Título: De volta à mesa
Autor: Fleck, Isabel
Fonte: Correio Braziliense, 12/12/2009, Mundo, p. 34

Coreia do Norte fala em retomar negociações com os EUA e mais cinco países. Washington aguarda anúncio oficial

Após os três dias de visita do enviado norte-americano Stephen Bosworth a Pyongyang, o Ministério de Relações Exteriores da Coreia do Norte demonstrou disposição em retomar o diálogo multilateral sobre seu programa nuclear. O aparente avanço nas últimas semanas de 2009 ¿ ano em que o país asiático assustou o mundo ao realizar seu segundo teste nuclear ¿ pode ser considerado uma vitória importante para Barack Obama e a sua contestada diplomacia do smart power (poder inteligente). A Coreia do Norte abandonou há mais de um ano as negociações com EUA, Coreia do Sul, Japão, Rússia e China, e parte dos especialistas continua reticente sobre as reais intenções de Pyongyang em cooperar.

A chancelaria norte-coreana afirmou entender ¿a necessidade de reiniciar as conversações¿ sobre a crise nuclear com o chamado ¿grupo dos seis¿. Segundo um comunicado divulgado na agência oficial de notícias KCNA, as conversas entre Bosworth e integrantes do governo de Pyongyang ¿aprofundaram a compreensão mútua (entre os dois governos), estreitaram as diferenças e encontraram não poucos pontos comuns¿. ¿Os dois lados também concordaram sobre a necessidade de retomar as negociações e a importância de implementar o pacto de desarmamento de 2005¿, diz a nota. Esse pacto prevê o encerramento do programa nuclear norte-coreano em troca de auxílio econômico ¿ inclusive fornecimento de combustível para centrais elétricas ¿, garantias de segurança e reconhecimento diplomático.

Em Washington, a secretária de Estado, Hillary Clinton, preferiu não demonstrar tanto entusiasmo. Ela limitou-se a dizer que as conversas de Bosworth em Pyongyang foram ¿muito positivas¿. O enviado norte-americano também teve cautela ao falar sobre resultados de sua viagem a Pyongyang. ¿É importante destacar que essas foram apenas conversas, não negociações¿, afirmou em Seul, a capital sul-coreana, para onde se dirigiu depois de visitar o país comunista. ¿É preciso esperar para ver quando e como (a Coreia do Norte) vai retornar à mesa de negociações. Isso é algo que dependerá de mais consultas entre todos os seis países¿, declarou.

Na capital norte-coreana, Bosworth se reuniu com o vice-premiê Kang Sok-ju, considerado mentor do programa nuclear e assessor próximo do líder Kim Jong-il, e com Kim Kye-gwan, representante do país nas negociações multilaterais. Depois de passar por Seul, o emissário do governo americano partiu com destino a Pequim, de onde seguirá para Tóquio e Moscou ¿ concluindo uma turnê completa pelos países que participam das negociações com Pyongyang.

Ceticismo

A Rússia foi o único dos seis a saudar os sinais emitidos pelo regime comunista. ¿Se as informações de que a Coreia do Norte está pronta para retomar as negociações multilaterais são verdadeiras, seria um passo dado por Pyongyang na direção certa¿, afirmou o Ministério das Relações Exteriores russo, de acordo com a agência de notícias Interfax. Especialistas, no entanto, veem com ceticismo a manifestação de boa vontade norte-coreana.

Para Mark Katz, professor da George Mason University, Pyongyang parece ter aprendido que consegue atrair a atenção do mundo quando faz os outros temerem seu regime. ¿Então, não se pode esperar que a Coreia do Norte tenha tanta disposição para perder esse `status¿. A normalização das relações com outros países também conduziria a um contato maior entre norte-coreanos e estrangeiros, o que poderia minar o regime.¿

O especialista Lee Sang-Hyun, do Instituto Sejong, em Seul, acredita que a possibilidade do retorno de Pyongyang às conversas criará um ¿cabo de guerra¿. ¿A Coreia do Norte só retornará às negociações se os EUA oferecerem recompensas substanciais¿, disse à agência Associated Press. O jornal Choson Sinbo, considerado um porta-voz do governo da Coreia do Norte, informou ontem que o país não cederia sem a garantia de que cessem as ¿relações hostis¿ entre Pyongyang e Washington.