Título: Amorim: Às vezes, o barato sai caro
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Fonte: Correio Braziliense, 08/01/2010, Mundo, p. 17

Em visita a Paris, chanceler insiste que escolha será de Lula, que prefere o avião francês

O ministro brasileiro das Relações Exteriores, Celso Amorim, reiterou ontem que a decisão final sobre a compra de 36 caças para a Força Aérea Brasileira (FAB) será estratégica e política. Em visita a Paris, Amorim destacou que os dados técnicos, apesar de importantes, não serão determinantes para a escolha. ¿Caberá ao presidente, que lidera o país politicamente, tomar a decisão, levando em conta todos os dados, técnicos e outros¿, esclareceu. ¿Às vezes, os técnicos dão uma impressão que vai num sentido e muitas vezes o barato sai caro¿, acrescentou o chanceler, em referência à proposta sueca, a de menor preço.

No início da semana, vazou para a imprensa o teor do parecer técnico da FAB sobre as propostas, e o concorrente francês, o Rafale, foi considerado o pior dos três finalistas, atrás (pela ordem) do sueco Gripen NG e do americano F-18 Super Hornet. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da Defesa, Nelson Jobim, já declararam preferência pelo Rafale, inclusive em nome da parceria estratégica(1) com a França. As declarações de Amorim, feitas à saída de um evento no qual discursou o presidente Nicolas Sarkozy, foram questionadas no Senado. O presidente da Comissão de Relações Exteriores, Eduardo Azeredo (PSDB-MG), pretende pedir mais explicações ao ministro da Defesa.

O diretor da Saab no Brasil, Bengt Janer, disse ao Correio que não sabe o motivo da aparente desconfiança no Gripen NG. ¿Estamos propondo tudo que é preciso para ter um produto pronto, entregue dentro do prazo estipulado pela FAB. Então, o risco é nosso. Há um preço fixo para o projeto, e tudo que oferecemos está incluído na proposta¿, afirmou. Janer lembrou que o ministro sueco da Defesa, Sten Tolg-fors, e seu vice, Hakan Jevrell, quando estiveram no Brasil, reforçaram ao governo o compromisso da Saab de ¿entregar o produto certo, no prazo certo e com o preço certo¿. ¿Nós temos experiência de mais de 4 mil aeronaves produzidas, então não sabemos o que motiva essa declaração¿, declarou o executivo.

Já a Dassault, fabricante do Rafale, mantém a confiança de que fechará o negócio. ¿No momento, não há pedido do Brasil, não nos informaram nada em especial, não sei de nada, mas todas as esperanças seguem vivas, disse Serge Dassault, principal acionista da empresa, à rádio francesa Classique.

Explicações A Comissão de Relações Exteriores do Senado pretende cobrar mais explicações do ministro Nelson Jobim sobre a compra dos caças. O senador Renato Casagrande (PSB-ES) entregou ao presidente da comissão, Eduardo Azeredo (PSDB-MG), um pedido para que Jobim apresente o relatório técnico da FAB sobre os concorrentes.

Azeredo afirmou ao Correio que pretende ter uma reunião com o ministro ou chamá-lo para prestar esclarecimentos à comissão no início de fevereiro. O senador ressaltou, ainda, a necessidade de o governo decidir logo qual será o caça comprado para o programa F-X2, uma vez que a demora na escolha passaria uma imagem de insegurança. ¿Os outros países começam a se questionar sobre a demora. Se o relatório está pronto, o que impede a decisão?¿, indagou.

Azeredo mostrou-se contrário às declarações de Amorim sobre o caráter político da decisão final sobre os novos aviões. ¿O fator técnico e o financeiro são os mais importantes. O fator político também conta, mas a questão da transferência de tecnologia, que é primordial, está dentro da avaliação técnico-estratégica argumentou. Para o congressista, o correto seria ¿respeitar a decisão da FAB¿.

1 - Voto de confiança Falando a um seminário empresarial em Paris, o presidente da França, Nicolas Sarkozy, citou o nome do Brasil sete vezes e defendeu o pronto ingresso do país como membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas. ¿É indispensável, para resolver várias questões mundiais, que o Brasil e a Índia, por exemplo, estejam presentes (no conselho)¿, disse Sarkozy a uma audiência na qual se encontrava o chanceler brasileiro, Celso Amorim. O chefe de Estado defendeu a ampliação do organismo no marco de uma reforma geral das Nações Unidas, que, na sua avaliação, deve ser conduzida ainda neste ano.