Título: Crise já reduz prazo da dívida interna
Autor: Galvão, Arnaldo
Fonte: Valor Econômico, 25/09/2008, Finanças, p. C6

A maior turbulência nos mercados, provocada pelo agravamento da crise financeira internacional, vem obrigando o Tesouro a ajustar suas ofertas à demanda por títulos mais curtos, o que acaba prejudicando o perfil da dívida pública. Em agosto, período com menor volatilidade que setembro, foi isso o que ocorreu, segundo o coordenador-geral adjunto de Operações da Dívida Pública do Tesouro, Fernando Garrido.

Ele afirmou que, em momentos de maior volatilidade, a adaptação da estratégia pode reduzir o prazo dos títulos ofertados e também diminuir a quantidade dos papéis nos leilões. "O Tesouro vai continuar com sua política de emissões de acordo com as condições do mercado. Não vamos adicionar volatilidade", comentou.

Segundo o relatório da Dívida Pública Federal (DPF), o prazo médio caiu de 43,41 meses para 42,66 meses. Considerando-se apenas a Dívida Pública Mobiliária Federal interna (DPMFi), a queda foi de 41,33 meses para 40,52 meses.

Outra característica de agosto foi a elevação do custo médio da dívida pública federal. Ele passou de 12,48% ao ano (julho) para 15,02% ao ano porque, segundo o Tesouro, houve maior desvalorização do real frente ao dólar. Por outro lado, o custo médio da dívida interna caiu no período, de 13,58% ao ano para 12,3% devido, principalmente, à menor variação dos índices de preços. Garrido procurou ressaltar que num período mais longo - setembro de 2007 a agosto de 2008 -, o custo médio da dívida interna caiu de 13,11% ao ano para 12,87% ao ano. Segundo o relatório, isso também ocorreu pela menor variação dos índices de preços.

Com relação ao estoque da DPF em agosto, o Tesouro registrou aumento de 1,66%, passando de R$ 1,29 trilhão para R$ 1,32 trilhão. Na DPMFi, o estoque elevou-se 1,56%, indo de R$ 1,2 trilhão para R$ 1,22 trilhão. Na DPFe, o crescimento de 3% do estoque, em agosto, levou o total a R$ 96,3 bilhões.

A composição da DPMFi, em agosto, teve pequena elevação da parcela ligada à Selic, de 36,82% para 36,89%. Os títulos prefixados também aumentaram sua participação no total, de 30,88% para 31,45%. Os papéis vinculados a índice de preços reduziram seu espaço de 29,47% para 29,12%.

Os juros contabilizados para o mês de agosto, na DPF, foram de R$ 16,09 bilhões, sendo que, desse volume, R$ 12,64 bilhões na dívida interna e R$ 3,44 bilhões na dívida externa. Neste ano, de janeiro a agosto, os juros apropriados na dívida interna já chegaram a R$ 101,94 bilhões.

Quanto à parcela de curtíssimo prazo (vencimentos até 12 meses) na dívida interna, foi verificada, em agosto, redução de 25,24% para 24,83%. O relatório da DPF informou ainda que os prefixados são a maior fatia (54,94%) desse grupo de títulos, seguidos pelos ligados à Selic (29,12%) e os relacionados a índice de preços (14,82%).

O balanço bimensal do programa de recompra dos títulos da dívida externa mostrou que, em julho e agosto, foram recomprados R$ 300,9 milhões (valor de face). O valor financeiro desembolsado foi de R$ 394,2 milhões. O Tesouro também informou que, de janeiro a agosto, o valor financeiro desembolsado foi de R$ 1,93 bilhão, sendo R$ 1,46 bilhão de valor de face.

Fernando Garrido procurou resumir o que ocorreu com a dívida pública, em agosto, informando que o Tesouro emitiu R$ 20,8 bilhões e resgatou R$ 15,3 bilhões, o que levou a uma emissão líquida de R$ 5,5 bilhões. Os cancelamentos de títulos, nesse período, foi de R$ 4,2 bilhões, sendo a maioria dos títulos cancelados em função de pagamento de dividendos pela Caixa Econômica Federal e BNDES (R$ 3,9 bilhões).

De acordo com o cronograma do Tesouro, os vencimentos de títulos da dívida interna, em setembro, serão de R$ 20,74 bilhões. Para os meses seguintes, as previsões são de R$ 26,9 bilhões (outubro), R$ 40 milhões (novembro) e R$ 28,44 bilhões (dezembro).