Título: Álcool e gasolina sobem
Autor: Amorim, Diego
Fonte: Correio Braziliense, 11/01/2010, Economia, p. 9

Seu bolso

Distribuidoras decidem repassar ao consumidor o reajuste no valor dos combustíveis. Novos preços estarão em todas as bombas até amanhã

O preço dos combustíveis nos postos do Distrito Federal vai aumentar de novo a partir de hoje. O presidente da Rede Gasol, Antônio Matias, informou que o litro do álcool passará de R$ 2,10 para R$ 2,23, e o da gasolina, de R$ 2,74 para R$ 2,78. A Gasol controla um terço do mercado e influencia na tabela das demais redes. Existem cerca de 300 postos no DF.

Segundo Matias, até amanhã, o reajuste estará nas bombas de todos os postos da rede. ¿O que ainda tivermos do estoque antigo será vendido pelo valor anterior¿, esclareceu. O aumento representa um reajuste de 6,19% no litro do álcool, e de 1,45% no da gasolina. O etanol já havia aumentado R$ 0,11 na primeira semana do ano. ¿Esse preço está completamente fora da realidade. Se continuar assim, o álcool passará a custar o mesmo que a gasolina¿, comentou Matias.

Para justificar o novo aumento, o empresário reforçou o teor de uma nota divulgada à imprensa no fim de semana pelo Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis Automotivos e de Lubrificantes (Sinpetro-DF). No texto, o presidente da entidade, José Carlos Ulhôa, informa que a BR Distribuidora repassou aos postos, desde o último sábado, R$ 0,04 de aumento no preço do litro da gasolina. No caso do álcool, completou Matias, esse repasse foi de R$ 0,13.

De acordo com a nota oficial do sindicato, a BR Distribuidora ¿ que abastece a maioria dos postos do DF ¿ credita o aumento à majoração de 11,04% do álcool anidro que é misturado à gasolina. Ulhôa voltou a culpar o governo federal pela ¿falta de uma política para o etanol¿ e adiantou que, se nada for feito, o mercado e os consumidores continuarão sendo surpreendidos por ¿oscilações de preços injustificáveis¿.

Na avaliação do presidente do Sinpetro-DF, os novos preços cobrados pela BR Distribuidora são reflexo da possibilidade de a proporção de etanol adicionado à gasolina cair de 25% para 20%, como pretende o governo.

¿As distribuidoras estão se adiantando. Quando diminui esse percentual, o custo aumenta, porque a gasolina é mais cara¿, observou Ulhôa. Mais do que nunca, o país sofre o grave risco de ficar sem abastecimento de álcool, completou.

Mais do que nunca, o país sofre o grave risco de ficar sem abastecimento de álcool¿

José Carlos Ulhôa, presidente do Sinpetro-DF

Preço do etanol pode aumentar mais

Luciano Pires

A disparada do álcool combustível nas primeiras semanas do ano elevou a patamares recordes os preços médios nas bombas de todo o país. Desde 2002, o consumidor não pagava tão caro para encher o tanque em um mês de janeiro. Abastecer é vantajoso apenas em seis estados brasileiros. Como a entressafra da cana-de-açúcar só termina em abril, a tendência de alta ainda não atingiu o pico.

Para evitar um colapso, o governo prepara medidas que garantam a estabilidade dos preços e a plena oferta do produto ao consumidor até o início da próxima colheita.

De novembro ¿ quando as usinas pararam de moer ¿ até agora, o etanol já subiu, em média, 8,25% em todo o Brasil (R$ 0,15 a mais por litro). O excesso de chuvas, as dificuldades na distribuição em algumas regiões e a preferência dos empresários por produzir açúcar ajudam a explicar essa valorização.

Com medo de que o céu seja o limite, o Conselho Interministerial do Açúcar e do Álcool (Cima), formado pelos ministérios de Minas e Energia, Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Agricultura e Fazenda, deverá decidir hoje pela redução de 25% para 20% da mistura de álcool anidro por litro de gasolina.

A solução de emergência é recorrente em tempos de crise, mas seus efeitos são paliativos. Baixar adição de álcool influencia o preço da gasolina, que pode aumentar. Além disso, justificam os usineiros, a mudança na composição resultaria em uma oferta adicional de 100 milhões de litros de etanol por mês ¿ volume inferior a 10% da demanda mensal. O efeito sobre uma provável redução dos preços ao consumidor também é questionado pelo setor sucroalcooleiro(1).

O ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, disse na semana passada que resolver o problema é prioridade do governo neste momento. Segundo ele, a modificação na mistura deverá minimizar os impactos negativos da entressafra. Stephanes foi quem primeiro levou a sugestão de baixar a mistura de álcool na gasolina ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A alteração terá de vir por meio de decreto. Lula convocou o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, para uma reunião na tarde de hoje.

Estoques baixos

A União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica), entidade que representa os maiores produtores do país, descarta qualquer risco de desabastecimento. Segundo os usineiros, há estoques suficientes. O ministro Lobão também indicou na semana passada que há produto a ser ofertado e disse que, no momento, o governo não trabalha com a perspectiva de que faltará etanol nos postos.

A oscilação no mercado, no entanto, se refletiu nas vendas de forma mais brusca do que em anos anteriores. Em outubro de 2009, último mês antes do início da entressafra, a comercialização ficou em torno de 1,4 bilhão de litros. No mês seguinte, as vendas caíram para 1,2 bilhão de litros. Dependendo do comportamento dos preços nas próximas semanas, o varejo de combustíveis poderá amargar quedas ainda mais acentuadas nas vendas de etanol.

1 - Solução de longo prazo Os produtores afirmam que para acabar de vez com as oscilações nos preços do etanol é preciso criar instrumentos de comercialização física e futura a fim de que o produto possa ser comprado e vendido em larga escala sem tanta instabilidade. O setor também quer a definição de uma política tributária mais adequada para a realidade do produto, que ainda é considerada uma commodity agrícola