Título: BC garante liquidez ao mercado
Autor: Safatle, Claudia
Fonte: Valor Econômico, 25/09/2008, Finanças, p. C1

Ao cortar a renovação das linhas de crédito externas para o Brasil para apenas 20% a 25% dos vencimentos - enquanto antes do agravamento da crise financeira internacional, a rolagem superava em muito o total dos vencimentos -, os bancos estrangeiros forçaram uma abrupta migração da demanda de crédito das empresas para o mercado doméstico.

O governo identificou uma corrida por crédito em reais no sistema bancário esta semana e o Banco Central teve que socorrer as instituições financeiras, sobretudo as de menor porte, provendo liquidez, com as medidas de liberalização dos depósitos compulsórios anunciadas ontem.

Como parte mais fraca do elo da intermediação financeira, os bancos pequenos e médios ficaram sem recursos para atender o crescimento da procura por crédito em moeda local, já que as grandes instituições optaram por atender às empresas já suas clientes do que repassar recursos aos bancos menores. O crédito externo, que desapareceu completamente na quarta e quinta-feiras da semana passada, voltou um pouco esta semana, mas bastante minguado e caro.

A grande pergunta que se faz, no governo, é por quanto tempo a situação externa permanecerá adversa e o quanto isso poderá comprometer os investimentos, as exportações e mesmo a disposição das empresas estrangeiras de participar das concessões de serviços públicos, seja de rodovias, aeroportos ou outras. E a preocupação, nesse momento, é não deixar que faltem recursos para os investimentos - sobretudo em projetos de infra-estrutura para a parcela destinada às empresas privadas do PAC - e para os financiamentos de capital de giro dos exportadores (ACC e ACE, pré e pós embarque de mercadorias, respectivamente).

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, acenou na semana passada com a possibilidade de acionar os bancos públicos para providenciar crédito enquanto a crise durar, mas, de fato, ainda não há medidas concretas desenhadas para isso. Por enquanto, disse uma fonte oficial, o que o governo está fazendo é um inventário geral da crise externa, dos canais de financiamentos e da situação dos fluxos por esses dias. Ontem Mantega e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, reuniram-se com os dirigentes dos bancos públicos federais (Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal) exatamente para medir a temperatura dos mercados, decorrente do fechamento do crédito externo, mas sem avançar em medidas propriamente ditas. As linhas de crédito externo representam cerca de 10% do total do estoque de crédito no país. Algo superior, portanto, a R$ 100 bilhões.

Assim, as medidas anunciadas ontem pelo Banco Central vão significar uma injeção de liquidez de R$ 13 bilhões de agora até março de 2009 e seguem na mesma trilha de atuação do BC na semana passada, quanto fez leilão de venda casada com a recompra de dólares, para suprir os gargalos de liquidez gerados pelo súbito desaparecimento das linhas de crédito em moeda estrangeira. Segundo fontes do governo, o BC poderá fazer novos leilões de dólar, se for necessário, e manterá sua atuação no mercado nessa direção, de prover liquidez aos bancos. Não está em cogitação, pelo menos por agora, medidas pouco usuais, como, por exemplo, usar um pedaço das reservas cambiais para suprir, através do BNDES, os financiamentos às exportações. "Não há essa proposta nem estamos nesse nível de crise", assegurou um alto funcionário da área econômica do governo. O governo brasileiro conta com a aprovação do pacote de socorro do governo americano aos bancos ainda esta semana e avalia que as medidas de ontem do BC serão suficientes para o momento.