Título: G-20 fica mais frágil após novo fracasso
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 23/09/2008, Brasil, p. A4

A fracassada tentativa do G-7 de reanimar a Rodada Doha causou nova desunião no G-20, o grupo liderado pelo Brasil para a negociação agrícola na Organização Mundial do Comércio (OMC). O G-7, grupo formado por Brasil, Estados Unidos, União Européia, China, Índia, Japão e Austrália - chegou próximo de um entendimento na sexta-feira sobre um mecanismo de proteção para países como China, Índia e outros com agriculturas frágeis bloquearem um súbito aumento de importações agrícolas.

No sábado, entretanto, a delegação indiana voltou atrás, depois de consultas com os ministérios em Nova Déli, jogando por terra a tentativa e congelando na prática a negociação global por um bom tempo.

A péssima atmosfera se refletiu ontem cedo numa reunião do G-20, que tem três membros no G-7 com visões diferentes - o Brasil com interesses exportadores, China e Índia sendo protecionistas. Exportadores se queixaram de como era possível um país argumentar que não tinha "instrução política" para continuar as negociações, como teria feito a Índia.

Por sua vez, chineses e indianos sequer enviaram embaixador para a reunião do G-20, sendo representados por escalões inferiores. Crescentes "pequenas críticas" entre representantes de países exportadores e importadores pioraram o ambiente.

A África do Sul contestou também uma discussão dentro do G-7 sobre criação de novas cotas para produtos agrícolas, reclamando que isso não está previsto no mandato de Doha. A conclusão é de que uma unidade mesmo de fachada para manter o G-20 vai custar politicamente caro, quando e se a negociação global for retomada. "O nível de ambição de liberalização agrícola só diminui", reclamou um embaixador de país agrícola exportador.

Em Genebra, o novo fiasco provocou irritação contra a Índia. As esperanças de liberalização desaparecem. O primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, teria tentado reunir alguns presidentes esta semana, à margem da Assembléia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, para discutir a Rodada Doha, mas a tentativa foi anulada por falta de interesse.

Mais realista, o eterno rival de Brown, o comissário europeu de Comércio, Peter Mandelson, resolveu não ir mais a Nova York para bilaterais com Celso Amorim e outros ministros. Mudou o itinerário e vai hoje a China, em busca de melhores condições para os exportadores europeus.

Enquanto Doha fica semi-morta na geladeira, a União Européia tampouco dá sinais de querer retomar a negociação de um acordo de livre comércio com o Mercosul, apesar dos apelos do bloco do Cone Sul. "Não há nada previsto", reiterou ontem o porta-voz de Mandelson.