Título: Meta de exportação vai a US$ 202 bi
Autor: Leo, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 24/09/2008, Brasil, p. A4

Surpreendido pela resistência dos altos preços de commodities como carne, ferro-gusa e óleo de soja, o governo, pela quarta vez neste ano, alterou ontem a meta de exportações de 2008, de US$ 190 bilhões para US$ 202 bilhões, quase 26% acima do resultado de 2007. "Há muito exagero quando se fala que estão despencando os preços das commodities", comentou o secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Welber Barral, ao anunciar oficialmente a nova meta. A maioria dos produtos básicos com importância no comércio externo está com preços acima dos níveis de 2007.

A nova meta reflete, principalmente, os altos preços dos produtos básicos e, em menor medida, o aumento no volume das exportações de produtos como o minério de ferro. Barral disse que as estimativas do ministério ainda não levam em conta a recente valorização do dólar em relação ao real, que torna os custos dos exportadores menores, em moeda estrangeira, e aumenta a competitividade das exportações. Ele comentou ser cedo para fazer previsões em relação a 2009, ou sobre o comportamento futuro do dólar que, segundo admitiu, pode voltar a patamares inferiores a R$ 1,70, como em meados do ano.

Segundo Barral, o bom desempenho das exportações de aeronaves, telefones celulares e tratores e caminhões também pesou na decisão de ampliar a meta de exportações. As vendas de aeronaves da Embraer passaram de 166 para 200 unidades neste ano, as exportações de tratores e caminhões aumentaram 15% em volume, até agosto, e, após cair 32% de 2006 para 2007, o volume de celulares exportados cresceu 7%, principalmente para os países da América Latina, para onde vão os aparelhos com tecnologia 3G.

"É uma meta totalmente factível", comentou o secretário-executivo da Associação Brasileira de Exportadores (AEB), José Augusto de Castro. As exportações já somam US$ 130,8 bilhões até agosto, e, para chegar à nova meta, será necessário manter uma média diária de exportações de US$ 780 milhões, calcula o economista. "Em setembro, a média já está acima de US$ 900 milhões, o que garante a realização da meta com alguma folga."

Para o governo a queda nos preços das commodities desde o início do ano é reflexo principalmente do "estouro da bolha" especulativa nos mercados de commodities. "Mesmo depois de desinflados, os preços estão bem maiores do que estavam no ano passado", notou Barral. A maior variação foi registrada nos preços da carne bovina, 101% acima, em setembro, do que no mesmo mês de 2007. O ferro-gusa está com preço 91% maior, o óleo de soja em bruto, 73,3%. O único produto a ter queda de preço, entre 25 principais commodities exportadas, foi o suco de laranja, que caiu 13,6%.

"É a demanda de 700 milhões de pessoas passando ao mercado consumidor", comentou Barral. O otimismo em relação às exportações reflete o êxito da estratégia de diversificação de mercados consumidores dos produtos brasileiros, comemorou o secretário, ao divulgar os dados deste ano sobre crescimento de vendas para a China (68%), Europa Oriental (48%) e África (35%). As vendas para a União Européia vêm crescendo 25,5%. "A demanda, principalmente de alimentos, deve manter o patamar", prevê o secretário.

"Isoladamente, o número é muito bom, mas o Brasil, pelo tamanho da sua economia, tem potencial para exportar bem mais", comenta José Augusto de Castro. Entre as dez maiores economias do mundo, o Brasil é a única que não está também entre os dez maiores exportadores.