Título: Vítimas apoiam a presidenta
Autor: Vaz, Viviane
Fonte: Correio Braziliense, 08/01/2010, Mundo, p. 17

Mães e avós de crianças sequestradas pela ditadura militar argentina reuniram-se ontem à tarde na Praça de Maio para celebrar o decreto pelo qual a presidenta Cristina Kirchner agilizou a abertura de toda ¿a informação e documentação vinculada às ações das Forças Armadas¿ entre 1976 e 1983. ¿Obviamente, vemos com bons olhos o que tem sido feito pela presidenta para facilitar as investigações do que ocorreu durante aquele período¿, disse ao Correio, por telefone, a avó Buscarita Roa, de 70 anos. Ela perdeu o filho e a nora, mortos pelos órgãos de segurança. A neta, que era um bebê de oito meses em 1978, foi entregue pelos militares a outra família.

A história de Buscarita, apesar de muitas páginas de desespero e tristeza, teve um final feliz. No ano 2000, depois de se unir ao grupo das Avós da Praça de Maio, Buscarita conseguiu encontrar a neta, Claudia Poblete. A moça foi a primeira a comparecer perante um tribunal que puniu seus apropriadores, o coronel Zeferino Landa e Mercedes Beatriz Moreira. ¿O encontro com minha neta foi muito lindo, graças a Deus¿, conta Buscarita. Quando Claudia viu a avó pela primeira vez, já tinha 22 anos. ¿Levamos cinco anos para construir uma relação verdadeira de avó e neta¿, revela Buscarita.

A Associação de Mães da Praça de Maio já tinha realizado em dezembro uma marcha de apoio à presidenta, ameaçada quando voava em um helicóptero de sua residência para a Casa Rosada. No mesmo dia, militares eram julgados em Buenos Aires por crimes contra os direitos humanos. O ex-capitão da Marinha Alfredo Astiz, conhecido como ¿Anjo da Morte¿, processado com mais 18 militares, amparou-se no segredo de Estado para não dar informações sobre o desaparecimento de duas freiras francesas, em 1977. O novo decreto de Cristina surgiu como resposta à solicitação de um juiz federal de La Plata, capital da província de Buenos Aires, liberando dados considerados então ¿secretos¿.

Apesar da recepção favorável às iniciativas do governo, o decreto não será suficiente para revelar todos os segredos da ditadura. O subsecretário de Direitos Humanos, Luis Alén, esclareceu que ¿não são os arquivos que todo mundo espera ver¿. O material liberado não inclui a lista dos desaparecidos, a data em que foram sequestrados e os lugares onde foram ocultados os corpos ¿ dados que se supõe que tenham sido destruídos pelos militares antes de abandonar o poder.

¿Eles (os militares) teriam que entregar esses documentos, mas dizem que não há nenhum arquivo¿, explica Buscarita. Para a avó da Praça de Maio, os decretos representam um grande avanço, mas não dispensam a colaboração dos militares da ativa. Ela acredita que muitos têm vontade de ajudar nas investigações, mas não têm poder para isso. ¿Vamos continuar com as buscas e ajudar outras famílias¿, prometeu Buscarita.

Eles (os militares) teriam que entregar esses documentos, mas dizem que não há nenhum arquivo¿