Título: Dinheiro, meu dinheirinho
Autor: Verdini, Liana
Fonte: Correio Braziliense, 01/01/2010, Economia, p. 9

Microcrédito a juros baixos turbina a economia real, melhora a renda e abre novas oportunidades ao empreendedor de pequeno porte

O microcrédito está mudando a realidade de muitos brasileiros. Estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV) constatou que, ao ter acesso a pequenos volumes de dinheiro pagando juros baixos, os microempreendedores conseguem alavancar seus negócios, melhorar o padrão de renda e ganhar qualidade de vida. Segundo Marcelo Neri, chefe do Centro de Políticas Sociais do Instituto Brasileiro de Economia da FGV, o trabalho, em sua terceira atualização, mostra aumento do consumo familiar da ordem de 15%, com redução de outras fontes de renda. E mais: 60,8% dos tomadores de microcrédito que estavam abaixo da linha de pobreza (até R$ 117 de renda mensal) saíram desta condição.

Tudo porque estes empreendedores tiveram crescimento do lucro operacional de seus nanonegócios da ordem de 30,7%. O lucro bruto aumentou cerca de 35,1%. E o retorno sobre o investimento realizado evoluiu de 4,4% para 4,8%. Além disso, a pesquisa conclui que há um incremento do ativo total de um cliente ¿ isto é, tudo o que o empreendimento possui em termos de bens e direitos ¿ em média, de 18,1%. Fortalecer o ativo é importante para diminuir a ¿sua suscetibilidade aos choques externos¿, explica o trabalho que analisou profundamente o Crediamigo, programa do Banco do Nordeste do Brasil (BNB) e detentor de mais de dois terços do mercado doméstico de crédito produtivo popular.

¿Os ganhos são muitos¿, reconheceu Marcelo Teixeira, gerente do Ambiente de Microfinança Urbana/Crediamigo do Banco do Nordeste. ¿Como estamos focados no atendimento aos que realmente necessitam, geramos inserção social e promovemos a saída da condição de pobreza¿. E, para mostrar que o programa de fato atende aos brasileiros de baixa renda, Teixeira contou que dos cerca de 500 mil clientes ativos, 50% são beneficiários do programa Bolsa Família. ¿O Crediamigo pode ser a porta de saída deste programa, induzindo este público a ficar mais independente¿. Para Teixeira, ¿o microcrédito produtivo aliado à educação tem poder de retirar as pessoas da pobreza¿.

História ¿Este programa me ajudou a melhorar de vida sim¿, contou o comerciante Jorge Simões da Silva, 46 anos, dono do Quiosque do Jorjão, no Riacho Fundo 2. Participante do Crediamigo há mais de dois anos, o microempresário conheceu o programa por intermédio de um amigo. ¿Meu primeiro empréstimo foi de R$ 1 mil. Agora, tomei um outro de R$ 8.700¿, disse. O recurso vai direto para compra de estoque e melhoria na infraestrutura de seu quiosque. ¿Se eu tenho capital de giro, eu tenho como comprar com desconto e vender mais barato. Assim, eu tenho mais clientes e vendo mais¿. Casado, com três filhos e uma ex-mulher, Silva trabalha no Quiosque do Jorjão de segunda a segunda, das 8h às 22h. ¿Mas no domingo eu fecho às 14h, que é pra descansar, né?¿ Luxo a que ele pode se dar agora porque ¿a vida está melhor¿, como ele mesmo diz.

E não está mentindo. De acordo com o estudo, há um ganho entre 11 e 14 pontos percentuais no lucro do empreendimento por ano de permanência adicional no Crediamigo, que atua em todos os estados do Nordeste, norte de Minas Gerais, norte do Espírito Santo e no Distrito Federal. Os bons resultados levaram o programa para a cidade do Rio de Janeiro este ano, iniciando suas operações em comunidades de baixa renda como Rocinha, Maré e Rio das Pedras. A expectativa para o próximo ano é que se expanda para outros municípios do estado do Rio e chegue até Vitória, no Espírito Santo.

O objetivo é melhorar a condição de vida dos microempreendedores. De acordo com a pesquisa, a probabilidade de ascensão dos clientes do Crediamigo que estão na classe E para outras é de 54,72%, contra 38,82% dos microempresários em geral. Já de quem está na classe D, a possibilidade de ascensão é de 36,92% dos clientes, contra 34,03% na mesma comparação. E da classe C é de 9,95% entre os do Crediamigo contra 7,55% do restante. Pelo estudo, o ganho dos clientes do programa é maior quanto menor for a renda inicial. ¿O que estamos vendo é o resultado de uma gota no balde, isto é, a consequência de abrir o crédito a uma parcela muito pequena da população. Imagine se este dispositivo fosse posto à disposição de todos que precisassem. É essa reflexão sobre a falta de crédito que precisa ser feita no Brasil¿, concluiu Marcelo Neri.