Título: Mantida a ocupação do plenário
Autor: Medeiros, Luísa
Fonte: Correio Braziliense, 06/12/2009, Cidades, p. 29

Os manifestantes que ocupam o prédio da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) desde a última quarta-feira decidiram ontem, por volta do meio-dia, manter o movimento dentro da Casa por tempo indeterminado. Após uma reunião rápida com o presidente em exercício da CLDF, Cabo Patrício (PT-DF), os líderes do protesto não deram chance de acordo. Até o fim da tarde de ontem, a decisão judicial que determina a desocupação imediata do prédio ¿ expedida na sexta-feira ¿ ainda não havia sido executada.

O encontro com o presidente da Casa tinha o objetivo de melhorar as relações entre as partes e firmar um acordo de retirada sem conflitos. No entanto, não houve tempo para isso. Antes de começar a reunião, os representantes do movimento leram uma nota de repúdio à gestão de Cabo Patrício e da Mesa-Diretora da CLDF. Após a leitura do manifesto, que não demorou mais do que três minutos, o deputado deixou a sala de reuniões e não falou com a imprensa.

No texto, os manifestantes recriminaram o pedido de reintegração de posse do prédio da Câmara Legislativa feito pelo presidente interino na tarde da última sexta-feira. Eles reclamaram que o petista tinha dito que não faria a requisição até a próxima terça-feira, data da sessão ordinária dos distritais. Como defesa, alegaram que ¿a possibilidade de intervenção policial para a retirada do povo colocaria em risco a integridade física de todos os presentes¿.

No mesmo documento do Tribunal de Justiça do DF e Territórios (TJDF) em que a reitegração de posse é ordenada, a Justiça determinou também que a polícia fosse chamada para manter o plenário desocupado. Mas Cabo Patrício preferiu não mandar executar a decisão e marcou para ontem nova rodada de negociações com os representantes do Movimento Fora, Arruda e toda a sua máfia.

Apoio policial Diante do impasse, o presidente interino da Câmara Legislativa se reuniria com os deputados integrantes da Mesa-Diretora para definir o posicionamento a tomar. ¿Estamos tentando esgotar a negociação, esperamos que os manifestantes saiam pacificamente para que haja a sessão da próxima terça-feira¿, afirmou Cabo Patrício, ontem no início da noite, ao Correio. Se o protesto não acabar até amanhã, é possível que a Câmara convoque a Polícia Militar para retomar o local.

Os ocupantes da CLDF ¿ que se recusam a dar entrevistas ¿ se sentem literalmente em casa. Colchonetes, cobertores, mochilas, peças de roupas, caixas com alimentos e garrafões de água dividem o espaço do plenário com cerca de 40 manifestantes. O ar-condicionado do local não foi ligado ontem e o mau cheiro exalava a partir da entrada do plenário.

As lixeiras da Casa estavam abarrotadas. Embalagens de pizza, copos descartáveis sujos, papéis usados se espalhavam pelo chão. Os banheiros também não foram limpos e não havia papel higiênico suficiente para todos. Os ocupantes não tomam banho no local e fazem suas refeições no plenário. Mas eles varrem e passam pano no piso. Entre uma assembleia e outra, há tempo para batucadas e sessões de filmes.

Vigília marcada Os manifestantes querem dar fôlego ao movimento e decidiram fazer uma vigília a partir das 19h de hoje em frente à Câmara Legislativa. Qualquer cidadão pode se juntar ao ato. Na próxima quarta-feira, o protesto será feito em frente ao Palácio do Buriti, às 10h. Os ocupantes da Casa têm o apoio da seccional regional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-DF) e ganharam um espaço para montar um comitê na sede da entidade, na 516 Norte.