Título: Jamil Haddad, médico e ex-ministro da Saúde
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Fonte: Correio Braziliense, 12/12/2009, Política, p. 14

Presidente de honra do PSB faleceu na madrugada de ontem, aos 83 anos, vítima de infarto. Para homenageá-lo, governador do Rio de Janeiro decretou três dias de luto oficial no estado

Formado em medicina, Haddad ingressou na política, onde exerceu funções no Legislativo e Executivo

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva lamentou a morte do presidente de honra do PSB, Jamil Haddad, e disse, em nota oficial, que a palavra certa para defini-lo é ¿coerência¿. O ex-ministro da Saúde morreu na madrugada de ontem, no Rio de Janeiro, aos 83 anos. Segundo informações divulgadas pelo site do partido, ele foi vítima de infarto em sua residência, no bairro da Tijuca. O sepultamento ocorreu no final da tarde de ontem, no Cemitério São João Batista. O presidente destacou ainda a atuação de Haddad durante a ditadura militar, quando teve os direitos políticos cassados por 10 anos. ¿(Jamil Haddad) sempre colocou a defesa da liberdade, da democracia, dos direitos dos trabalhadores e dos interesses do nosso país em primeiro plano¿, diz a nota.

O presidente destacou ainda que, quando exerceu o cargo de ministro da Saúde, durante o governo Itamar Franco, Jamil Haddad assinou o decreto dos genéricos, ¿que até hoje salva vidas devido à ampliação do acesso aos medicamentos, especialmente pelos mais necessitados¿. Na nota, o presidente manifestou ainda aos amigos, parentes e correligionários do ex-ministro o sentimento de dor e de pesar por seu falecimento e concluiu que Haddad foi ¿um amigo querido que deixará saudade¿.

O Partido Socialista Brasileiro ressaltou, em nota, que ¿Jamil Haddad dedicou toda sua vida pública às lutas democráticas em favor dos trabalhadores, contra a ditadura militar e combatendo as desigualdades sociais. Como militante, trabalhou pela reconstrução e afirmação do socialismo no Brasil¿.

O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), decretou luto oficial de três dias no estado. ¿Jamil Haddad foi um grande brasileiro, que prestou grandes serviços ao povo do Brasil e, em especial, ao Rio de Janeiro. Teve sempre uma atuação brilhante na vida pública, como médico, militante da causa democrática na época da ditadura, parlamentar, prefeito e ministro da Saúde. O Rio e o Brasil sentirão saudades de Jamil Haddad¿, disse Sérgio Cabral em nota.

(Jamil Haddad) sempre colocou a defesa da liberdade, da democracia, dos direitos dos trabalhadores e dos interesses do nosso país em primeiro plano¿

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em nota oficial

Ortopedista foi o criador dos genéricos

Nascido na capital fluminense, Jamil Haddad se formou em medicina, em 1949, pela Universidade do Brasil ¿ atual Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) ¿, e se especializou em ortopedia. Iniciou a carreira política em 1962, quando foi eleito deputado estadual pelo então estado da Guanabara, na coligação formada pelo PSB e PTB. Em 1965, filiou-se ao MDB. Reelegeu-se deputado estadual em 1966, mas, no ano seguinte, teve seu mandato cassado e os direitos políticos suspensos. Com a reorganização partidária de 1979, participou da fundação do PDT.

Em março de 1983, o governador Leonel Brizola convidou Jamil Haddad a assumir a prefeitura do Rio, cidade que governou entre março e dezembro. Dois anos depois, Haddad participou da reorganização do PSB, tendo sido eleito presidente no primeiro encontro nacional da sigla. Ele também foi um dos constituintes, ao assumir a vaga deixada por Saturnino Braga no Senado. Em 1990, foi eleito deputado federal, de onde saiu para assumir o Ministério da Saúde no governo Itamar Franco (1992-1995). Permaneceu no cargo até 1993. Um dos maiores destaques de sua gestão foi a autoria do decreto dos medicamentos genéricos(1), que hoje representam cerca de 20% do mercado farmacêutico, ampliando o acesso da população ao tratamento de doenças ¿ fato ressaltado na nota de falecimento divulgada pelo Ministério da Saúde, em seu site. Em entrevistas, Haddad costumava dizer que a regulamentação dos genéricos, em 1999, foi apenas a consequência da iniciativa tomada seis anos antes.

Durante a gestão de Luiz Inácio Lula da Silva, dirigiu o Instituto Nacional de Câncer (Inca) por cinco meses, em 2003, quando foi exonerado por pressões políticas.

1- Sucesso mundial Os Estados Unidos e muitos países da Europa já adotam os medicamentos genéricos há mais de 20 anos. O mercado mundial cresce, aproximadamente, 11% ao ano. Nos Estados Unidos, a participação do receituário de genéricos alcançou cerca de 42% das prescrições.