Título: Troca de dados consumirá R$ 11 bilhões
Autor: Koike, Beth
Fonte: Valor Econômico, 08/09/2008, Empresas Tendência & Consumo, p. B5

Planejada desde 2003 pela Agência Nacional de Saúde (ANS), a Troca de Informações em Saúde Suplementar (Tiss) - medida que determina que transações como guias médicas e prestação de contas entre operadoras de saúde e prestadores de serviços sejam feitas por meio eletrônico e não mais em papel - demandou investimentos de R$ 6,9 bilhões nos dois últimos anos em softwares, hardware e treinamento. Até 2012, esse montante será de R$ 11 bilhões.

"Do valor total, R$ 9,5 bilhões virão dos hospitais, laboratórios e consultórios, R$ 1,8 bilhão das operadoras de saúde e R$ 7 milhões da própria ANS para desenvolvimento do software e seminários para esclarecer a Tiss", diz Leôncio Feitosa, diretor de desenvolvimento da Agência Nacional de Saúde.

Ainda segundo a ANS, as operadoras de saúde estão investindo R$ 1,04 por beneficiário, sendo que a saúde suplementar conta com 49 milhões de pessoas. Já os prestadores de serviços como hospitais e laboratórios estão realizando investimentos de cerca de R$ 5,6 mil por estabelecimento, além de treinamento de pessoal. Hoje, há no Brasil cerca de 4 mil hospitais, 180 mil consultórios, 12 mil laboratórios e 23,9 mil clínicas especializadas.

Um dos principais impactos da adoção da Tiss para o mercado será a redução de glosas, ou seja, a recusa ou prorrogação da data de pagamento por parte das operadoras de saúde devido a erro de preenchimento das guias médicas ou discordância no valor cobrado pelo procedimento realizado.

Entre os 37 hospitais associados à Associação Nacional de Hospitais Privados (ANAHP), a glosa equivale a cerca de R$ 300 milhões, o que representa 5% do faturamento de R$ 6 bilhões dos hospitais ligados à entidade em 2007. "As devoluções por erro de preenchimento de guia tendem a diminuir muito porque o próprio sistema acusa no mesmo instante quando há algum dado incorreto", explica Roberto Cury, superintendente da ANAHP.

Pesquisa realizada pela Conselho Nacional de Saúde (CNS) mostra que 31,5% dos hospitais entrevistados têm suas guias e contas médicas devolvidas por problemas de preenchimento de formulário. "Com a Tiss, o tempo para faturamento das contas deve cair pela metade. Além disso, as operadoras também sairão ganhando porque haverá queda de custos administrativos e redução de provisões", diz Carlos Figueiredo, especialista em regulação na ANS.

Atualmente, o custo para uma transação em papel é de R$ 0,29 e de operação por meio eletrônico varia de R$ 0,18 a R$ 0,09. Essa economia somada às reduções das glosas, deverá gerar ao setor de saúde uma economia de R$ 18,9 bilhões entre 2007 e 2012. "Como a maior parte dos investimentos já foi feita nesses últimos dois anos, o retorno do investimento começa a aparecer já em 2009", enumera Figueiredo.

De acordo com a ANS, os laboratórios e as seguradoras são os que mais investiram até o momento no novo sistema.

O prazo para implementação da Tiss em hospitais e planos de saúde terminou no ano passado, mas muitos deles ainda não aderiram ao sistema.

O prazo para consultórios médicos e dentistas termina no final de 2008. "Estamos sendo bastante flexíveis nesses prazos porque há muitos estabelecimentos que não têm recursos financeiros e estão instalados em locais em que não há nem banda larga", afirmou Feitosa, diretor da agência. "Porém, quem tem condições e não adotar a Tiss será autuado", complementou. A multa para os prestadores de serviço é de R$ 5 mil por dia e para as operadoras de saúde é de R$ 35 mil por infração.

Desde 2006 - quando a ANS criou um formulário padrão em papel para que as empresas começassem a se adequar - a agência já enviou 215 ofícios para operadoras de saúde que não aderiram à Tiss.

Uma delas já foi, inclusive, multada e recorreu na Justiça. Nesses ofícios, a agência pede explicações pela não implementação do sistema.