Título: Grupos interessados na Namisa começam a desistir
Autor: Durão, Vera Saavedra
Fonte: Valor Econômico, 25/09/2008, Empresas, p. B9

Os principais grupos interessados na compra da mineradora de ferro Namisa, controlada da Cia. siderúrgica Nacional (CSN), estão desistindo do negócio. Conforme o Valor apurou, a siderúrgica chinesa Shagang Group é a mais recente desistência da disputa. A Tata Steel, que venceu a CSN na disputa pelo grupo inglês Corus, também recuou e a ArcelorMittal nem chegou a analisar o ativo, segundo fontes próximas da gigante mundial do aço.

Até agora, de três interessados, apenas o consórcio japonês liderado pela trading Itochu, em aliança com Nippon Steel e JFE restaria no páreo. Procurada, a CSN informou por meio de sua assessoria que o processo de avaliação de propostas para o leilão da Namisa continua normal, ainda sem prazo definido para acontecer. Inicialmente, ele foi previsto para o final deste mês, depois adiado para outubro.

Segundo fontes a par das negociações, alguns fatores contribuíram para o insucesso das conversas entre Benjamin Steinbruch, controlador da CSN, e o grupo chinês. Dentre eles, um preço mínimo de US$ 7 bilhões por 100% da Namisa. Outras dificuldades referem-se ao fornecimento do minério de ferro de Casa de Pedra e à logística de transporte e embarque do minério, que envolvem a ferrovia MRS, de vários acionistas, e o porto de Sepetiba, da própria CSN.

Segundo as mesmas fontes, a Shagang não tinha interesse em comprar 100% da Namisa, mas uma participação menor, pois o grupo não tem gestor para tocar um projeto tão grande , que seria o seu primeiro investimento no Brasil. Quanto ao minério de Casa de Pedra, teria sido exigido que a Namisa recolhesse diariamente todo o pellet-feed (minério superfino) que sai como resíduo da extração do sinter-feed. O pellet-feed de Casa de Pedra tem boa qualidade, porém só serve para fazer pelotas, antes de ir para o alto-forno. Para isso, a Namisa teria de montar uma pelotizadora ou fornecer o produto à futura usina da CSN.

O contrato a ser firmado entre quem comprar a mineradora e a ferrovia MRS para transportar o minério da Namisa é também considerado complexo, pois a CSN é que tem a garantia deste transporte por ser acionista. Ela vai sub-locar esse direito ao comprador. Outro contrato do pacote refere-se à autorização para os novos donos da Namisa usarem o porto de Sepetiba. Se o carregamento ocorrer ao mesmo tempo que o da CSN, teria de ser determinada de quem será a preferência do embarque.

Toda essa logística complexa, na avaliação de fontes do mercado financeiro, fica muito dependente da CSN, mesmo que Steimbruch tenha intenção já divulgada de repassar 10% de sua parte na MRS para quem comprar a Namisa. Esta negociação também vai depender do "sinal verde " dos outros sócios da MRS - Vale do rio Doce, Gerdau e Usiminas.

Segundo fontes do setor, o momento da venda da Namisa foi afetado pela retração do crédito internacional por conta da crise mundial financeiro dos EUA. Bancos americanos de investimentos financiavam grande parte das operações de aquisições no mundo.

Por outro lado, a hora é também ruim as siderúrgicas chinesas tomarem decisões de compra, pois as mineradoras australianas e a Vale já começam a se movimentar para negociar o reajuste de preços do minério para 2009. A expectativa dos analistas é uma alta entre 10% e 20%. Isso, sem falar que a Vale está no momento negociando com as usinas da Ásia um aumento adicional aos preços de 2008, visando obter uma maior remuneração pelo seu produto para se equiparar ao índice maior acertado entre as usinas chinesas e as suas concorrentes BHP Billiton e Rio Tinto.

A CSN assegura que as negociações continuam, mas já há incertezas sobre o futuro desta operação.