de Contas do DF (TCDF). Em reunião com a cúpula da legenda na tarde de ontem, Arruda cobrou apoio. Acuados com a ofensiva, os caciques do DEM resolveram adiar o desfecho sobre o futuro político do governador.

A conversa entre Arruda e os seus companheiros de partido foi classificada como ¿franca¿. Durante duas horas, o governador recebeu os caciques do DEM acompanhado por três advogados na Residência Oficial de Águas Claras. O vice Paulo Octávio, também citado no inquérito do Superior Tribunal de Justiça (STJ), participou da reunião. Arruda apresentou argumentos jurídicos para as denúncias divulgadas até agora. Mesmo assim, foi criticado por colegas do DEM. Endureceu o discurso. Disse que precisava do suporte do partido para se defender e provar sua inocência. Deixou a entender que, se for abandonado, não poupará a legenda de eventuais desgastes.

O encontro que começou com o DEM encurralando Arruda entre a possibilidade de afastamento ou a desfiliação terminou com um recuo. O partido decidiu submeter hoje o assunto aos 20 integrantes da Executiva Nacional da legenda, por meio de votação dos dirigentes. Parte do Democratas, personificada especialmente nas figuras do líder da sigla no Senado, Agripino Maia (RN), do líder na Câmara, Ronaldo Caiado (GO), e do senador Demóstenes Torres (GO), defende a expulsão sumária do governador. Outros integrantes do DEM, representados publicamente pelo presidente do partido, deputado Rodrigo Maia (RJ), acreditam que a abertura de um processo interno poderia apaziguar a situação.

Discurso moderado ¿Cada um expressou a sua opinião. Eu disse a ele a minha. Sou favorável à expulsão da legenda, e vou votar assim na executiva¿, afirmou Demóstenes. Em contraponto às palavras do senador, Rodrigo Maia fez um discurso moderado. ¿Ouvi as explicações de Arruda e vamos conduzir um processo que represente a vontade da maioria¿, disse.

A crise no GDF agrava o racha público que aflige o Democratas desde outubro, quando integrantes do partido passaram a discordar dos rumos que a chapa encabeçada por PSDB e DEM deverá tomar nas eleições de 2010. E o panorama eleitoral tem um peso grande nas negociações que se desenrolarão até a decisão da executiva da legenda. O mensalão petista era a principal bandeira do Democratas contra a candidata do presidente Lula ao Palácio do Planalto, a ministra da Casa Civil Dilma Rousseff. ¿O nosso partido tem a oportunidade de tomar uma decisão diferente da que foi tomada pelo PT em 2005¿, argumentou Agripino Maia.

Inquérito O inquérito do STJ serviu de subsídio para a operação Caixa de Pandora. Na última sexta-feira, a Polícia Federal cumpriu 29 mandados de busca e apreensão em 16 endereços, entre residências e escritórios políticos de autoridades do governo e da Câmara Legislativa.

Arruda se defende Monique Renne/CB/D.A Press Em um pronunciamento de 10 minutos dividido em nove itens, o governador Arruda contestou as acusações

Três dias depois de a Polícia Federal ter deflagrado a Operação Caixa de Pandora, que investiga suposto esquema de corrupção envolvendo o primeiro escalão do GDF e deputados distritais, o governador José Roberto Arruda (DEM) se defendeu das acusações. Leu um comunicado dividido em nove itens, entre os quais acusa o ex-secretário de Relações Institucionais Durval Barbosa de ter arquitetado um plano para desestabilizar o governo, alega que as doações em dinheiro mostradas em vídeos foram registradas e contabilizadas e levanta a dúvida para a veracidade dos dados divulgados por Barbosa.

Acompanhado de dois advogados, Flávio Cury (do partido) e José Eduardo Alckmin, o governador se ateve à nota preparada com a ajuda de sua equipe jurídica. Em seu discurso, ele afirma que seu denunciante teve interesses contrariados. Segundo Arruda, o governo resistiu em manter Durval à frente da empresa de Informática do GDF já que ele respondia a processos na Justiça. E que ele foi mantido em outro setor, ¿meramente burocrático, já que não havia ainda nenhuma condenação¿.

Arruda afirma que, em comparação ao governo anterior de Joaquim Roriz, a atual administração reduziu em 50% os custos de informática, o que teria segundo a tese oficial provocado o desgaste com Durval Barbosa. ¿Isto contrariou muitos interesses políticos e empresariais que, agora fica claro, são ligados ao denunciante¿. De acordo com o governo, até 2006 os gastos com esse setor somavam R$ 600 milhões e agora foram reduzidos a R$ 300 milhões.

Supostos defeitos Em um dos trechos de sua fala, o governador diz que a avaliação preliminar de seus advogados ¿alerta que os supostos defeitos ou aquecimentos e resfriamento do aparelho de gravação, conforme consta dos autos, acabaram por truncar e comprometer o teor e o sentido da conversa, inclusive com a desconfiguração dos dados armazenados¿. Arruda ainda relata que dias antes do encontro de 21 de outubro deste ano ¿ gravado por Durval Barbosa ¿, o então secretário de Relações Institucionais propunha a realização de pesquisas, conversas para acordos políticos e doações para campanha de empresários amigos deles. ¿Deixamos claro que não aceitaríamos essas doações, pois só cuidaríamos de campanha no próximo ano, e sugerimos apoio às campanhas de deputados da base de apoio ao governo, na forma da lei¿.

Arruda afirmou que permanecerá no cargo, que segundo disse, agora está ¿livre dessa herança maldita do governo anterior¿. O pronunciamento de Arruda durou 10 minutos. Ele chegou ao salão verde da Residência Oficial de Águas Claras amparado por um andador, que tem usado em função de uma cirurgia que fez no pé direito há três semanas. Arruda evitou responder às perguntas de jornalistas, mas atendeu a uma sobre sua situação no DEM. ¿Eu fico¿, afirmou. (LT)

Durval Barbosa Fez um acordo com a Justiça e a Polícia Federal de delação premiada. Em troca de redução de eventuais punições nos 37 processos a que responde, decidiu denunciar o suposto esquema de pagamento de propina que atinge o núcleo do governo e deputados distritais.