Título: O dilema tucano dos petistas
Autor: Aranha, Patrícia
Fonte: Correio Braziliense, 14/12/2009, Política, p. 6

Envolvido numa disputa interna, PT não consegue definir seu candidato ao governo de Minas, o segundo maior colégio eleitoral do país

Pimentel (e) é um dos coordenadores da campanha presidencial da ministra Dilma Rousseff. Já Patrus (d) comanda o Bolsa-Família, uma das bases da aprovação popular recorde de Lula

O PT vive em Minas Gerais, o segundo maior colégio eleitoral do país, o mesmo dilema que o PSDB enfrenta no plano nacional. Dividido entre dois pré-candidatos a governador ¿- o ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Patrus Ananias, e o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel ¿-, o partido assiste de mãos atadas à antecipação da campanha do candidato escolhido pelo governador Aécio Neves: o atual vice Antonio Anastasia, que tem percorrido o estado, assinando convênios, inaugurando obras e se reunindo com prefeitos, em agendas que incluem mais de uma cidade por dia, principalmente nos fins de semana.

Na campanha presidencial, são os tucanos que travam disputa interna para escolher entre duas opções: Aécio Neves ou o governador de São Paulo, José Serra. São eles também que reclamam da antecipação do calendário eleitoral pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que investe pesado na campanha da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT). A direção nacional do PT e líderes da legenda em Minas estão preocupados não só com a indefinição do concorrente petista ao Palácio da Liberdade, mas com o clima de guerra entre os dois grupos, explicitada na eleição para a presidência do diretório estadual, vencida pelo deputado federal Reginaldo Lopes.

Cabo eleitoral de Fernando Pimentel, Lopes foi reeleito por pequena margem de votos. Concorrente derrotado e apoiado por Patrus Ananias, o secretário Nacional de Comunicação do PT, Gleber Naime, aposta que o embate apenas começou e apresenta hoje vários recursos à executiva estadual contra a apuração. Segundo Naime, os recursos podem modificar o resultado final. Se não obtiver sucesso na instância estadual, onde detém minoria, Naime pretende recorrer à executiva nacional, da qual é integrante.

Durante os dois turnos da disputa, houve denúncias de fraudes de ambos os lados, e a previsão é de que uma espécie de terceiro turno seja travado até fevereiro, quando o partido faz o congresso nacional para referendar a candidatura presidencial de Dilma e analisar as pendências das eleições estaduais que não tiverem sido resolvidas nem mesmo pela executiva nacional. Apesar de a eleição interna ter sido transformada numa espécie de prévia para indicação do candidato ao governo, a vitória apertada de Lopes não conseguiu eliminar a necessidade da escolha do nome pelo voto dos filiados, o que pode adiar a definição para março.

Panos quentes

Secretário-geral do partido em Minas, o deputado federal Odair Cunha, defensor da pré-candidatura de Patrus, é um dos que têm agido como bombeiro para tentar apagar o incêndio ainda este ano. ¿Os dois turnos mostraram que há um equilíbrio de forças no PT de Minas entre os dois candidatos, Patrus e Pimentel. Cada um conseguiu eleger praticamente a metade do diretório. Não há força hegemônica para impor ou escolher um dos nomes como o melhor candidato ao governo. Enquanto disputamos, o Anastasia está todo dia na minha região anunciando investimentos. Temos que aproveitar o clima natalino para fazer as pazes.¿

Outro que tem pregado o diálogo é o secretário Nacional de Assuntos Institucionais do PT, Romênio Pereira, que apoia Pimentel. ¿Por ser o segundo colégio eleitoral, que será fundamental para conseguirmos eleger a Dilma, não podemos deixar que haja um terceiro turno com a continuidade do enfrentamento dos dois grupos. Precisamos começar a tratar da política de alianças, o que inclui o PMDB e outros partidos da base aliada¿, afirmou.

Enquanto disputamos, o Anastasia está todo dia na minha região anunciando investimentos. Temos que aproveitar o clima natalino para fazer as pazes

Odair Cunha, deputado federal

Por Minas ser fundamental para conseguirmos eleger a ministra Dilma, não podemos deixar que haja um terceiro turno com a continuidade do enfrentamento dos dois grupos

Romênio Pereira, secretário de Assuntos Institucionais do PT

PSDB já está em campo Beto Novaes/EM - 27/10/09 Vice-governador de Minas, Anastasia intensificou as viagens pelo estado

O presidente do PSDB de Minas Gerais, deputado federal Nárcio Rodrigues, nega que o partido esteja comemorando o racha no PT mineiro, mas admite que a situação vivida pela oposição estadual facilita a costura de alianças pelo Palácio da Liberdade. ¿Ninguém joga pensando no erro do adversário. Estamos preocupados em organizar a nossa casa. A nossa convenção mostrou que a nossa unidade não é artificial, todos os grupos estão representados dentro da executiva, o que facilita a conversa com os aliados. Todas as nossas decisões estão tomadas¿, afirmou Rodrigues. Entre os aliados, ele inclui o PMDB, que renovou o comando da legenda em Minas e tem como pré-candidato ao governo o ministro das Comunicações, Hélio Costa.

A convenção estadual do PSDB que elegeu a nova executiva, presidida por Nárcio Rodrigues, na terça-feira, foi transformada em lançamento da candidatura de Anastasia. ¿Hoje é o marco zero de uma grande largada já pensando nas eleições de 2010 no estado¿, enfatizou o governador Aécio Neves, que, a exemplo do que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem feito em relação à campanha presidencial, quer fazer da eleição estadual um plebiscito entre os que aprovam ou não o seu governo.

Aécio convocou a militância tucana a perguntar a cada mineiro no interior se quer a continuidade do projeto desenvolvido no estado nos últimos sete anos. ¿Quero estar em condição de rodar todo o estado, reencontrando meus companheiros e dizendo que não está em jogo uma vitória do PSDB apenas, ou eventualmente a do professor Anastasia. Está em jogo a continuidade de um projeto extremamente exitoso de governo¿, afirmou o governador.

Nárcio Rodrigues concorda que o PT mineiro vive uma indefinição em relação ao candidato que se parece com o dilema vivido pelo PSDB nacionalmente. ¿Por isso, temos insistido que o PSDB precisa de agilidade na definição do candidato a presidente, sendo Aécio ou Serra. Precisamos sinalizar aos possíveis aliados a nossa decisão. Não podemos perder o timing, apresentando um candidato depois das alianças terem sido construídas.¿ Nos últimos meses, Anastasia intensificou o ritmo das viagens ao interior, que começaram no primeiro semestre.

Na segunda-feira, por exemplo, o vice-governador inaugurou em São Gonçalo do Sapucai, no sul de Minas, um conjunto habitacional. No dia seguinte, logo depois da convenção do PSDB, viajou para o norte de Minas, onde recebeu título de cidadão honorário de Matias Cardoso. Na quarta, coube a ele o anúncio da liberação de R$ 100 milhões para investimentos em ações ambientais, por meio de convênios com prefeituras, comitês de bacias hidrográficas e organizações não governamentais em Belo Horizonte. Isso, depois de um fim de semana em que visitou cinco cidades, incluindo a inauguração de uma Unidade Básica de Saúde, em Três Marias, na Região Central, a reunião com prefeitos e lideranças na Associação dos Municípios do Lago de Furnas. (PA)

Temer chia, mas assopra

Daniela Almeida

O presidente da Câmara dos Deputados e do PMDB, Michel Temer (SP), criticou ontem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva por ter recomendado, na semana passada, que o partido elaborasse uma lista com três indicados para o posto de vice na chapa a ser encabeçada pela ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT). ¿Não foi uma fala feliz. Jamais iríamos dizer o que o PT deve ou não fazer. O PMDB é que tem de decidir¿, declarou o deputado ao participar, na Assembleia Legislativa de São Paulo, da convenção que reelegeu o ex-governador Orestes Quércia presidente do diretório estadual da sigla.

¿Aliás, o presidente Lula um dia me disse que eu deveria ser o vice. Respondi muito claramente: `Presidente, vamos fechar a aliança e verificar qual o nome que melhor soma para a candidata¿. Não é preciso fazer uma sugestão ao PMDB dessa natureza, com todo o respeito que tenho pela sua fala e pelas suas posições¿, acrescentou Temer. A reação não é à toa. O deputado dava como certo que seria o vice na chapa de Dilma Rousseff. Com a declaração de Lula, sentiu a vaga ameaçada, ainda mais diante dos rumores sobre o fortalecimento da opção Henrique Meirelles, presidente do Banco Central recém-filiado ao PMDB.

Temer também ficou contrariado porque a ideia da lista tríplice foi ventilada no momento em que ele é investigado por suposto envolvimento em escândalos de corrupção. ¿São três as tendências no partido. Uma é lançar Roberto Requião, governador do Paraná à Presidência. Outra é pleitear uma aliança com a candidata do PT, que é a minha (preferência). E a terceira é apoiar a candidatura de José Serra. Mas a decisão será tomada em convenção nacional em junho¿, disse Temer.

Presidente do diretório paulista, Quércia defende a parceria com os tucanos ou uma candidatura própria ao Palácio do Planalto. Ontem, ele foi reeleito com 597 votos, contra 73 votos do deputado federal Francisco Rossi. O número total de delegados é 750.