Título: Ultimato de Minas a Serra
Autor: Cipriani, Juliana; Torres, Izabelle
Fonte: Correio Braziliense, 18/12/2009, Política, p. 2

Governador Aécio Neves (PSDB) anuncia desistência de candidatura à Presidência, avisa que não será vice e força uma decisão do paulista, que preferia adiar o jogo

Aécio Neves entrega a carta de desistência ao presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra

O governador Aécio Neves (PSDB) retirou ontem oficialmente sua pré-candidatura à Presidência da República em 2010. Ao lado do presidente nacional do partido, senador Sérgio Guerra, a quem entregou uma carta expondo os motivos da desistência, o tucano afirmou que o tempo para conseguir trazer novos aliados para uma eventual disputa se esgotou. O partido cobra agora a definição do governador de São Paulo, José Serra, que até agora tem evitado assumir uma posição. Para os tucanos, no entanto, a saída de Aécio do cenário não é algo irrevogável, podendo ser revertida caso o colega paulista opte por concorrer à reeleição no Palácio dos Bandeirantes.

Aécio tomou a decisão esta semana e ligou na quarta-feira para seu oponente na disputa interna convidando-o a participar do pronunciamento. Serra alegou motivos de agenda para não comparecer. Ontem, o governador se reuniu com Sérgio Guerra e o secretário-geral do partido, deputado federal Rodrigo de Castro (MG) e, depois de comunicar a eles a decisão, ligou novamente para Serra e para o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

¿Deixo a partir deste momento a condição de pré-candidato do PSDB à Presidência da República, mas não abandono minhas convicções e minha disposição para colaborar com meu esforço e minha lealdade para a construção de bandeiras da social democracia¿, explicou Aécio. O governador mineiro não citou José Serra no discurso, mas disse que sua saída de cena vai ajudar na definição de uma candidatura ao Palácio do Planalto. Em nota, Serra disse que o governador tem todas as condições para ser o candidato do PSDB a presidente. ¿É um homem que soma e que, ao mesmo tempo, sabe conduzir com firmeza as políticas públicas. Não é por menos que seu governo é tão bem avaliado e que a imensa maioria dos mineiros o considera credenciado para ocupar a função mais alta da República.¿

Apesar de o governador não ter anunciado sua pré-candidatura ao Senado, políticos próximos a ele acreditam que esse é o único caminho que ele vai seguir. Mesmo assim, tucanos e democratas iniciaram uma verdadeira romaria para que o mineiro ocupe a vaga de vice de José Serra. Alegam que a união dos dois tornaria a chapa puro-sangue tucana praticamente imbatível na disputa pelo Planalto.

Apesar dos apelos tucanos e da animação dos que esperam contar com o peso político do governador para fortalecer a chapa de oposição na disputa pela Presidência no próximo ano, Aécio não tem demonstrado qualquer disposição em disputar a vaga de vice. Tanto que nem mesmo o presidente do partido, senador Sérgio Guerra (PE), acredita na hipótese. Ele considera ¿improvável¿ que a chapa sonhada pelos tucanos se viabilize e disse que os fatos levam a crer que a tendência é mesmo que o governador dispute uma vaga como senador. ¿Acho que o caminho mais provável é que Aécio dispute o Senado¿, disse.

Argumentos Para justificar a desistência, Aécio afirmou que sua pré-candidatura ao Planalto propunha uma nova convergência, com a inclusão de novos aliados que hoje atuam na base governista e chegaram a lhe empenhar apoio. ¿O que me propunha a fazer de novo ao nosso projeto estava irremediavelmente ligado ao tempo da política, que, como sabemos, tem dinâmica própria. E se não podemos controlá-lo, não podemos tampouco ser reféns dele¿, disse.

O mineiro lamentou que o partido não tenha optado pelas prévias por ele defendidas como sistema de escolha do candidato. Nas últimas semanas, Aécio vinha indicando uma possível desistência. Em outubro, deu um ultimato ao partido, informando que só estaria disponível para uma candidatura presidencial até dezembro. Passado o prazo, ele se dedicaria ao quadro sucessório de Minas e a concorrer a uma vaga no Senado.

Para o secretário do partido, deputado federal Rodrigo de Castro (MG), o partido não tem José Serra como automaticamente candidato e entende como urgente uma decisão do paulista. ¿Candidatura depende também do candidato querer¿, afirmou. Caso Serra não entre na sucessão, Rodrigo de Castro afirmou que o partido voltará a conversar com Aécio. ¿Em política tudo é possível¿, disse.

O partido entende como um gesto do tamanho do governador: de equilíbrio, solidariedade no sentido da convergência. E essa convergência vai prevalecer. Vamos continuar juntos e ganhar as eleições de 2010¿

Sérgio Guerra, presidente nacional do PSDB

É um homem que soma e que, ao mesmo tempo, sabe conduzir com firmeza as políticas públicas. Não é por menos que seu governo é tão bem avaliado e que a imensa maioria dos mineiros o considera credenciado para ocupar a função mais alta da República¿

José Serra, governador de São Paulo, em nota

Há alguns meses, estimulado por inúmeros companheiros e importantes lideranças da nossa sociedade, aceitei colocar meu nome à disposição do nosso partido como pré-candidato à Presidência da República

(...)

Defendi as prévias como importante processo de revitalização da nossa prática política. Não as realizamos, seja por dificuldades operacionais de um partido de dimensão nacional, seja pela legítima opção da direção partidária pela busca de outras formas de decisão.

(...)

Devemos estar preparados para responder à autoritária armadilha do confronto plebiscitário e ao discurso que perigosamente tenta dividir o país ao meio.

(...)

O que me propunha tentar oferecer de novo ao nosso projeto, no entanto, estava irremediavelmente ligado ao tempo da política, que, como sabemos, tem dinâmica própria. E se não podemos controlá-lo, não podemos, tampouco, ser reféns dele.

(...)

Deixo a partir deste momento a condição de pré-candidato do PSDB à Presidência da República, mas não abandono minhas convicções e minha disposição para colaborar, com meu esforço e minha lealdade, para a construção das bandeiras da Social Democracia Brasileira.

(...)

Busco contribuir para que o PSDB e nossos aliados possam construir o caminho que nos levará à vitória em 2010.

(...)

Independentemente da missão política que porventura receba, continuarei trabalhando para ser merecedor da confiança dos que partilharam conosco, neste período, de uma nova visão sobre o Brasil.