Título: Aposta certa e flexível
Autor:
Fonte: Correio Braziliense, 03/01/2010, Trabalho & formação profissional, p. 1

Na tentativa de aumentar o número de profissionais pós-graduados, MEC normatiza o mestrado profissional

Marcelo Ferreira/CB/D.A Press Formado em direito e administração, Ricardo Guedes busca novas alternativas profissionais e fará o curso de negócios esportivos, de olho no mercado que será aberto com a Copa de 2014

Não é mais segredo que, diante de um mercado exigente e desafiador, a graduação tornou-se ferramenta essencial no currículo de qualquer profissional. Tanto que ela não é diferencial para aqueles que pretendem ir além. Dessa forma, a escolha certa por uma pós-graduação pode ser decisiva na carreira, e não faltam estilos, tipos e modelos disponíveis no mercado: das acadêmicas às de ensino a distância, todas com promessa de destaque para quem as tiver como referência.

Com o intuito de normatizar o leque de opções das pós existentes no mercado e abrir as possibilidades strictu sensu (veja quadro), o Ministério da Educação divulgou, em junho do ano passado, uma portaria que regulamenta a atividade de mestrado profissional, isto é, uma pós-graduação com carga horária mais flexível e com características diferentes das tradicionais acadêmicas. A modalidade existe no Brasil desde a década de 1990, mas só agora passa a ter regras sistematizadas.

Segundo a portaria, quem optar por essa alternativa poderá apresentar trabalhos de conclusão final com formatos distintos, como dissertação e produtos como um software, por exemplo. Além disso, os professores não precisam, necessariamente, ser doutores, podendo ser profissionais e técnicos com experiência em pesquisa aplicada e mercado. ¿Oscar Niemeyer e Lucio Costa não são doutores, mas, quando você olha Brasília, vê que eles deveriam ser professores e passar o conhecimento que têm¿, defende Lívio Amaral, diretor de avaliação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

Hoje, são mais de 2.800 mestrados, sendo que menos de 300 são profissionais. ¿A normatização é mais que política, é necessidade. Precisamos formar quadros para trabalhar em todos os setores, além da academia¿, explica o diretor Lívio. Com a portaria, o governo pretende não só aumentar a quantidade de mestrados profissionais, como elevar a ínfima participação de pós-graduados stricto sensu no mercado. De acordo com levantamento feito pelo Ministério de Ciência e Tecnologia, apenas 2% dos mais 200 mil mestres e doutores existentes no Brasil estão trabalhando em empresas.

¿O mestrado profissional fica no meio termo entre o MBA e as pós acadêmicas¿, define Edson Crescitelli, diretor acadêmico da pós-graduação da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). Dessa maneira, o público desse tipo de mestrado é composto por profissionais com o perfil não acadêmico, mas que ambicionam mais que um MBA ou especialização. ¿O mestrado executivo acaba sendo mais profundo que o lato sensu¿, informa Marlos Lima, economista e consultor pela Fundação Getulio Vargas.

Apesar da tentativa de popularizar as pós-graduações stricto sensu, alguns setores da academia têm preocupações quanto à ligação entre empresas e academia. ¿Existem alguns setores que têm preconceito com o mestrado profissional, mas ele ser mais flexível não significa que a qualidade será ruim¿, justifica Lívio da Capes. Para Edson, a chegada do mestrado profissional vai trazer mão de obra qualificada para todos os setores da sociedade, por isso a sua importância. ¿Eu não consigo imaginar que esse mestrado seja só para incrementar os números ou para fornecer mão de obra para empresa, eu vejo como a tentativa de melhorar as pessoas que vão exercer funções diversas e, com isso, melhorar a qualidade do país¿.

A Universidade de Brasília e a Universidade Católica de Brasília possuem esse tipo de mestrado em diversas áreas, como saúde, economia e turismo.

Preferidos pelas empresas A rotina pesada de estudos, a dedicação que uma pós acadêmica exige, os turnos diurnos de aulas, a alta remuneração pretendida após a conquista da titulação, e a possibilidade de ir para a concorrência são características que afastam das cadeiras universitárias profissionais com foco em mercado. Por isso, quem trabalha não tem tempo, nem disposição, nem interesse de se aventurar por uma pós estritamente acadêmica. Inclusive, ela não é essencial para as empresas, que querem profissionais competentes e qualificados, não importando o tipo de capacitação. Por isso, os MBAs e as especializações são bem-vindas no ambiente corporativo. ¿A empresa não tem preconceito com mestrado ou doutorado, ela quer um funcionário capacitado e que não deixe de trabalhar para fazê-lo¿, analisa o diretor Edson da ESPM.

Ricardo Guedes, 33 anos, é do tipo focado nas tendências do mercado. O brasiliense já se graduou em direito e administração e busca sua terceira especialização. Agora, do escritório onde trabalha vislumbra os campos de futebol e os ginásios, de olho na Copa de 2014 e nas Olimpíadas de 2016. Por isso, resolveu se adiantar, fazendo, com antecedência, o curso de negócios esportivos. ¿Fico igual um doido na internet procurando possibilidades de pós-graduação para eu fazer, porque a concorrência está cada vez mais difícil¿, conta. Por sua experiência em mercado, percebeu que as opções acadêmicas não são tão valorizadas; por isso, prefere fazer várias pós a tentar um mestrado. ¿Nunca pensei em fazer mestrado, nem esse profissional¿, diz.

O quesito profissional ainda não existe no doutorado; apenas no mestrado.

Escolher pós exige critério

Estudantes graduados devem definir seus objetivos profissionais antes de optar por algum dos cursos oferecidos pelo mercado Monique Renne/CB/D.A Press - 22/9/09 Antes mesmo de terminar a graduação, estudantes universitários planejam o curso de pós-graduação

O canudo com o diploma da graduação ainda não completou o seu primeiro aniversário, mas a maioria dos recém-formados já está de olho em qual pós fazer. Na hora de escolher, diferentes variáveis devem ser levadas em consideração.

O primeiro é o perfil pessoal, se mais ligado à acadêmica, o correto é se enveredar pelos caminhos do mestrado e do doutorado; caso contrário, é bom começar com as especializações. ¿O profissional tem que colocar na cabeça que o ambiente acadêmico é diferente do mercado, onde o que prevalece são pesquisas, estudos, conceitos¿, acredita Edson Crescitelli, diretor acadêmico da pós-graduação da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM).

O tipo de área também deve ser ponderado. Profissionais de campos como saúde, biologia, história, física e química, por exemplo, têm na academia um respaldo crucial no currículo. Já em áreas como administração, direito, marketing e gestão, o aconselhável é começar por um MBA. ¿Começando com uma especialização, a pessoa vai saber se tem aptidão acadêmica e se quer continuar estudando¿, analisa Marlos Lima, economista e consultor pela Fundação Getulio Vargas.

O perfil de mercado ou acadêmico é crucial na escolha correta por uma pós. Quem está no mercado, pode, a princípio, buscar uma especialização, porque as empresas não têm diferenciações quanto ao tipo de pós realizada. Assim, ele terá mais tempo para se dedicar à empresa. É natural funcionários de uma empresa terem, no mínimo, dois MBAs, sendo que, pelo menos um foi feito a distância.

¿Nas pequenas e médias empresas o número de pós-graduados tem crescido bastante graças às facilidades das pós e à acirrada concorrência¿, constata Marlos. Ricardo Guedes, 33 anos, ao fazer uma pós, busca além do que a empresa precisa, sua ideia é estar em consonância com o mercado para estar sempre preparado a enfrentá-lo. ¿A empresa fornece gratificação a cada pós, mas atualmente eu almejo mais¿, planeja o brasiliense que se prepara para o exigente mercado da cidade. ¿Pós é fundamental na capital; aqui é um polo de negócios¿, diz Marlos.

Tipos de pós-graduação e suas diferenças

No Brasil existem dois tipos de pós-graduação 1.Latu sensu: conhecida como especialização ou MBA, ela designa todo e qualquer curso que segue depois da graduação. Normalmente os cursos de especialização têm objetivo técnico profissional específico, isto é, a meta é o domínio científico e técnico de uma certa e limitada área do saber ou da profissão, para formar o profissional especializado. A menor duração e o caráter prático fazem dessa modalidade a mais requisitada em empresas.

2. Stricto sensu: são as formações acadêmicas subdivididas em dois ciclos: o mestrado e o doutorado. A diferença entre os dois se dá quanto ao grau de profundidade dedicado à pesquisa. Embora representem um escalonamento na pós, esses cursos podem ser considerados relativamente autônomos. Isto é, o mestrado não constitui obrigatoriamente requisito para inscrição em um curso de doutorado.

A pós-graduação stricto sensu confere grau acadêmico, e a especialização concede certificado. A Capes lida, exclusivamente, com pós-graduação stricto sensu. Todas as informações sobre pós-graduação lato sensu são de competência da Secretaria de Educação Superior do MEC.