Título: Investimentos acompanham avanço da nova ferrovia
Autor: Boechat, Yan
Fonte: Valor Econômico, 23/09/2008, Especial, p. A12

Nos últimos meses não tem sido exatamente fácil encontrar vagas de última hora nos principais hotéis de Palmas. A pouco povoada capital do Tocantins tem atraído um fluxo de visitantes bastante raros por aquelas bandas. De uma hora para outra empresários, corretores de terras, investidores e toda a gama de personagens que os acompanham têm lotado os poucos hotéis da cidade.

A maior parte deles está em busca de oportunidades de ganhar dinheiro, avaliando terras para serem compradas, analisando contratos, buscando apoio governamental, enfim, fazendo negócios que, de uma forma ou de outra, estão ligados à chegada da Norte-Sul no Tocantins. Por enquanto, a maior parte dos investimentos ainda esta na fase de avaliações e planejamento, mas empresas como a Bunge, por exemplo, já começaram a tirar os planos da gaveta.

A multinacional já adquiriu mais de 15 mil hectares às margens da ferrovia para plantar exclusivamente cana. Os planos da empresa, mais conhecida por seus negócios com soja, é instalar até três usinas na região para a produção de etanol e energia com o bagaço da cana. Quer, até 2012, ter 60 mil hectares plantados.

A Etanalc, uma companhia formada há menos de dois anos no país com os mesmos objetivos, também busca terras nas proximidades da ferrovia para concorrer com a Bunge. A empresa, que fechou um contrato de venda de etanol por 20 anos com a companhia americana Sempra Energy, quer instalar três usinas de produção de etanol no Tocantins. Todas elas em municípios próximo a Colinas, onde será construído o principal terminal multi-modal da região. A Renova, outra empresa especializada em etanol, também está chegando ao Tocantins e pretende construir um terminal de granéis líquidos.

A cana ainda é uma promessa, mas a soja já é uma realidade por lá. As grandes negociadoras do grão, como a a própria Bunge, a Cargil e a Multigrains já estão em negociações avançadas com a Companhia Vale do Rio Doce para fechar contratos de transporte em direção ao Porto de São Luís e em unidades industriais para processamento da commodity. Empresas de fertilizantes estudam os melhores locais para instalar suas misturadoras. A Vale estima que há espaço para a produção de grãos crescer até 10 vezes na área de influência da ferrovia. A estimativa é de que os investimentos de curto prazo em negócios ligados de uma forma ou de outra a ferrovia superem a casa dos R$ 1 bilhão.

Para tudo isso acontecer, no entanto, o Porto de São Luís precisa ser expandido de forma considerável. Até agora o processo de licitação de expansão do porto continua atrasado por conta dos labirintos burocráticos que, quase sempre, emperram o processo de desenvolvimento da infra-estrutura brasileira. (YB)