Título: Mais três baixas no governo
Autor: Campos, Ana Maria; Tahan, Campos
Fonte: Correio Braziliense, 03/12/2009, Cidades, p. 38

Ameaçados de expulsão pelo PSDB, secretários de Governo, José Humberto Pires; de Obras, Márcio Machado; e de Fazenda, Valdivino de Oliveira, saem do GDF, mas mantêm apoio a Arruda

Alírio Neto e José Humberto Pires, dois dos ex-secretários: PPS, PV, PSDB, PDT e PSB entregaram os cargos

Para manter sua administração em funcionamento, o governador José Roberto Arruda (DEM) terá de buscar novos aliados. Grande parte de sua equipe no primeiro escalão deixou o cargo por conta das denúncias da suposta existência de um esquema de corrupção e pagamento de propina a aliados que vieram à tona com a Operação Caixa de Pandora. Até a última sexta-feira, Arruda mantinha uma base ampla de partidos. Menos de uma semana após a divulgação de um vídeo em que aparece recebendo dinheiro de Durval Barbosa, o governador perdeu PPS, PV, PSDB, PDT e qualquer possibilidade de fechar com o PSB. Entre os partidos médios, Arruda pode contar hoje apenas com PR e PP.

Se fizer uma reunião do secretariado, Arruda terá dificuldades para reunir até mesmo os antigos aliados mais próximos. Ele perdeu ontem colaboradores importantes, como os secretários de Governo, José Humberto Pires; de Obras, Márcio Machado; e de Fazenda, Valdivino de Oliveira. Filiados ao PSDB, eles receberam da direção nacional tucana a determinação de desembarcar do governo, sob pena de expulsão. O partido que terá candidato à Presidência da República teme que o desgaste decorrente das imagens de vários políticos embolsando maços de dinheiro prejudiquem a campanha de 2010 contra a candidata petista, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff.

Aliados de Arruda, Machado e José Humberto ¿ citados por Durval Barbosa em depoimento à Polícia Federal (PF) como operadores do suposto esquema ¿, mantêm-se ao lado do governador, embora estejam fora do governo. Valdivino também disse ao Correio que sua intenção era permanecer para ajudar na governabilidade. Todos, no entanto, são candidatos nas próximas eleições e não poderiam correr o risco de ficar sem partido. Entre a disputa de 2010 e a permanência ao lado de Arruda, eles escolheram a primeira opção.

O PPS também partiu, sob orientação da direção nacional. Alírio Neto voltou à Câmara Legislativa na última terça-feira, mas manteve em seu lugar na Secretaria de Justiça e Cidadania o adjunto, Flávio Lemos. Aliado de Arruda desde 1998, Augusto Carvalho também deixou a Secretaria de Saúde. Com ele, o secretário-adjunto, Fernando Antunes, presidente regional do PPS, que foi citado no depoimento de Durval Barbosa à Polícia Federal (PF), também desembarcou. Augusto reassumiu o mandato de deputado federal.

Na próxima semana, Arruda e o vice-governador Paulo Octávio também poderão perder o apoio do PMDB. O deputado Tadeu Filippelli, presidente regional da legenda, convocou uma reunião da executiva para decidir os rumos do partido. Até o momento, os peemedebistas têm sido os mais pacientes com a situação atual. ¿Vamos aguardar até a próxima semana para ver a extensão das denúncias¿, disse Filippelli.

Vamos aguardar até a próxima semana para ver a extensão das denúncias¿

Tadeu Filippelli, deputado federal e presidente regional do PMDB

Quem saiu Confira os integrantes de cada partido que deixaram o governo

PSDB José Humberto Pires, ex-secretário de Governo Márcio Machado, ex-secretário de Obras Valdivino de Oliveira, ex-secretário de Fazenda

PDT Marcelo Aguiar, ex-secretário Extraordinário de Educação Integral Edilson Barbosa, ex-gerente das Escolas Técnicas Israel Baptista, ex-secretario-adjunto do Trabalho Fábio Barcellos, administador regional do Jardim Botânico

PSB Joe Valle, ex-presidente da Emater

PPS Augusto Carvalho, ex-secretário de Saúde Fernando Antunes, ex-secretário-adjunto de Saúde Alírio Neto, ex-secretário de Justiça e Cidadania

PV Eduardo Brandão, secretário-adjunto de Meio Ambiente

PMDB José Luiz Valente, secretário de Educação afastado José Geraldo Maciel, chefe da Casa Civil afastado Fábio Simão, chefe de gabinete afastado

Novo vídeo cita deputados federais

Edson Luiz Ig.com.br/Reprodução da Internet - 2/12/09 Em conversa gravada por Durval Barbosa, Collaço fala sobre a partilha de dinheiro entre deputados

Um novo vídeo com conversas entre o ex-secretário de Relações Institucionais Durval Barbosa e um empresário cita o nome de quatro deputados federais do PMDB, como o presidente da Câmara, Michel Temer (SP). Nos diálogos, como em vários outros divulgados, o assunto trataria de supostos pagamentos aos políticos. O empresário que comenta com Durval a partilha de dinheiro é Alcyr Collaço, o mesmo que foi flagrado enfiando dinheiro na cueca, em uma das gravações. Além de conversarem sobre Temer, os dois referem-se também a Henrique Eduardo Alves (RN), Eduardo Cunha (RJ) e Tadeu Filippelli (DF).

No vídeo, a conversa entre Durval e Collaço dura pouco mais de um minuto, tempo suficiente para que falassem sobre uma suposta operação envolvendo dinheiro e políticos. Sem revelar do que exatamente se tratava, ambos citam altas cifras e, em um determinado momento, o ex-secretário fala que Filippelli receberia R$ 1 milhão do governador José Roberto Arruda (DEM), mas o empresário corrige: ¿São 500 paus¿. Henrique Eduardo Alves, segundo a conversa dos dois, teria levado R$100 mil, a mesma quantia supostamente paga a Temer e Eduardo Cunha. Nos diálogos é citado o nome do ex-deputado mineiro Fernando Diniz, que já morreu.

A conversa teria sido gravada em 17 de setembro, momento em que o ex-senador Joaquim Roriz deixava o PMDB, já que era preterido como candidato ao Governo do Distrito Federal. Ele deixou a legenda em atrito com Filippelli e foi para o PSC. Durval teria entregue mais de 50 fitas para a Polícia Federal, mas investigadores que dão prosseguimento à análise de documentos apreendidos na Operação Caixa de Pandora(1), desencadeada há uma semana, não descartam a possibilidade de Durval ter feito mais gravações.

Além de gravar a conversa com Collaço, que é dono do jornal Tribuna do Brasil, Durval fez outros vídeos, a maioria deles com deputados distritais, integrantes do governo e empresários. Em quase todos, o ex-secretário fala em cifras ou as próprias imagens mostram a movimentação. A nova gravação com Collaço é a segunda que surgiu. Na primeira, o empresário recebeu dinheiro de Durval e o colocou, com dificuldades, na cueca. Em outro episódio, o presidente da Câmara Legislativa, Leonardo Prudente (DEM), coloca os recursos nos bolsos e na meia. O deputado, que se licenciou da presidência por 60 dias, afirmou que era por questão de segurança.

Presidente do PMDB-DF, Tadeu Filippelli considerou os diálogos absurdos. ¿Estou indignado¿, afirmou. Filippelli disse que já acionou seu advogado, Herman Barbosa, para que ingresse com ações de reparação de danos morais e uma representação criminal contra Durval Barbosa e o empresário Alcyr Collaço. Michel Temer classificou, por meio de nota, como ¿descabido¿ o seu suposto envolvimento no episódio e garantiu que vai agir: ¿Sobre a menção irresponsável e descabida a meu nome em gravação realizada em Brasília, também tomarei as devidas providências legais.¿ Procurados pelo Correio, Eduardo Cunha e Henrique Eduardo Alves não retornaram as ligações.

1 - Mito grego Surgida de um mito grego, a Caixa de Pandora é uma expressão muito utilizada quando se quer fazer referência a algo que gera curiosidade, mas que é melhor não ser revelado ou estudado, sob pena de se mostrar algo terrível, que possa fugir de controle.

Colaborou Ana Maria Campos