Título: Ascensão social beneficiou 13,8 milhões, diz Ipea
Autor: Rosas, Rafael
Fonte: Valor Econômico, 23/09/2008, Brasil, p. A2

Os últimos anos de crescimento econômico e os programas de transferência de renda garantiram uma mobilidade social ascendente que não se via na sociedade brasileira há quase três décadas, com 13,8 milhões de pessoas passando para faixas sociais mais altas. Os dados constam do estudo "Pobreza e mudança social", divulgado ontem pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2007 (Pnad 2007).

O estudo dividiu o país em três estratos iguais em 2001, cada um representando 33,33% da população, em ordem crescente de renda. Os limites foram deflacionados pelo INPC, com a incorporação do crescimento econômico à renda média dos brasileiros. Dessa forma, os grupos de renda de acordo com a Pnad 2007 foram formados em três estratos: até R$ 545,66 de renda familiar mensal, entre R$ 545,66 e R$ 1.350,82 e renda acima de R$ 1.350,82.

Como resultado, o estrato mais baixo passou a contar com 27,4% dos brasileiros, enquanto o segundo estágio respondeu por 36,7% da população e a fatia mais alta ficou com 35,8%. No total, foram 10,2 milhões de pessoas que pularam do estrato mais baixo para o médio e 3,6 milhões de pessoas que atingiram o estágio mais alto entre os anos 2001 a 2007.

"Houve uma forte movimentação de pessoas do nível mais baixo de renda para níveis mais elevados. Aconteceu uma mobilidade social ascendente que não se via na sociedade brasileira desde os anos 80", afirmou o economista Ricardo Amorim, do Ipea.

"Temos que tomar cuidado com os estratos mais baixos de renda, já que o mercado de trabalho chega neles de maneira mais fraca. Temos que cuidar com muito carinho do crescimento econômico, que tem sido fundamental para gerar oportunidades, renda e emprego", ressaltou o economista.

O economista Ricardo Paes de Barros, também do Ipea, lembra que, para os 10% mais pobres, entre 2001 e 2007, a renda per capita subiu 50%, enquanto a renda do trabalhador nesse grupo subiu apenas 22%. Segundo ele, a renda de fontes não ligadas ao trabalho avançou 96% para os mais pobres.

Outra constatação do Ipea é que o Brasil precisaria de mais 18 anos de redução de desigualdade em ritmo semelhante ao observado entre 2001 e 2007 para que a renda per capita dos 20% mais pobres atingisse a dos países do mundo que têm renda mais igualitária. Segundo o estudo, a renda per capita anual dos brasileiros em 2007 foi de US$ 8,4 mil, o que deixa a renda per capita de 61% dos países abaixo desse patamar. Quando o ranking engloba apenas os 20% mais pobres de cada país, a renda per capita dos brasileiros é de US$ 1,2 mil por ano e em apenas 46% das nações o valor fica abaixo disso. "Nunca na história brasileira a gente teve uma queda de desigualdade tão persistente e tão acelerada", frisou Paes de Barros.

Entre 2001 e 2007, a renda familiar per capita dos 10% mais pobres no Brasil subiu 7% ao ano, enquanto a taxa de crescimento da renda familiar per capita dos 10% mais ricos foi de apenas 1,1% ao ano. Segundo Paes de Barros, o avanço da renda dos mais pobres aconteceu a uma velocidade semelhante ao aumento da renda na China, enquanto a alta entre os 10% mais ricos se deu a velocidade similar ao aumento da renda no Senegal.