Título: PT começa a jogar a toalha
Autor: Pariz, Tiago
Fonte: Correio Braziliense, 03/12/2009, Política, p. 7

Disputa pelo diretório estadual do Rio aflige dirigentes nacionais, que se preocupam em não estremecer a aliança com o PMDB e não prejudicar o palanque fluminense de Dilma em 2010

Luiz Sérgio foi pressionado a desistir da disputa pelo diretório do Rio, mas garante que seguirá no páreo

O Rio de Janeiro está se tornando um problema para o desenho eleitoral que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez para sua pupila, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. O desempenho abaixo do esperado do deputado Luiz Sérgio (PT-RJ) na disputa pelo diretório estadual gerou agitação dentro do partido. Colegas do parlamentar o pressionam para que desista do segundo turno e tente um acordo com o candidato Lourival Casula. Luiz Sérgio venceu a primeira rodada de votação com 39,79% dos votos petistas e ainda não conseguiu agregar apoio que o garanta a maioria. Casula, que teve 25,30%, recebeu apoio de outros dois candidatos derrotados: Bismarck Alcântara (22,90%) e o vereador Taffarel (2,75%).

Por trás da disputa, está a aliança com o PMDB e a viabilidade da candidatura do prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias (PT), ao governo do estado contra Sérgio Cabral (PMDB), que tentará a reeleição. Luiz Sérgio descartou a hipótese de desistir da contenda e rejeitou as pressões. Sua campanha tenta esvaziar as candidaturas de seus opositores. Ele conta com o apoio do presidente Lula e da nova direção nacional. ¿Não vejo sentido em ele sair da disputa. A candidatura dele está crescendo, não tem por que abandonar¿, disse o presidente recém-eleito do PT, José Eduardo Dutra.

Dutra lembrou que o deputado estadual Rodrigo Neves e o vereador Adilson Pires, que haviam apoiado Bismarck, declararam apoio a Luiz Sérgio no segundo turno. A tentativa de levá-lo à renúncia é uma manobra para impor obstáculos à escolha de Lindberg como candidato ao governo carioca. Lula tentou conter as aspirações do prefeito da cidade da Baixada Fluminense, colocando como condição para sua candidatura a vitória no diretório estadual. Lula, no entanto, apostava que Luiz Sérgio, mesmo num segundo turno, venceria facilmente seus adversários. ¿É claro que o desempenho do Luiz Sérgio foi abaixo do esperado¿, disse Dutra.

A preocupação com o Rio é tanta que, além da pressão pontual em cima do deputado, foi tema de debate entre as cúpulas do PT e do PMDB(1) ontem. A indefinição do cenário impossibilitou qualquer discussão sobre a solução para o impasse. ¿É preciso esperar o segundo turno¿, disse o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Turbulência A reunião de ontem foi convocada para discutir o Pará, mas um problema de agenda impediu a participação do deputado Jader Barbalho (PMDB-PA), que vive momentos turbulentos com a governadora Ana Júlia Carepa (PT). Sem estar presente, Barbalho mandou recado: não retira a proposta que está na mesa. Ele quer retomar o mesmo espaço que tinha no governo antes do rompimento, sobretudo a Secretaria Estadual de Saúde. A petista, que veio a Brasília para participar do encontro, rejeita esse acordo, mas prometeu dar secretarias com peso equivalente.

Apesar da falta de sintonia entre os dois, a cúpula do PT está animada e aposta no entendimento. Os peemedebistas jogaram a responsabilidade do acordo para os aliados. As reuniões semanais com o PMDB para fechar os detalhes da aliança eleitoral com a ministra Dilma Rousseff ocorrem toda a semana. Dutra foi incluído nas negociações para conhecer os detalhes de uma negociação que chefiará a partir do ano que vem, quando tomará posse no cargo.

1 - Rusga As dificuldades em Mato Grosso do Sul também foram debatidas na reunião de ontem entre o PT e o PMDB. Diante da constatação de que a rusga entre o governador André Puccinelli (PMDB) e o senador Delcídio Amaral e o ex-governador Zeca do PT, os dois partidos discutem, agora, critérios de convivência. Os petistas apostam que, apesar do flerte com os tucanos, Puccinelli não conseguirá apoiar um candidato da oposição à Presidência da República.