Título: Decisão deve ajudar Correa a vencer referendo
Autor: Souza, Marcos de Moura
Fonte: Valor Econômico, 24/09/2008, Internacional, p. A8

A cinco dias do referendo sobre a nova Constituição, que o governo quer ver aprovada, a expulsão da Odebrecht do Equador pode ser encarada como uma cartada política de última hora do presidente Rafael Correa. AP

Manifestantes protestam em Quito contra o projeto da nova Constituição defendido pelo presidente Rafael Correa

Embora uma pesquisa de intenção de voto, divulgada no fim de semana pela Cedatos/Gallup, aponte que a nova Carta será aprovada com 60% dos votos, Correa já disse que deseja garantir uma aprovação contundente do texto - o que daria maior legitimidade às mudanças que quer implementar no país. Entre outros pontos, a nova Constituição prevê mais poderes ao presidente. O texto vai a votação popular no domingo.

"Correa tem atacado muito as empresas estrangeiras que atuam aqui, incluindo a Odebrecht, dizendo que elas operam sob condições que não são favoráveis ao Equador", disse o economista e vice-presidente da Cedatos, Carlos Cordova. E como o presidente, de orientação socialista, tem atualmente 71% de aprovação, muitos equatorianos acreditam nos seus argumentos, inclusive nas críticas às empresas, diz Cordova.

"A decisão de expulsar a Odebrecht pode reforçar a imagem de um presidente de mão-dura contra empresas que supostamente causam danos ao país", disse. Essa imagem, acrescenta ele, causa um impacto positivo principalmente no eleitorado com menos acesso à informação e de mais baixa renda.

Há poucos meses, Correa já havia disputado uma queda de braço com a Porta, empresa de telefonia celular do grupo do mexicano Carlos Slim. Depois de ameaçar cancelar a concessão, o governo conseguiu que a Porta pagasse mais pelo direito de continuar a operar no mercado local. Antes disso, Correa havia também forçado a MoviStar, do grupo Telefónica, a renegociar suas condições contratuais.

Correa assumiu em janeiro de 2007 com a promessa de revisar a Constituição e esvaziar o poder da elite política num país com histórico de instabilidade. O projeto de Constituição, aprovado pela maioria governista na Assembléia Constituinte, dá ao presidente mais poder sobre temas econômicos e aumenta sua influência em instituições políticas. Uma das promessas que mais agradam o eleitorado é a de distribuir a receita do petróleo.

Correa já expulsou outras empresas, como a petroleira americana Occidental. E, com uma mudança fiscal, forçou a Petrobras a devolver um campo de petróleo no país. O governo está ainda revendo todos os contratos de concessão de exploração de minérios.