Título: Check-up anual que se aprende na escola
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Fonte: Correio Braziliense, 16/12/2009, Brasil, p. 10

Projeto que prevê exames para alunos de colégios públicos e privados recebe elogios de professores e especialistas. Problema está no custeio da parceria com o SUS

Pedro Raposo anima-se com a ideia de exames de rotina no colégio A iniciativa vem embrulhada em papel nobre. A concepção, no entanto, pode não ser tão simples. Um projeto da senadora Marisa Serrano (PSDB-MS), que aguarda para ser votado na Comissão de Assuntos Sociais (CAS) do Senado, prevê que alunos da rede pública e privada de ensino realizem anualmente, em suas escolas, exames de saúde, que, necessariamente, têm de incluir avaliações de saúde bucal, nutricional, auditiva e visual.

Para estimular as consultas, que teoricamente serão realizadas em parceria com o Sistema Único de Saúde (SUS), a autora sugere a criação da Semana Nacional da Saúde na Escola, a ser realizada na primeira semana do mês de agosto. A semana incluiria ainda debates sobre o tema, envolvendo todas as disciplinas do currículo escolar. ¿Cada escola fará o seu projeto pedagógico dessa semana, de acordo com as necessidades e os interesses do grupo¿, explica a senadora.

De acordo com Marisa Serrano, a ideia surgiu devido ao grande número de problemas de saúde, como a cárie dentária e os distúrbios nutricionais, que aparecem com frequência nos estudantes da educação básica. Segundo a senadora tucana, muitos desses problemas não são diagnosticados por falta de ações, tanto por parte da escola quanto por parte do sistema de saúde.

O engasgo, porém, pode estar no custo do projeto. Uma vez que é autorizativo, a decisão de adotá-lo ou não fica a cargo de cidades e estados ¿ nas instituições de ensino médio, a conta vai para o estado; nas de ensino fundamental, para o município. Só para se ter uma ideia, no Distrito Federal, apenas, há nada menos que 440 escolas particulares e 622 públicas.

A diretora de um desses colégios públicos, Cristiana Almeida Costa, da Escola Classe 312 Norte, diz que, se aprovado, o projeto vai resolver o problema de vários estudantes. Segundo a educadora, é raro encontrar quem não precise de um atendimento médico ou dentário, e, mesmo assim, não tem tempo para levar ao posto de saúde.

Cristina destacou ainda que, resolvendo o problema da saúde, o avanço nos estudos também será significante. ¿Muitas vezes, o aluno tem uma dor de dente e não consegue se concentrar nos estudos. Assim, uma simples restauração pode resolver o problema dele. Um exame de prevenção também é importante¿, conta.

O estudante Pedro Raposo Ciarlini, por passar a maior parte de seu tempo na escola, também é favorável ao projeto. ¿Para que eu faça exames anuais de saúde, preciso dispor de muito tempo e dinheiro, e na minha família somos três irmãos. Paramos por, pelo menos, uma semana para circular entre oftalmologistas e dentistas para um simples exame de rotina, que poderia ser realizado na escola.¿

A professora de saúde pública da Universidade de Brasília (UnB) Helena Shimizu acredita que programas como esse que têm boa chance de resolver o problema da falta de acesso à saúde no país, principalmente nessa faixa etária. Ela defendeu ainda uma prevenção maior da saúde bucal e da orientação nutricional. ¿O problema com a saúde bucal tem chamado bastante atenção. E a falta de orientação nutricional vem aumentando cada vez mais.¿

Caso o projeto da senadora Marisa Serrano seja aprovado pelo Senado, ele deverá receber a aprovação também da Câmara dos Deputados e, em seguida, ser sancionado pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva.

O que diz o projeto

Fica instituída a Semana Nacional da Saúde na Escola, a ser realizada anualmente no mês de agosto

O exame de saúde nos alunos das redes pública e privada incluirá avaliação de saúde bucal, consulta nutricional e exames visual e auditivo

Toda a avaliação será feita em parceria com o Serviço Único de Saúde (SUS)

As atividades realizadas pelos estudantes ao longo do evento, como palestras e trabalhos, podem ser aproveitadas como componente curricular