Título: Sem medo do desemprego
Autor: Bancillon, Deco
Fonte: Correio Braziliense, 19/12/2009, Economia, p. 22

Efeito brando da crise e maior oferta de vagas deixam trabalhadores otimistas. Temor da perda do emprego é o menor da história

Renato da Fonseca, da CNI: consumo interno alto foi determinante para conter demissões em massa

O temor da perda do emprego entre os trabalhadores atingiu em dezembro o mais baixo nível desde 1996, quando esse indicador começou a ser pesquisado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). O resultado faz crer, no entendimento da entidade, que o mercado voltou a ser empregador. E que houve, por parte do brasileiro, uma percepção de que a crise exerceu impactos menores que o esperado.

Dezembro é, de costume (sazonalidade), um mês de otimismo para o mercado de trabalho. É quando o comércio realiza contratações e quando há distribuições de bônus nas empresas e pagamento do 13º salário. Essa combinação de fatores ajuda a economia a crescer em ritmo acelerado, com mais pessoas trabalhando para dar conta dos pedidos feitos ao comércio e à indústria. Por isso, houve redução tão acentuada nos resultados comparativos entre dezembro e setembro, de 8,4%, para 85,5 pontos. E uma boa surpresa: também registrou-se queda de 4,1% ante o último mês do ano passado.

Foi justamente em dezembro de 2008, passados dois meses da quebra do Banco Lehman Brothers, a época em que o brasileiro começou a temer pela própria vaga. A data correspondeu à primeira alta do índice de medo do desemprego. Até setembro daquele ano, o indicador marcava 89 pontos. Avançou para 93,4% em dezembro, e para 97,2% em março de 2009. ¿Na primeira alta do índice, as pessoas estavam aflitas sem qualquer razão. E seguiu assim no trimestre seguinte, quando se teve a real noção dos impactos da crise na indústria¿, explica o economista Renato da Fonseca, gerente de pesquisa da CNI, que emenda: ¿O índice só voltou a cair em junho, quando o brasileiro começou a ver que o bicho da crise não era tão feio quanto parecia antes¿.

Recuperação

Há uma razão para o indicador ter iniciado sua trajetória de queda apenas em meados do ano. Com a recuperação de parte dos mercados compradores de produtos brasileiros, como os Estados Unidos e alguns países da América do Sul, houve melhora na produção de manufaturados voltados à exportação. Também o Brasil se fortaleceu, com o consumo indo a todo o vapor, puxado pela prorrogação, por parte do governo, de medidas de desoneração de produtos industrializados. O resultado acabou sendo sentido rapidamente no emprego industrial, que interrompeu a trajetória de baixa e começou a variar positivamente em meados do ano. ¿Desde então, foram quatro altas ininterruptas do emprego na indústria, o que acabou enchendo de otimismo o brasileiro¿, diz Renato.

Setores que mais admitem reagem

Luciano Pires Evandro Matheus/Esp. CB/D.A Press - 1/12/09 Edificação: construção civil se destaca na oferta de oportunidades

Resultado da recuperação dos setores que mais contratam, o desemprego no Brasil fechou em novembro no menor patamar do ano. A taxa medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgada ontem ficou em 7,4% da população economicamente ativa, indicando que os efeitos mais danosos da crise econômica mundial sobre o mercado de trabalho passaram. O terceiro recuo consecutivo estimula os analistas a acreditarem que dezembro poderá apresentar um nível de desocupação ainda menor.

Os setores de serviços, comércio e indústria apresentaram sinais positivos no período. Na comparação com o mesmo mês de 2008, a construção civil acabou se destacando na absorção de mão de obra. Adriana Beringuy, economista do IBGE, explica que as festas de fim de ano e o otimismo que toma conta do setor produtivo vão ajudar a consolidar uma tendência de queda no nível de desemprego, que já vinha sendo verificada desde o início do segundo semestre. ¿O mercado de trabalho tem se comportado de forma favorável¿, completa a especialista.

Rendimento

Não fosse a crise, a massa de desocupados seria menor. Adriana não sabe dizer quanto, mas afirma que com certeza a retração da atividade econômica verificada no Brasil e no mundo ajudou a frear a abertura de novas vagas. ¿A crise talvez tenha desacelerado o mercado de trabalho¿, adverte. De acordo com o IBGE, 1,7 milhão de pessoas estavam desempregadas no mês passado e 21,6 milhões empregadas. O rendimento médio real bateu em R$ 1.353,60, praticamente estável em relação ao mês anterior ¿ quando comparado a novembro de 2008, no entanto, o avanço foi de 2,2%. A massa de rendimento real dos trabalhadores ficou em R$ 29,4 bilhões ¿ aumentou 0,5% no mês e de 3,2% no ano.

Adriana Beringuy lembra que o movimento de queda do desemprego é consistente e que não será surpresa se em dezembro a taxa recuar ainda mais, talvez ao mesmo nível de dezembro de 2008 (6,8%). Na quarta-feira, o Ministério do Trabalho apresentou números recorde de empregos formais abertos no país. O governo prevê menos demissões em dezembro do que em anos anteriores. Para o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), os dados confirmam que o mercado de trabalho ¿superou a crise e retomou seu padrão de crescimento¿. A pesquisa do IBGE mede o emprego formal e o informal em seis regiões metropolitanas: São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Recife, Salvador e Porto Alegre.