Título: Serra opta pelo silêncio
Autor: Campbell, Ullisses
Fonte: Correio Braziliense, 19/12/2009, Política, p. 3

Governador paulista afirma a interlocutores que vai adiar ao máximo o reconhecimento de que é o candidato oficial do PSDB à Presidência

Para o governador paulista e aliados, prioridade é evitar o tom de confronto com os 80% de aprovação de Lula

São Paulo ¿ O governador e pré-candidato à Presidência da República, José Serra (PSDB), disse ontem ao presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, deputado Barros Munhoz (PSDB), que, apesar da pressão do partido para se lançar logo candidato oficial, ele só vai deixar o governo de São Paulo em março, quando vence o prazo legal estipulado pela Justiça Eleitoral. Ontem, o tucano não falou publicamente sobre a desistência do governador de Minas Gerais, Aécio Neves, de concorrer ao Planalto.

De acordo com Munhoz, Serra sabe lidar com a pressão que o partido faz para ele assumir logo que é o pré-candidato oficial. ¿O Serra me disse que não é preciso fazer um anúncio para comunicar que ele é o nosso pré-candidato. E ele está certo. Isso ocorrerá com o tempo, naturalmente¿, ressalta o deputado. Em sua avaliação, a melhor forma para o tucano demonstrar ser pré-candidato é exercendo o cargo de governador no Palácio dos Bandeirantes.

Ontem mesmo, José Serra fez uma aparição pública, no município de Itapira, para entregar 105 leitos para dependentes químicos numa clínica do governo(1). ¿Esse é um trabalho que a gente tem impulsionado em todo o estado, pelo interior, pela capital. Estamos dando uma força muito grande porque esse é um problema que afeta o coração das famílias, da nossa juventude e de adultos também¿, disse Serra, ovacionado como candidato.

Para o deputado estadual de São Paulo Fernando Capez (PSDB), a desistência de Aécio fecha o consenso pelo nome de Serra. Apesar de o governador mineiro ser um bom nome para vice, ele diz que o ideal é fazer uma coalizão com outro partido para aumentar o tempo do candidato na televisão. Capez diz que Serra é o nome mais forte do PSDB e que pesquisas internas feitas pelo partido apontaram que ele é mais conhecido nacionalmente. O deputado ressalta ainda que o tucano fez São Paulo crescer 20 anos em três, período em que está no governo, sem deixar dívidas públicas. ¿O PSDB não pode agora titubear. O nome do Serra está fortalecido há um bom tempo. Não haveria condições de fazer o Aécio ficar conhecido nacionalmente em tão pouco tempo¿, ressalta.

Chances De acordo com o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), Aécio Neves teve de desistir da candidatura depois que o partido recebeu resultado de pesquisas mostrando que Serra tem mais chances de enfrentar Dilma Rousseff na corrida presidencial de 2010. ¿A candidatura de Serra é irreversível¿, enfatizou. Ele também defende que o governador de São Paulo não ceda às pressões de anunciar que é o pré-candidato oficial. Nos bastidores, uma ala do tucanato defende que não é o momento de Serra enfrentar a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que está na casa dos 80%.

O deputado estadual Bruno Covas (PSDB) também é do time que defende que Serra anuncie a pré-candidatura só depois do carnaval. ¿O Serra tem quem se preocupar agora é com o governo, que será uma grande vitrine para a campanha eleitoral em 2010¿, ressalta. Bruno acredita que Aécio Neves ficou frustrado por não conseguir levar adiante o seu projeto pessoal, ¿mas esse tipo de decepção faz parte do jogo político¿, avalia o deputado.

1 - Recuperação de viciados O governo de São Paulo vai investir cerca de R$ 1,5 milhão no tratamento e recuperação de dependentes químicos. O local terá cerca de 50 funcionários, entre médicos, enfermeiros, psicólogos e psiquiatras, e capacidade para atender 1,2 mil pacientes por ano. O objetivo da clínica será oferecer um modelo voltado à desintoxicação fora do ambiente de enfermaria hospitalar para o qual essas pessoas costumam ser encaminhadas.

O PSDB não pode agora titubear. O nome do José Serra está fortalecido¿

Fernando Capez, deputado estadual (PSDB-SP)

Análise da notícia Objetivos diferentes

Denise Rothenburg

O sonho de, pelo menos, parte da cúpula do PSDB era que Aécio Neves desistisse da sua candidatura num encontro em Minas Gerais, ao lado de José Serra, em março, para, na mesma hora, apresentar o candidato do partido a presidente da República. Ocorre que o ideal para São Paulo não era o melhor para Minas Gerais.

Serra precisa de mais tempo no papel exclusivo de governador para organizar o palanque estadual paulista. Já Aécio tem urgência em decidir para poder organizar o palanque estadual mineiro e assegurar um amplo leque de partidos ao lado de Antonio Anastasia.

Como Serra não cedeu no quesito antecipação do prazo, Aécio decidiu. Agora, cuidará da campanha de Anastasia. Enquanto isso, Serra, com os holofotes nacionais sobre seu governo, poderá continuar dizendo que está cedo e que, no momento, precisa governar São Paulo. E assim o fará, deixando as conversas da pré-campanha restritas aos bastidores. Já o partido entra na fase de prestigiar Aécio.