Título: PSB tenta pôr freio em Ciro
Autor: Pariz, Tiago
Fonte: Correio Braziliense, 17/12/2009, Política, p. 8

Críticas do cearense a Eduardo Cunha, e por tabela ao PT, deixaram correligionários temerosos de um possível isolamento em 2010

Ciro Gomes está entre concorrer ao governo de SP e à Presidência

Ao aumentar o tom dos ataques à aliança entre PT e PMDB, o deputado Ciro Gomes (PSB-CE) desagradou parlamentares de seu partido. A cúpula do PSB defende que ele deve amenizar o tom de suas críticas para não fechar a porta com o PT em São Paulo e evitar o estresse com o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O deputado pelo PSB do Ceará disparou, na última terça-feira, no plenário da Câmara, contra o PMDB, centrando sua fúria em Eduardo Cunha (RJ). O problema é que o ataque acabou transbordando também no PT.

Aproveitando-se de uma tentativa do peemedebista de impedir a votação de alteração do projeto de partilha do pré-sal, Ciro Gomes disse que ele age por interesses próprios e que conta com a leniência dos petistas. Postulante a uma vaga na eleição ao Palácio do Planalto no ano que vem, Gomes investe no acirramento da crise entre os dois partidos para se cacifar na disputa por rejeitar a proposta de concorrer ao governo de São Paulo com apoio do PT, como gostaria Lula.

O cuidado, segundo os deputados do PSB, deve ser tomado para não aparentar que os ataques à aliança entre PT e PMDB seja lido como um ato de desespero num momento em que sua pré-candidatura dá sinais de fragilidade. Ciro perdeu terreno para a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, nas pesquisas de intenção de votos, viu a pré-campanha se polarizar entre o projeto do PT e do PSDB e não conseguiu forjar nenhum apoio ao seu nome, isolando o PSB na disputa.

¿Ele está criando dificuldades desnecessárias à sua candidatura, seja ela qual for: à Presidência ou em São Paulo. E, em algum momento, ele vai ter que recuar delas¿, disse um parlamentar. ¿Ele não pode se isolar dos partidos¿, afirmou um outro socialista.

Com esses muros construídos, São Paulo pode ser a única saída para Ciro Gomes. Parlamentares do PSB falam em ¿chance considerável¿ a possibilidade de ele abandonar o projeto nacional para se dedicar ao regional, como é do agrado de Lula. O PT, no entanto, viu no último ataque um exagero. O líder petista na Câmara, Cândido Vaccarezza, comentou que cresceu a possibilidade de candidatura própria em São Paulo. Os dois principais nomes na disputa são o deputado Antonio Palocci e Emídio de Souza, prefeito de Osasco, cidade da região metropolitana paulista.

O discurso do PSB sobre a viabilidade à eleição presidencial também mudou. Antes setores defendiam que a candidatura de Ciro Gomes tornava-se irrevogável se ele firmasse percentuais acima dos 20% nas pesquisas. Agora, a lógica é a de que a consolidação se dará com índices modestos, abaixo dos apresentados por Dilma. Nesse caso, ele entrará na disputa para ser o carrasco do candidato do PSDB, sobretudo se o escolhido for o governador de São Paulo, José Serra.

Rigor repercute entre líderes Carlos Moura/CB/D.A Press - 21/10/09 Cunha derrubou emenda que alterava partilha do pré-sal

Os ataques de Ciro Gomes (PSB-CE) ao deputado Eduardo Cunha no plenário da Câmara repercutiram entre outros parlamentares de outros partidos, que condenaram a veemência das palavras e criticaram a postura parlamentar do deputado pelo Ceará.

Durante reunião de líderes na Presidência da Câmara, os líderes do PP, Mário Negromonte, do PR, Sandro Mabel, e do PTB, Jovair Arantes, segundo relatos de participantes do encontro, disseram que Ciro não conhece o jogo parlamentar e que deveria viver mais o ambiente da Câmara antes disparar contra medidas regimentais. O presidente da Câmara, Michel Temer, que também foi alvo da fúria de Ciro Gomes, fez eco à irritação com os comentários e chegou a dizer que iria externá-los em plenário.

Cunha (1)usou uma manobra prevista no Regimento da Casa para derrubar no plenário emenda do deputado Ibsen Pinheiro (PMDB-RS) que alterava todo o projeto da partilha do pré-sal dando mais receita a estados não produtores. Ciro Gomes, então, enfureceu-se contra o peemedebista por indignação de que esse tipo de artifício se sobrepõe à discussão de fundo: quem deve receber dinheiro da receita da exploração do petróleo da camada pré-sal.

¿O Ciro precisa entender que é do jogo do parlamentar. O Eduardo Cunha conhece o regimento e atua de acordo com ele¿, disse um líder. A irritação de Ciro, no entanto, deve-se à influência do peemedebista do Rio de Janeiro nas negociações restritas aos gabinetes da Câmara, fora, portanto, dos holofotes.

1 - À boca miúda Ciro Gomes disse que Eduardo Cunha (PMDB-RJ) agia de acordo com seus interesses próprios e que o PT faz todas as vontades do peemedebista pelo Rio de Janeiro. ¿Esta Casa está, à boca miúda, repetindo coisas que talvez alcancem todos nós e a própria honradez desta Legislatura. Não é mais possível que tudo de relevante, de importante, todas as questões centrais da República sejam agora objeto da deliberação praticamente unipessoal de um único líder entre nós, o eminente deputado Eduardo Cunha, porque o PT resolveu lhes fazer a vontade, seja qual seja a vontade do eminente deputado¿, afirmou Ciro na noite de terça-feira.