Título: Volume de exportações está estagnado
Autor: Landim, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 26/09/2008, Brasil, p. A3

O volume exportado pelo Brasil está estagnado e o crescimento vigoroso das vendas externas é sustentado apenas pelos preços, que ainda não sentiram o impacto da queda das commodities no mercado internacional. No acumulado de 12 meses até agosto, a quantidade embarcada subiu insignificante 0,5%, conforme a Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex). Carol Carquejeiro/ Valor Silveira, da RC Consultores: crise financeira vai prejudicar a exportação

É o quinto mês consecutivo, também na comparação em 12 meses, que o volume vendido ao exterior cresce abaixo de 1%, com exceção de julho, que registrou alta de 1,2%. De janeiro a agosto, a quantidade exportada chegou a recuar 1,4%. "Na melhor das hipóteses, a tendência é de estagnação do volume exportado até o fim do ano", diz Fábio Silveira, economista da RC Consultores.

Ele afirma que a crise financeira internacional deve prejudicar a exportação brasileira nos próximos meses. Silveira explica que a desaceleração global reduz a demanda externa, a queda dos preços das commodities desestimula o exportador e a escassez de crédito dificulta as vendas de pequenas e médias empresas. A desvalorização do real pode ajudar, mas a tendência é que não seja forte o suficiente.

"Não adianta falar que o mundo não vai impactar o país. Não tem jeito", concorda Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados. Ele ressalta que metade das exportações segue para regiões que já estão em recessão, como Estados Unidos, Europa e Japão. A outra metade vai para a América Latina, que deve sentir o abalo da queda das commodities. A estimativa de crescimento da Argentina, por exemplo, está em torno de 2% a 3% em 2009, segundo a consultoria.

A desvalorização do real - que foi de 14,4% desde o piso de R$ 1,56 em 1º de agosto para R$ 1,82 ontem - não deve compensar as perdas. Vale lembra que o real se apreciou 35% em termos reais de 2003 até agora, considerando uma cesta de moedas. "O problema é que o câmbio melhorou, mas ainda é baixo para trazer alívio relevante para a balança", disse. Passado o ápice da crise, ele acredita que o dólar deve voltar para a faixa entre R$ 1,70 e R$ 1,75.

Carol Carquejeiro/ Valor Silveira, da RC Consultores: crise financeira vai prejudicar a exportação Com um volume muito fraco, é a explosão dos preços, incentivada pelo "boom" de commodities do início do ano, que segura as exportações. No acumulado de 12 meses até agosto, os preços de exportação do Brasil subiram 23,7%. De janeiro a agosto, ocorre até uma aceleração, com alta de 28,8%. "Os preços são os protagonistas dessa história. O cenário favorável da balança é fruto disso", afirma Felipe Salto, analista da Tendências Consultoria.

Para os economistas, a queda do preço das commodities deve começar a aparecer na balança comercial este mês, mas só deve chegar com vigor no fim do ano. O índice de commodities exportadas pelo Brasil da RC Consultores caiu 7% desde o pico em julho. O indicador, no entanto, havia subido 37% em apenas sete meses, entre dezembro de 2007 e julho deste ano. É uma alta muito expressiva em um período curto. Entre dezembro de 2003 e dezembro de 2007, o indicador das principais commodities brasileiras subiu 95%. "Os preços das commodities só não caem mais agora porque uma parte dos investidores ainda está perdido com a crise e voltou ou se manteve no mercado de commodities", disse Silveira, da RC.

Graças aos preços, o valor obtido pelo Brasil com exportações aumentou 24,5% no acumulado de 12 meses até agosto. Essa performance garante ao Brasil um saldo comercial robusto este ano. A Tendências Consultoria prevê saldo de US$ 22 bilhões em 2008. A MB Associados elevou sua projeção para US$ 26 bilhões. A RC Consultores aposta que pode chegar a US$ 28 bilhões.

Em 2009, o impacto do estouro da bolha das commodities deve aparecer. As previsões variam de US$ 5 bilhões para a MB Associados, US$ 11 bilhões para a Tendências a US$ 15 bilhões para a RC Consultores. "Em 2009, tudo depende das commodities, que sustentaram a balança nos últimos tempos, mas podem rever a história daqui para frente.", disse Vale, da MB Associados.

Entre as categorias de uso, os produtos manufaturados apresentam o pior desempenho. O volume exportado desses bens, que são mais sensíveis ao câmbio e à variação da demanda, já recua 1,9% nos 12 meses até agosto. No acumulado do ano, a queda chega a 4,3%. Mesmo nos manufaturados, a alta de preços também ajuda e está em 15% no acumulado em 12 meses.

Em alguns setores, as exportações recuam significativamente, não apenas por conta do câmbio, mas também porque a forte demanda interna estimula as empresas a deixar de exportar para vender dentro do país. Em vestuário e acessórios, o volume exportado cedeu 24% no acumulado em 12 meses até agosto. Na mesma comparação, a queda chega a 14,4% em calçados e couro, 10,5% em material eletrônico e de comunicações e 9,5% em móveis e indústrias diversas. O volume exportado de veículos ainda conseguiu registrar alta de 1,3% nos 12 meses até agosto.

Em contrapartida, os produtos básicos estão garantindo um desempenho ainda levemente positivo para o volume exportado pelo país. Nos 12 meses até agosto deste ano, a quantidade exportada de commodities subiu 3,4%. De janeiro a agosto, a alta é de apenas 0,6%. Os preços de exportação de básicos estão em níveis recordes e ainda registram aceleração. No acumulado de 12 meses até agosto, os preços dos básicos subiram 39%. No acumulado do ano, a alta é de 46,6%. Em agosto em relação a agosto de 2007, o avanço chega a 65,2%.