Título: Operação de retorno
Autor:
Fonte: Correio Braziliense, 31/12/2009, Mundo, p. 15

Cargueiro da FAB chega a Paramaribo com UTI para resgatar vítimas de ataque

Um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) chegou ontem a Paramaribo, capital do Suriname, para trazer de volta pelo menos 33 brasileiros que estavam em Albina, a 150km dali, e sobreviveram na véspera de Natal a um ataque de ¿marrons¿, como são conhecidos os quilombolas locais, contra um acampamento de garimpeiros estrangeiros em situação irregular. Inicialmente, a embaixada brasileira estimava que 20 cidadãos seriam repatriados, mas o número aumentou ao longo do dia. Cerca de 80 brasileiros estão hospedados provisoriamente em hotéis na capital surinamesa. O Ministério das Relações Exteriores, que coordena a operação, esclareceu que serão repatriados ¿todos os que desejarem¿, e informou que a expectativa era de que o avião retornasse ainda ontem ao país, com destino a Belém (PA).

O Hércules C-130A, uma aeronave de transporte, está equipado com uma Unidade de Terapia Intensiva e levou uma equipe de médicos, enfermeiros e auxiliares para atender aos feridos, explicou o major Mauro Henrique Monsanto, comandante do voo, em entrevista à Agência Brasil. Esse foi o segundo avião enviado pela FAB ao Suriname. O primeiro viajou na segunda-feira, quatro dias depois do ataque. Desta vez, viajaram com o grupo um diplomata especializado em assuntos consulares e uma assistente social da Secretaria Especial de Políticas para a Mulher. Nos últimos dias, várias brasileiras que fugiram de Albina relataram ter sido vítimas de violência sexual. Segundo o embaixador do Brasil, José Luiz Machado e Costa, já foram confirmadas pelo menos duas das 19 denúncias formais.

O grupo de vítimas que deve retornar ao Brasil inclui cinco feridos que até ontem estavam internados em um dos hospitais de Paramaribo ¿ dois deles em estado grave, mas sem risco de morte. Um dos pacientes poderá ser submetido a cirurgia para amputação de um braço. Em nota, o Itamaraty informou que ainda não há confirmação oficial de nenhuma morte. O comunicado salienta, porém, que os brasileiros que trabalham nos garimpos do interior do Suriname e da Guiana Francesa podem passar semanas na floresta, sem qualquer comunicação. ¿Por esse motivo, é necessário aguardar antes de considerar `desaparecido¿ qualquer desses cidadãos.¿

Clima de medo A chanceler do Suriname, Lygia Kraag, declarou que seu governo está tomando as providencias necessárias para que não venha a ocorrer outro ataque semelhante. As investigações realizadas até aqui indicam que os agressores queriam vingar o assassinato de um habitante local, cometido por um brasileiro. Para isso, atacaram o acampamento, destruíram a infraestrutura e expulsaram todos os estrangeiros radicados em Albina. Embora alguns tenham manifestado disposição de retornar ao garimpo e retomar as atividades, os próprios policiais surinameses em serviço na região desaconselham a presença de brasileiros e alegam que não têm condições de garantir a sua segurança, em caso de novo ataque dos ¿marrons¿.