Título: Investimento fortalecido
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Fonte: Correio Braziliense, 25/12/2009, Economia, p. 10

Grupos especializados em aplicações direcionadas a um público de elite começam a vir para o Brasil com mais intensidade

Rubenstein, co-fundador do Carlyle Group: Neste momento, não há como ser global sem estar no Brasil

Depois que o Brasil deixou a recessão para trás com mais rapidez do que a maioria dos países relevantes para grandes investidores, os grandes grupos de private equity (PE) começam a fincar raízes na maior economia da América Latina. Nos últimos 20 anos, empresas locais, especialmente a GP Investimentos, conseguiram os melhores negócios, enquanto empresas globais como General Atlantic, TPG Capital e Carlyle Group optaram por fazer transações em momentos específicos e envolvendo participações minoritárias. Isso está mudando.

¿Neste momento, não há como ser global sem estar no Brasil¿, diz o co-fundador do Carlyle Group, David Rubenstein. ¿Em private equity, você só faz dinheiro onde a economia cresce, e esse é o caso do Brasil¿, justifica. Aquisições alavancadas, que durante muitos anos garantiram o crescimento da indústria de private equity, praticamente evaporaram com o colapso do acesso a financiamentos no final do ano passado. O revés deve acelerar o movimento da indústria de private equity em direção ao Brasil, afirma o chefe de pesquisa de PE da Fundação Getúlio Vargas (FGV) em São Paulo, Claudio Furtado.

O Brasil representa metade do Produto Interno Bruto (PIB) da América Latina e 45% dos investimentos em private equity na região, de acordo com dados da Associação de PE em Mercados Emergentes. ¿(Os grupos internacionais) estão vindo mais por necessidade do que por um afeição pessoal e profissional pelo Brasil¿, avalia Furtado. As oportunidades passam por setores ligados ao consumo interno e indústria, com empresas menos endividadas, diz o diretor-geral da firma de private equity Paul Capital Partners em São Paulo, Duncan Littlejohn.

O Carlyle, com sede nos Estados Unidos, pode pagar cerca de US$ 250 milhões por uma fatia de 60% na CVC Turismo, observa uma fonte. Para Littlejohn, projetos de turismo podem atrair investimentos de private equity para ajudar o Brasil a realizar as obras necessárias à Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016. Outros alvos incluem centenas de projetos de infra-estrutura listados no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou recentemente o responsável pela área de investimentos da Previ, maior fundo de pensão do Brasil, Fabio Moser.

O Brasil oferece a fundos globais de private equity menos competição, elevados retornos e um mercado de capitais desenvolvido que torna mais fácil as ofertas iniciais de ações (IPO, na sigla em inglês) de empresas. Enquanto os investimentos via private equity nos EUA representaram 1,4% da economia do país no ano passado, no Brasil ficou em menos de 0,2%, de acordo com a associação de private equity de emergentes.

Os IPOs, que representam a principal forma de saída de uma empresa pelos grupos de PE, estão em plena atividade no Brasil ¿ depois de o mercado ter ficado totalmente fechado em parte de 2008. Neste ano, dois dos maiores IPOs do mundo ocorreram no Brasil. Em junho, o sul-africano Standard Bank iniciou uma unidade de private equity no Brasil, com foco em bens de consumo, varejo, logística e varejo. Neste mês, seu time de cinco banqueiros, liderados pelo veterano da indústria Marcelo Di Lorenzo, colocou US$ 45 milhões de dólares para assumir o controle da Casa do Pão de Queijo. ¿Você tem no Brasil um ambiente macroeconômico bom, uma economia diversificada, tem alternativas de saída e tem escala¿, avalia Di Lorenzo, ex-executivo de private equity no Merrill Lynch.

Mas os tamanhos dos acordos provavelmente serão bastante menores que os fechados lá fora por grupos de PE como o Blackstone Group. ¿Há espaço para negócios, mas não para megaoperações¿, afirma Littlejohn, da Paul Capital Partners. O aumento da presença de grupos internacionais de private equity são uma ameaça para grupos como a GP Investimentos, que possui um forte histórico de transações bem-sucedidas, experiência e conexões que são fundamentais na hora de obter recursos junto a investidores. ¿Levantar dinheiro para um fundo de private equity sem ter um histórico de atuação é difícil mesmo para um Carlyle¿, observa Di Lorenzo. A GP é como um armazém de banqueiros de talento, e muitos de seus ex-membros estão agora no comando de grandes empresas. A GP, co-chefiada pelos ícones do mercado Fersen Lambranho e Antonio Bonchristiano, já saiu com êxito de mais de 30 investimentos, incluindo os IPOs da incorporadora Gafisa, da empresa de shopping centers BRMalls e do grupo de bens de consumo Hypermarcas.

Fechados Termo relacionado ao tipo de capital empregado nos fundos que, em sua maioria, são constituídos em acordos contratuais privados entre investidores e gestores, não sendo oferecidos abertamente no mercado e sim através de colocação privada. As empresas tipicamente receptoras desse tipo de investimento ainda não estão no estágio de acesso ao mercado público de capitais, ou seja, não são de capital aberto, tendo composição acionária normalmente em estrutura fechada.

Ofertas Os IPOs (Ofertas Públicas Iniciais de Ações) são as negociações de ações nas quais os recursos são captados diretamente pelas empresas junto a investidores em bolsas de valores. Os recursos servem para viabilizar a expansão da produção, bancar a compra de uma companhia. Trata-se de um capital obtido de forma barata (compare com o pagamento de juros de 1% a 4% ao mês), pois a empresa passa a ter novos acionistas e não credores.