Título: Crédito de longo prazo a exportador seca, diz BB
Autor: Safatle, Claudia; Galvão, Arnaldo
Fonte: Valor Econômico, 25/09/2008, Finanças, p. C3

As linhas de financiamento de longo prazo para as grandes empresas exportadoras do país bancarem novos investimentos "secaram totalmente", avisou o presidente do Banco do Brasil (BB), Antonio Francisco de Lima Neto. As renovações dos Adiantamentos de Contrato de Câmbio (ACC), que superavam 100% antes do agravamento da crise externa, agora não passam de 25% e os prazos, que eram de 360 dias, reduziram-se para 90 dias ou, na melhor das hipóteses, 180 dias, informou ao Valor. Os repasses de financiamentos de comércio exterior, pelo BB, estão sendo feito "em lotes menores" para as empresas, disse. Sergio Zacchi / Valor Antonio Francisco de Lima Neto, presidente do Banco do Brasil: "O momento é de expectativa para ver até onde vai essa fase crítica"

Esse é um retrato dos efeitos da crise financeira internacional sobre a economia doméstica, que virou de ponta-cabeça a oferta de crédito externo para o país e provocou um abrupto aquecimento da demanda por financiamentos em reais.

Ontem, o presidente do Banco do Brasil teve uma reunião com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, para fazer uma avaliação geral da situação. Lima Neto garantiu, porém, que não se tratou de discutir como o BB pode vir a suprir linhas de financiamento para exportação e interbancária, bastante afetadas pelo colapso dos bancos americanos, para empresas e bancos no país. "Não tratamos de nada mais específico", disse, embora o ministro tenha, na semana passada, indicado a possibilidade de usar os bancos públicos federais, sobretudo BNDES e BB, para prover mais crédito às empresas brasileiras nesse período de escassez de financiamentos externos.

Lima Neto avaliou que não há qualquer previsão de normalização dessas linhas para as empresas brasileiras e que isso dependerá dos bancos conseguirem restabelecer as captações de recursos no mercado internacional, o que, no momento, assinalou, "é bastante difícil". Mas isso, disse, não deverá ser substituído por novos instrumentos de crédito e sim pela atuação normal do BB no mercado.

A administração da crise, de acordo com o presidente do BB, está sendo conduzida sem maiores abalos porque a instituição tem boa base de captação no mercado doméstico, onde o BB é o maior banco em crédito e depósitos. São 28 milhões de depositantes e uma carteira de crédito de R$ 200 bilhões, aproximadamente. Apesar disso, as restrições do crédito internacional tornam "natural" uma subida nas taxas de juros externas e internas e impõe aos bancos que operam no Brasil maior cuidado nos desembolsos, reduzindo os montantes por empresa.

O impacto das medidas de liberalização do recolhimento compulsório sobre os depósitos dos bancos ao Banco Central, anunciadas ontem, terão impacto "residual" na capacidade do Banco do Brasil expandir o crédito. "Está tudo sob controle, não há luz vermelha ou amarela", garantiu. As duas providências adotadas pelo BC terão efeitos mais relevantes para os bancos de pequeno e médio porte, que estavam com dificuldade de atender ao aumento da demanda por crédito interno, do que para um banco do porte do BB.

Em suma, disse ele, "o momento é de expectativa para ver até onde vai essa fase crítica" .

Sobre as negociações do BB para a aquisição de outros bancos, como a Nossa Caixa, do governo de São Paulo, e o Banco Regional de Brasília (BRB), Lima Neto disse que continuam indefinidas. Ele considerou "natural" a alta das ações da Nossa Caixa. Não se trata de especulação, avaliou, mas de antecipação de um provável negócio. "O mercado precifica um prêmio de controle numa eventual aquisição pelo Banco do Brasil", disse o presidente do BB.

Em 12 de setembro, o vice-presidente de finanças do Banco do Brasil, Aldo Luiz Mendes, disse estar otimista em relação à negociação com o governo paulista para a incorporação da Nossa Caixa. Na semana que vem, o BB vai encerrar o processo de absorção do Banco do Estado de Santa Catarina (Besc), com emissão de 23,1 milhões de ações no valor de R$ 685 milhões. O próximo na fila das incorporações do BB é o Banco do Estado do Piauí (BEP). Para a incorporação, as duas empresas do sistema Besc - Besc e Bescri (poupança e crédito imobiliário) - receberam valor econômico de R$ 685 milhões, de acordo com a situação em 31 de dezembro de 2007. O BB teve valor de mercado de R$ 73,5 bilhões.