Título: Um futuro melhor
Autor: Mariz, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 17/12/2009, Brasil, p. 12

Ministério da Saúde aproveita clima de confraternização das festas de fim de ano para lançar campanha de combate ao crack

O período de Natal e ano-novo, em que proliferam mensagens de confraternização e de um futuro melhor nos meios de comunicação, foi escolhido pelo Ministério da Saúde para iniciar uma campanha de conscientização sobre o crack. Com peças de TV, rádio, internet, cinema e mídia impressa, o governo federal pretende informar à sociedade dos males provocados pela droga elaborada dos restos da cocaína. Apesar de se destinar ao público geral, o foco será nos jovens de 15 a 29 anos, sem distinção de sexo e de todas as classes sociais, a quem se dirige o slogan principal da campanha: ¿Nunca experimente o crack. Ele causa dependência e mata¿. Para o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, a época do ano é propícia para o debate. ¿Estamos num período de festas, de conversas familiares. Isso cria um contraste, um chamamento diferenciado para esse problema que é de todos nós¿, destacou o ministro.

Além das mídias convencionais, haverá intervenções em semáforos de algumas capitais, onde pessoas segurarão faixas com o seguinte alerta: ¿Desculpe interromper o trânsito. Mas esse assunto não pode esperar. O crack causa dependência muito rapidamente. Oriente seus familiares e amigos¿. Para 2010, um filme de cinco minutos com caráter informativo será distribuído nas escolas. A iniciativa é bem recebida por especialistas. Carlos Salgado, presidente da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas (Abead), faz apenas uma ressalva. ¿De uma forma geral, a informação veiculada na grande mídia tem um impacto pequeno no desfecho de uso ou não do indivíduo. Mas quando trabalhada por pais e professores, na relação íntima da criança e do adolescente, há uma resposta positiva¿, destaca o psiquiatra.

Salgado ressalta ainda que, associadas às campanhas de divulgação sobre drogas, é necessário haver medidas restritivas e repressivas. ¿É o que aconteceu com o tabaco. Sempre ouvimos dizer que fumar dá câncer. Mas foi agora, há pouco tempo, com as restrições impostas, que muita gente deixou de usar¿, compara o especialista. José Luiz Telles, diretor do Departamento de Ações Programáticas do Ministério da Saúde, afirma que o crack chegou a um nível de abrangência e disponibilidade no país que, hoje, qualquer jovem é considerado um usuário em potencial. ¿Precisamos trazer a sociedade para o debate.¿

Créditos adicionais

Ao anunciar a campanha nacional de conscientização sobre o crack, o Ministério da Saúde lembrou que este ano houve a liberação de dois créditos adicionais para a área de álcool e drogas no país, totalizando R$ 215 milhões. O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, destacou não saber quanto, desse dinheiro, já foi efetivamente empregado na melhoria do atendimento. ¿Há recursos cuja aplicação está em andamento, outros precisam da sinalização das unidades, como o caso dos leitos psiquiátricos em hospitais. Depois que nós reajustamos o valor da diária, temos de esperar a instituição querer abrir o leito¿, explicou Temporão.

No que diz respeito à ampliação dos Centros de Atenção Psicossocial (Caps) especializados em álcool e drogas, cuja quantidade não passa de 230 no país, a explicação é que, onde não houver tal unidade, o usuário poderá ser atendido em um Caps geral. Mesmo aqueles que conseguem uma vaga no Caps especializado em dependência química só podem ficar no máximo dois dias internados. ¿É uma espécie de porta de entrada. Do Caps, o paciente é encaminhado para o tratamento com internação¿ explica Pedro Gabriel, coordenador nacional da área de Saúde Mental do Ministério da Saúde.

Nesse momento, há duas alternativas para os pacientes: hospitais psiquiátricos, cuja qualidade é contestada pelo próprio governo federal em vistorias periódicas, ou leitos para álcool e drogas em hospitais gerais. A meta é chegar a 2.325 leitos do tipo em 2010. Carlos Salgado, da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas (Abead), é categórico. ¿Infelizmente, há filas enormes para tratamento em todas as unidades do Brasil. Tratando-se de dependência, especialmente o crack, o sujeito desiste de esperar¿, destaca. (RM)