Título: Votorantim fará maior usina da Colômbia
Autor: Ribeiro, Ivo
Fonte: Valor Econômico, 24/09/2008, Empresas, p. B6

O apetite do grupo Votorantim por investimento em aço na América do Sul continua aguçado. Após assumir o controle da argentina AcerBrag neste ano, a companhia criada pelo clã Ermírio de Moraes une-se à família Zuluaga, dona da Aceros de Colômbia S.A., de Barranquilla, para montar a maior siderúrgica do país vizinho. O grupo já é o segundo maior fabricante de aços longos da Colômbia por meio da Acerías Paz del Río, adquirida em leilão de privatização por US$ 491 milhões no ano passado. Davilym Dourado/valor

Albano Chagas Vieira, diretor-superintendente da VS: "O mundo passa por ciclos e nossa visão foca o médio e longo prazo"

O anúncio ocorre num dos momentos mais críticos da economia mundial devido a problemas nos mercados imobiliário e financeiro americano. "O mundo passa por ciclos e nossa visão foca o médio e longo prazo e a Colômbia hoje, em franco crescimento, é importadora de mais de 1 milhão de toneladas de aços planos por ano", observou Albano Chagas Vieira, diretor-superintendente da Votorantim Siderurgia (VS), criada em julho.

O projeto da nova usina, dedicada à fabricação de aços planos, usando nova tecnologia (produção contínua de placas finas), está orçado em US$ 1,5 bilhão. Com capacidade de 1,4 milhão de toneladas ao ano de chapas de aço laminadas a quente, ficará 30 km ao sul de Barranquilla, às margens do rio Madalena e às portas do mar do Caribe. A expectativa dos dois sócios é que a fábrica comece a operar no início de 2012, suprindo o mercado local e exportando o excedente para outros mercados da região das Américas.

Hoje, a Paz del Río, em Belencito, é a única produtora de aço plano do país, com 100 mil toneladas anuais, porém seu produto tem aplicações limitadas. A nova usina poderá atender mercados mais sofisticados, como linha branca, autopeças, tubos, construção civil e máquinas e equipamentos. "A única restrição será para peças externas de automóveis", diz Vieira.

A maioria do aço para atender o consumo do mercado colombiano é importado, do Brasil e outros países, principalmente pela Acesco. A empresa faz o acabamento e transformação em laminados a frio e galvanizado em suas instalações situadas nas imediações de Barranquilla, a 15 km de onde será a futura siderúrgica.

A VS será majoritária na nova empresa responsável pelo empreendimento, mas segundo informou Vieira o percentual que lhe caberá ainda não está definido. As conversas entre os dois grupos começaram há cerca de um ano, logo depois que a Votorantim arrematou a Paz del Río na Bolsa de Bogotá, em março de 2007.

Vieira destacou que a expansão econômica da Colômbia e o mercado importador de 55% de todo tipo de aço que consome (2,5 milhões de toneladas neste ano) foram fatores importantes para tomar a decisão do investimento. "O projeto conceitual está pronto e já adquirimos uma área de 900 hectares para abrigar a usina, que terá um terminal portuário próprio no rio Madalena". O próximo passo, que vai durar nove meses, vai abranger a engenharia básica do projeto, licença ambiental e pacote de incentivo tributário.

Carlos Artur Zuluaga, acionista e presidente da Acesco, apontou também o incentivo tributário do país ao projeto, com a criação de uma Zona Franca uniempresarial em Barranquilla. Com decreto de governo que assegura o benefício durante sua vida útil, o empreendimento terá redução de 33% para 15% no imposto de renda e isenção de impostos na importação de equipamentos para obra e para matérias-primas e insumos.

O minério de ferro - mais de 2 milhões de toneladas por ano - tem suprimento previsto de minas do país e de importação. Por ser um grande produtor de carvão mineral, a Colômbia fornecerá a totalidade do insumo. A Paz del Río detém reservas de minério de ferro e de carvão não região onde opera. No momento, investe cerca de US$ 12 milhões para redimensionar esse potencial.

Zuluaga disse que a negociação de uma zona de livre comércio entre o país e os Estados Unidos, já aprovada pelo congresso colombiano e em análise pelo americano, também irá beneficiar a nova siderúrgica. Com isso, acredita o empresário, será aberto espaço para entrar nesse grande mercado mundial de aço.

Vieira comenta que a Colômbia, que tem muitas similaridades com o Brasil, vive uma fase de fortes investimentos em infra-estrutura (caso de rodovias, ferrovias e hidrelétricas) e de segurança institucional. "O país deve receber neste ano US$ 11 bilhões de investimentos diretos". Para Zuluaga, a insegurança da guerrilha patrocinada pelas Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) é coisa do passado. "Hoje, perdeu a dimensão que tinha até cinco anos atrás", afirmou.

O negócio de aço da Votorantim, que no passado teve receita de R$ 2,12 bilhões, envolve uma usina em Barra Mansa (RJ), a Paz del Río, em Belencito, a AcerBrag, em Bragados, com capacidade total de 1,5 milhão de toneladas por ano. No momento o grupo contrói uma nova usina de aços longos em Resende (RJ) para fazer 1 milhão de toneladas. Esta prevista para entrar em operação completa entre o fim de abril e meados de maio de 2009. A Paz del Río faz 450 mil toneladas e já tem plano de expansão da capacidade.

Com receita prevista para este ano de US$ 750 milhões e processamento de 625 mil toneladas de aço, a Acesco tem unidades de laminação e centros de distribuição em nove países da América Central e norte da América do Sul - Colômbia , Equador, Panamá, Costa Rica, Porto Rico, El Salvador, Honduras, Nicarágua e Guatemala. Opera ainda uma companhia de navegação (Navesco) e um terminal portuário no rio Madalena, a 22 km do porto de Barranquilla.