Título: Provocação aos tucanos
Autor: Pariz, Tiago
Fonte: Correio Braziliense, 22/12/2009, Política, p. 4

Presidente duvida da desistência de Aécio e da eficácia de chapa puro-sangue do PSDB

Na semana passada, Aécio lançou candidatura ao Senado por Minas

A desistência do governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), da corrida ao Palácio do Planalto em 2010 é vista com ceticismo pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Para o petista, Aécio fez um movimento interno ao anunciar, na semana passada, a saída do páreo e a candidatura ao Senado. Teria agido assim mais para pressionar o governador de São Paulo, José Serra, a decidir sobre seu futuro político do que para acabar com a tensão decorrente da disputa interna no ninho tucano. ¿Não sei se é definitivo ou não, se foi uma forma de pressão ou se foi um gesto para dentro do PSDB¿, disse Lula.

Segundo o presidente, Aécio reagiu a ¿uma força muito grande¿ para a escolha de Serra como candidato. Ele lembrou ainda que terá conversas reservadas com o governador paulista amanhã e com Aécio no ano que vem. O presidente sempre deixou claro preferir uma disputa, no ano que vem, entre a ministra Dilma Rousseff e Serra, que foi ministro da Saúde e do Planejamento na gestão Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). Tal confronto reforçaria a comparação com os oito anos do projeto tucano. Além disso, os governistas temiam que Aécio, caso escolhido concorrente do PSDB, atraísse para sua chapa siglas hoje apalavradas com Dilma. Caso do PMDB, do PTB e do PP.

Assédio Ciente do peso político do governador de Minas, caciques tucanos, comandados por Fernando Henrique, desejam Aécio no posto de vice de Serra. Ontem, num café da manhã com jornalistas credenciados na Presidência da República, Lula tentou minimizar os efeitos de eventual dobradinha caseira do PSDB. ¿Não sei se a chapa puro-sangue é a melhor coisa. É como um time ter dois Tostões, dois Coutinhos ou dois Dirceu Lopes. Não sei se daria certo¿, disse Lula, citando, respectivamente, o centroavante da seleção brasileira tricampeã mundial, o atacante que fez parceria clássica com Pelé e Pepe no Santos e um dos ídolos do Cruzeiro na década de 1970.

O corintiano Lula insistiu em usar metáforas futebolísticas para comentar pesquisas eleitorais que colocam José Serra na dianteira na disputa pela Presidência. O presidente lembrou que, no Campeonato Brasileiro deste ano, o Palmeiras foi considerado favorito, liderou a maior parte do certame, mas o vencedor foi o Flamengo. Coincidência ou não, o governador paulista é torcedor palmeirense. Serra rebateu Lula. Disse ser possível, sim, ter dois craques no mesmo time. ¿Quando o jogador é muito bom, dá para duplicar. Dá-se um jeito de colocar os dois em campo.¿ Questionado se a mesma teoria pode ser aplicada na política, Serra evitou responder: ¿Vamos pensar a respeito¿.

Apelo por Meirelles

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, não concorrerá ao Senado ou ao governo de Goiás nem tem chance de ser vice na chapa presidencial a ser encabeçada pela ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT). Essa, pelo menos, é a vontade externada em público pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ontem, ele disse que deseja ter Meirelles no comando da autoridade monetária até o fim de seu mandato.

¿Se depender de mim, ele fica até 31 de dezembro à meia-noite, que é quando acaba meu mandato¿, afirmou Lula. No fim de setembro, Meirelles assinou a ficha de filiação ao PMDB. Diante da impossibilidade de realizar o sonho de concorrer ao Palácio do Planalto, ele fez um seguro para, se quiser mais adiante, disputar o Senado ou o governo goiano. Caso concorra, deve ser a uma cadeira no Legislativo, já que o partido tende a indicar o prefeito de Goiânia, Íris Resende, para o páreo estadual.

O presidente do BC tem reafirmado que decidirá sobre seu futuro político só em março, quando acaba o prazo para desincompatibilização. Auxiliares de Lula não descartam a possibilidade de Meirelles permanecer na equipe. Entre outros motivos, porque já foi feito um pedido público nesse sentido. No Congresso, no entanto, crescem os boatos de que Meirelles está na disputa para ser o vice de Dilma. Com bom trânsito entre os banqueiros e o setor privado, ele teria condições de desbancar o favoritismo do presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP).

Trunfo O combate à inflação e a estabilidade econômica têm sido pilares das altas taxas de popularidade do presidente e do governo. Por isso, ele não quer surpresa nem solavanco que possa prejudicar sua candidata em 2010. Lula aposta que garantirá a vitória de Dilma quando a população comparar se a vida é melhor de 2003 para cá ou nos oito anos anteriores. Outro trunfo será o próprio crescimento econômico no ano que vem, projetado em pelo menos 5%. Se isso ocorrer, haverá mais consumo, emprego e sensação de bem-estar, o que pode render dividendos nas urnas.

¿É lógico que as pessoas, na campanha, vão analisar a conduta pessoal do candidato e se a vida delas melhorou¿, disse o presidente. Ele também declarou que a ética será um fator importante na avaliação dos eleitores. ¿A ética nunca foi e nunca será na vida pública e na vida privada secundária¿, sustentou. (TP)