Título: Concorrência impõe novos desafios à Vale
Autor:
Fonte: Correio Braziliense, 29/12/2009, Economia, p. 11

MINERAÇÃO

Associação entre a BHP e a Rio Tinto movimenta o mercado mundial

A Vale deve enfrentar maior competição no longo prazo depois que a BHP e a Rio Tinto confirmaram a intenção de formar uma joint venture operacional que pode levar a projetos mais ambiciosos e de custos menores, beneficiados pela sinergia entre as duas companhias. Segundo especialistas, a parceria entre as duas gigantes da mineração tende a ajudar mineradoras a conseguirem preços mais elevados para o minério de ferro, já que o setor estará mais consolidado para enfrentar as duras negociações com seus clientes.

¿No curto prazo não deve afetar muito, porque a joint venture será concluída só no ano que vem, mas no longo prazo você cria um poder de barganha muito maior¿, avaliou Alexandre Miguel, analista do Itaú. Segundo ele, em relação aos clientes asiáticos ¿ os maiores demandantes da matéria-prima do aço ¿, as empresas australianas já ganham vantagem sobre a Vale por causa do frete e agora terão a seu favor também a sinergia para realizar projetos de expansão com economia de escala.

A BHP e a Rio Tinto anunciaram no sábado passado a concretização da nova empresa, que deverá economizar pelo menos US$ 10 bilhões por ano em despesas operacionais e de capital. Alvo ainda de avaliações sobre concentração de mercado, a associação formaria uma companhia com capacidade de produção de 350 milhões de toneladas, superando a capacidade atual de cerca de 300 milhões de toneladas da Vale. ¿É uma forma de ganhar corpo nas negociações com os clientes para o preço do minério, que começam agora¿, destacou Pedro Galdi, analista da corretora SLW.

Prevendo a volta da demanda de mercados atingidos pela crise em 2008 e 2009, como União Europeia e Japão, Galdi estima que a Vale terá a vantagem de já ter projetos em andamento. ¿Não sei como a Vale vai se comportar, mas já vem investindo pesado para aumentar rapidamente a produção e não deve ser muito afetada¿, completou. Para a analista Cristiane Viana, da Ágora, ainda é cedo para avaliar o impacto na mineradora brasileira. ¿Vai depender do processo de crescimento que será adotado pela joint venture, a estratégia. Mesmo juntas elas podem ser menores do que os planos da Vale, que projeta 450 milhões de toneladas para 2014¿, observou.

Sondagem

No quesito preço, porém, depois de passar 2009 tentando fechar sem sucesso acordos com as principais siderúrgicas chinesas, o fortalecimento das duas companhias pode beneficiar o setor como um todo. Nas sondagens iniciais, mineradoras querem aumento entre 30% e 35% para o minério de ferro, e as siderúrgicas chinesas falam em alta de 10% depois de terem desconto em torno de 30% neste ano. ¿Por esses números, o mercado está falando em algo em torno de 20% de aumento, mas ainda não dá para prever¿, explicou Galdi, que trabalha no momento com alta de 8% para o minério de ferro em 2010, mas já prevê revisão até o final deste ano para cima, como a maioria dos analistas.

Na avaliação de Galdi, a China novamente será o centro da discussão, mas, ao contrário do que ocorreu em 2009, a tendência é que o gigante asiático concorde de alguma maneira com contratos de longo prazo. ¿Mas devem fazer um misto, juntando longo prazo e `spot¿, ou mudar para semestral em vez de anual¿, lembrou Galdi. As siderúrgicas chinesas tiveram que recorrer ao mercado à vista pagando mais do que se optassem pelo preço de referência de mercado fechado na Europa e no Japão.

Cenário positivo

A tendência para os preços do minério de ferro em 2010 é de alta, mas ainda é cedo para avaliar o percentual que será obtido junto às siderúrgicas, explicou ontem o presidente da Vale, Roger Agnelli. ¿Acho que vai ser um ano positivo e existe tendência de alta no preço do minério, mas o quanto eu não sei¿, disse o executivo. Segundo ele, será necessário aguardar um pouco mais para que mais informações sobre o estágio da indústria fiquem disponíveis e sirvam de base para a rodada de negociação com as siderúrgicas.