Título: Em Curitiba, lista de nomes omite valores
Autor: Grabois, Ana Paula; Durão, Vera Saavedra
Fonte: Valor Econômico, 24/09/2008, Especial, p. A12

O exemplo dos candidatos no Rio não foi seguido no resto das capitais do país nem mesmo pelos candidatos correligionários de Chico Alencar (P-SOL) e Fernando Gabeira (PV), os primeiros a tomar a iniciativa de divulgar a lista de seus doadores de campanha, na capital fluminense. A única exceção foi a de Curitiba, onde os candidatos Maurício Furtado (PV), Carlos Moreira (PMDB) e Fabio Camargo (PTB) fizeram a divulgação de uma lista de contribuintes, mas ainda assim sem a discriminação de valores. Com mais de 70% nas pesquisas de intenção de voto, o prefeito curitibano e candidato à reeleição Beto Richa (PSDB) não fez o mesmo, assim como a petista Gleisi Hoffmann, que está em segundo lugar nas sondagens.

Em São Paulo, o colega de Alencar na bancada do P-SOL na Câmara dos Deputados, Ivan Valente, arrecadou R$ 90 mil em doações de pessoas físicas, mas optou por não tornar transparente a relação de apoiadores. Segundo sua assessoria de imprensa, a divulgação da lista exporia a privacidade dos doadores. A equipe de comunicação de Valente informa apenas que os dois maiores doadores foram o intelectual Maurício Segall e o advogado Celso Antônio Bandeira de Melo, sem informar os valores.

Foi exatamente contra este argumento que o P-SOL se insurgiu na votação da mini-reforma de 2006, base da norma atual que estabelece que a divulgação da relação de doadores de campanha só é obrigatória no final do processo eleitoral. Na ocasião, deputados como Alberto Goldman (PSDB-SP) e Alexandre Cardoso (PSB-RJ) combateram a proposta de se tornar compulsória a divulgação dos doadores durante o processo eleitoral, afirmando que a ação seria constrangedora e dificultaria as contribuições. Chico Alencar declarou então que a divulgação após as eleições era uma "meia transparência". Mas o tema não chegou a ser votado pelo plenário da Casa. Por acordo de lideranças, prevaleceu a fórmula de divulgação apenas do relatório de receitas e despesas antes do término da eleição.

Em Porto Alegre, após confirmar ter recebido uma doação da metalúrgica Gerdau, a candidata Luciana Genro (P-SOL) também não divulgou seus contribuintes. Sua assessoria de imprensa afirmou que a candidata irá limitar-se a cumprir o que a legislação eleitoral manda. No PV, partido de Gabeira e de Maurício Furtado, os candidatos Micarla de Souza ( Natal), Marcelo Lelis (Palmas) e Lindomar Garçon (Porto Velho) também não divulgaram seus doadores. Seguiram o comportamento seus principais adversários, Fátima Bezerra (PT-Natal), Raul Filho (PT-Palmas) e Roberto Sobrinho ( PT-Porto Velho).

Nos demais partidos, a justificativa para que o procedimento dos candidatos do Rio ou mesmo de Curitiba fosse seguido é a mesma: tradicionalmente não se faz mais do que a lei exige. Companheira de partido de Alessandro Molon, a candidata petista em São Paulo Marta Suplicy sequer cogitou de alterar o comportamento que adotou em campanhas passadas, segundo sua assessoria de imprensa. O mesmo alegou a coordenação de campanha do tucano Geraldo Alckmin.