Título: Diálogo com o mundo
Autor: Silveira, Igor
Fonte: Correio Braziliense, 16/12/2009, Tecnologia, p. 22

Parceria de um dos maiores ícones da era da tecnologia, o Google Earth, com os índios suruí, que vivem na fronteira de Mato Grosso e Rondônia, visa mobilizar a opinião pública sobre os problemas da tribo e a importância da preservação da natureza

Tela do Google Earth: pelo site, é possível verificar o desmatamento constante e como estão os recursos da área

ACT Brasil/Divulgação

A descoberta da internet pelo cacique Amir Suruí representou mais que a expansão das fronteiras culturais do líder da tribo Pater Suruí. Quando o índio, ainda desconfiado, acrescentou recursos tecnológicos às tradições de seu povo, deu um presente de valor imensurável a todos os que navegam pela rede mundial de computadores: a oportunidade de conhecer o modo de vida do grupo indígena, que vive na fronteira entre os estados de Mato Grosso e Rondônia. Uma parceria entre essa comunidade e o Google Earth, firmada(1) em 2008 e colocada em prática em outubro desse ano, tornou possível a localização das aldeias no globo terrestre e a divulgação dos costumes dos Suruí.

Depois de feito o mapeamento da área onde vivem os índios Suruí(2), foram incluídos ícones nas imagens do Google Earth que fornecem informações sobre, por exemplo, a fauna, a flora e os conflitos na região. Nada escapa às fotografias de satélites. Matas, rios, estradas de terra. O vasto desmatamento, latente em manchas marrons no mapa, choca e revolta Almir Suruí. Para ele, a parceria é uma maneira de divulgar a valorização da cultura indígena e a importância da preservação da natureza, além de auxiliar na implementação de planos de gestão do território.

¿No Brasil, ainda falta uma política bem estruturada, que permita um bom planejamento de territórios indígenas. Há muitos tipos de invasões ilegais e desordenadas por parte de madeireiros e caçadores às nossas áreas, e isso é ruim para os índios, para a floresta e, claro, para todo o mundo¿, afirma o cacique. O acordo com o Google, segundo Almir Suruí, tende a mobilizar a opinião pública e alertar os governantes sobre a importância de manter o meio ambiente intacto. ¿Nós somos conscientes dos nossos problemas¿, completa.

As dificuldades da tribo começaram há muito tempo. Os registros mais antigos apontam que o primeiro contato da sociedade civil com o grupo indígena ocorreu em 1969. Nos cinco anos seguintes, metade da população morreu ao contrair tuberculose, sarampo e hepatite B. Atualmente, estima-se que 920 índios da etnia vivam na região da fronteira entre Mato Grosso e Rondônia. Lá, as aldeias sofrem com invasões de madeireiras ilegais e com a destruição da vegetação nativa. Liderados por Almir Suruí, os índios promovem o reflorestamento e a preservação da fauna local.

Valorização cultural Ciente de que a luta contra os problemas de seu povo não era simples, o cacique procurou parceiros que investem na promoção da cultura indígena e na defesa das causas dessa minoria. A Equipe de Conservação da Amazônia (ACT Brasil) é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) e ajudou no mapeamento cultural do território. O presidente do órgão, Vasco van Roosmalen, destaca que o projeto do Google Earth é uma prova de que os índios estão buscando ferramentas tecnológicas para fortalecer seus valores socioculturais tradicionais.

¿O primeiro contato com o Google foi feito pelo próprio povo Suruí, a partir do cacique Almir, que tomou conhecimento do site enquanto navegava pela internet. A partir disso, os índios tiveram a oportunidade de se reunir com representantes da empresa e de dar início ao trabalho com a atuação de diversos parceiros. Desde o início, os Suruí têm coordenado e liderado estas parcerias, da mesma forma que têm feito com o Google. Isso é muito importante para fortalecer o manejo e a cultura desses povos¿, observa Roosmalen.

O cacique Almir Suruí é internacionalmente conhecido pela defesa das causas do povo indígena. Neste ano, foi apontado com um dos 100 brasileiros mais influentes pela revista Época. Em 2008, recebeu o prêmio Defensor dos Direitos Humanos, em Genebra, Suíça, pelo desenvolvimento de um plano mundial de proteção à natureza. O líder não teme que o excesso de exposição possa prejudicar a tribo e entende que a tecnologia pode ser um caminho, inclusive, para consolidar uma política de geração de renda entre os índios Suruí.

¿Queremos dialogar com o mundo. Para que isso traga benefícios ao nosso povo, precisamos ter cuidado para não divulgar informações que nos exponham negativamente e prejudiquem a imagem dos Suruí. É importante contar histórias da nossa tribo, mostrar que podemos dialogar com a sociedade civil¿, diz o cacique. Almir Suruí também pretende mudar a opinião dos que acreditam que algumas regiões do Brasil só serão desenvolvidas com grandes obras. ¿É preciso acabar com a visão de que floresta no chão é sinal de desenvolvimento. Todos precisam apostar na economia verde.¿(3)

1 - O mundo a um clique O Google Earth é um programa que revolucionou a maneira de conhecer a Terra. Com imagens de satélites constantemente atualizadas, é possível visualizar mapas, terrenos, edifícios em três dimensões, além de imagens históricas de todo o mundo, dados da superfície e do leito oceânico fornecidos por peritos marinhos e uma apresentação simplificada com gravações de áudio e voz.

2 - Como acessar Para encontrar a tribo Pater Suruí, o internauta deve digitar a palavra ¿Suruí¿ na opção ¿Meus lugares¿. Feito isso, o link ¿Trading Bows and Arrows for Laptops¿ irá aparecer na tela. Basta clicar na opção ¿Abrir no Google Earth¿.

3 - A Terra é verde As discussões sobre preservação ambiental e aquecimento global atingiram níveis nunca antes alcançados. O Brasil, particularmente, enquanto caminha para integrar o grupo de países desenvolvidos, enfrenta o desafio de manter uma economia verde, ou seja, com produção que mantenha a sustentabilidade social e ambiental.

Assista a um vídeo com aapresentação do projeto

Drops digitais

Briga de gigantes Smartphone Do Google

O combate tem tudo para ser sensacional ¿ e quem deve sair ganhando é o consumidor. O Google sacudiu o mercado de telefonia móvel ao anunciar o lançamento, no início do próximo ano, do seu primeiro smartphone. O principal objetivo é concorrer com a Apple, que faz sucesso com as diferentes versões do iPhone. De acordo com informações de agências de notícias internacionais, o Google teria distribuído o novo celular Android para funcionários testarem ao longo de uma semana, para que críticas e sugestões fossem levadas em consideração.

chefão do FACEBOOK Contato com internautas

Marc Zuckerberg é fundador do Facebook, uma das redes sociais mais populares do planeta. As informações de seu perfil na página, porém, sempre foram muito restritas. Enquanto o site mudava sua política de privacidade, no último dia 9, o proprietário da marca resolveu surpreender e remar contra a maré. Zuckerberg abriu todas as fotografias e informações de sua página pessoal, atualizadas frequentemente. Lá, é possível conhecer os gostos do inventor do endereço eletrônico, que abriga 350 milhões de usuários.

No Twitter Terremoto em 140 caracteres

O Twitter tem se revelado uma caixinha de surpresas. A última novidade é o uso da ferramenta pela US Geological Survey (USGS), agência que monitora terremotos nos Estados Unidos, para divulgar e analisar as reações das pessoas que sofrem com esse fenômeno da natureza. Sempre que há um tremor em algum lugar do mundo, é possível observar um grande pico de tráfego de informação da rede.

O Yahoo! Adorou Ferramenta ¿made in Brazil¿

O escritório do Yahoo! no Brasil pensou e desenvolveu uma ferramenta que permite a divulgação de conteúdos indicados pelo internauta. Batizado de Meme, o produto compartilha material multimídia e tem recursos que lembram o microblog Twitter. A ideia foi tão bem recebida pela direção da empresa que começa a ser exportada para células da marca em outros países, com versões em português, espanhol, inglês e chinês.

LEILÃO 1,2 milhão

Quantidade de laptops educacionais que serão leiloados pelo Ministério da Educação entre janeiro e fevereiro de 2010. Governos estaduais e municipais serão beneficiados com os aparelhos, comprados com recursos do BNDES

TABLET JOOJOO Lançamento polêmico Fusion Garage/Divulgação

O computador portátil JooJoo (foto) nem chegou às prateleiras e já causa polêmica. A fabricante Fusion Garage resolveu divulgar imagens do tablet no último fim de semana, depois que o blog americano TechCrunch anunciou o lançamento de um produto muito semelhante. As fotos são acompanhadas de informações que revelam que o JooJoo vem com tela sensível ao toque de 12,1 polegadas, pesa 1,1kg e deve custar US$ 500. A briga entre a Fusion Garage e o TechCrunch promete render longos capítulos nos tribunais pela ¿paternidade¿ do tablet.