Título: PSDB tenta fazer do Maranhão pólo oposicionista do NE
Autor: Agostine, Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 26/09/2008, Especial, p. A14

Na periferia de Imperatriz, segunda maior cidade do Maranhão, sete carros de som avisam a chegada do candidato do PSDB, Sebastião Madeira, para uma caminhada no bairro Planalto. O jingle tocado durante as duas horas de campanha de rua anuncia que o tucano é o candidato do governador Jackson Lago, do PDT. "Ele está chegando mais forte porque está com o povo de Brasília e com o governador", diz a música. Cristiane Agostine / Valor João Castelo: tucanos contam com vitória de ex-aliado de Sarney para reforçar resistência anti-lulista em 2010

A pouco mais de 90 quilômetros dali, em uma casa em Açailândia, o candidato à reeleição, Ildemar dos Santos, do PSDB, ex-aliado da família Sarney, diz que seu maior cabo eleitoral também é Jackson Lago. "Ele me apóia, mas não pode vir aqui porque o PDT é o vice da minha opositora", explica. Na capital do Estado, São Luis, a situação é semelhante. Em primeiro lugar nas pesquisas de opinião, o ex-governador tucano João Castelo vincula-se ao nome do governador e diz que foi incentivado por ele a ser candidato.

Juntas, as três cidades têm 21% do eleitorado do Estado e concentram cerca de 70% do PIB maranhense. Ao contrário da maioria dos palanques do país, onde a base de apoio do governo federal domina grande parte das candidaturas de situação e oposição, as disputas nos principais colégios eleitorais do Maranhão refletem o embate entre o governador, um antigo aliado petista hoje alinhado ao PSDB nacional, e os candidatos da base lulista, atualmente na órbita da família Sarney, o principal sustentáculo do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Estado.

"Aqui tem dois partidos: Sarney e anti-Sarney. Não existe PSDB aqui, não existe partido", diz Jackson, que se aproximou do PSDB desde a posse. Os principais cargos de seu governo estão sob controle tucano, como a Casa Civil, a Secretaria de Cidades e Infra-estrutura e a Secretaria de Articulação Política, além da presidência da Assembléia Legislativa. A presidência da Empresa Maranhense de Administração Portuária também estava com o PSDB. João Castelo deixou o cargo para candidatar-se em São Luis e o governador nomeou seu irmão, Antonio Carlos Lago.

Dirigentes do PDT, como o prefeito de São Luis, Tadeu Palácio, reclamam do espaço dado aos tucanos, mas o governador rejeita as críticas. "O nosso partido está no governo. As secretarias são subordinadas ao governo. É legítimo qualquer quadro desejar mais poder, mas fui eleito por uma frente, não só pelo PDT."

O intuito do PSDB no Maranhão ao aproximar-se de Jackson nessas eleições é o de se fortalecer nos principais colégios eleitorais com vistas ao governo do Estado. Já o apoio do governador às candidaturas tucanas em municípios estratégicos reflete a fragmentação do PDT no Maranhão.

Cristiane Agostine / Valor João Castelo: tucanos contam com vitória de ex-aliado de Sarney para reforçar resistência anti-lulista em 2010 Em São Luís, onde o partido tem mais força no Estado, a divisão é clara. A relação entre Tadeu Palácio e Jackson Lago está cada vez mais tensa e as críticas do prefeito ao governador assemelham-se às da oposição. Eles divergiram sobre a indicação de Clodomir Paz para ser o candidato do partido na cidade e, mesmo derrotado na convenção, Jackson não embarcou na campanha do aliado do prefeito. Tadeu eleva o tom da voz quando fala sobre o governador e reclama até mesmo da falta de repasses e de convênios entre as duas administrações. "Somos do mesmo partido, mas isso não se refletiu em parcerias. Ficou muito aquém do que poderia." O prefeito irrita-se quando fala do distanciamento do governador de seu candidato e expõe essa briga na eleição.

Em um comício realizado na semana passada em uma casa tradicional de shows de São Luis, o prefeito atacou o governador por ter deixado "a história de militância no passado". "Jamais minha consciência permitiria apoiar um candidato que não fosse do meu partido. O PDT está rasgado ao meio", declarou. Ele diz não se conformar com o apoio de Jackson ao tucano João Castelo. O presidente do diretório estadual do PDT, Julião Amin, também critica a falta de unidade. "A militância não entendeu a posição de Jackson. Por que fortalecer um político fora do partido? Só acontece no PDT." Em sua análise, a fragmentação coloca em risco a reeleição de Jackson. "O partido que sair fortalecido vai enfrentá-lo nas próximas eleições. Se o PSDB ganhar prefeituras importantes, não sei se vai apoiá-lo em 2010."

A postura do governador em relação à disputa municipal contrasta com a do prefeito. Tranqüilo, em um escritório no Palácio dos Leões, sede de seu governo, ele comenta, ameno, que "há uma guerra psicológica" e reitera que não está se envolverá na eleição. "Não tive participação nesse processo. Há mais de um candidato da minha base e não quero me envolver", afirma, desconversando sobre divergências com o prefeito. Ele prefere dar indicações de seu peso político dentro do partido. Vice-presidente nacional da legenda, lembra que foi um dos fundadores do PDT.

Nos bastidores do governo estadual, a provável aproximação do grupo Sarney da candidatura PCdoB-PT, de Flávio Dino, é uma das razões para Jackson ter aderido à campanha dos tucanos. Sem aprovar a candidatura de Clodomir e ver a de Dino vinculada ao presidente Lula e à família Sarney, a candidatura do PSDB seria a única com peso eleitoral para fazer frente à antiga oligarquia no Estado. Depois de romper com o domínio de 40 anos do grupo em 2006, Jackson tem sofrido pressões judiciais para deixar o cargo. "Tentaram impedir realizações do meu governo, crescendo o clima de instabilidade. Tem processos aqui e acolá, sem êxito", comenta.

Com a briga dentro do PDT, Clodomir está terceiro lugar nas pesquisas. Na última divulgada pelo Ibope, em 19 de setembro, Castelo tem com 45%, seguido por Dino, do PCdoB, com 16% e por Clodomir, com 8%. Desde o começo da campanha, a candidatura de Flávio Dino é a que mais cresceu. Ele dobrou em intenções de voto e a expectativa é que haja segundo turno. Castelo chegou a ter maioria absoluta, com chance de vencer no primeiro turno. A campanha de Dino, cujo vice é do PT, insistiu para que o presidente Lula declarasse seu apoio. "Minha campanha se divide em antes e depois da entrada de Lula. Meu partido não tem nenhum deputado estadual, nenhum vereador na cidade. Lula é demarcação de território". Por toda a cidade estão espalhados cartazes e adesivos com a foto de Dino ao lado de Lula, e os carros de som da campanha tocam o mesmo jingle da campanha do presidente em 2006, com o refrão "Deixa o homem trabalhar". Os programas do governo federal ocupam parte significativa dos discursos do comunista e de sua propaganda.

A gravação do apoio do presidente foi discutida em uma reunião do Conselho Político com a senadora Roseana Sarney, que apóia formalmente o candidato do PMDB, deputado Gastão Vieira. O grupo Sarney não é o dominante na capital e há duas décadas está fora do comando da cidade. Mesmo com 3% nas pesquisas, Gastão reclamou da ausência de Lula em sua campanha: "Sou vice líder do governo e como vou apoiar alguém que não me apóia?"

Caso vá para o segundo turno, Dino deverá ter o apoio dos candidatos do grupo Sarney. O comunista nega qualquer aproximação com eles. "Nossa campanha é de terceira via. O PSDB domina o governo estadual e quer capitanear o sentimento anti-Sarney. Por isso falam que Sarney vai me apoiar. Nunca precisei dele", diz.

Na propaganda eleitoral, a campanha de Castelo é a mais atacada e os candidatos lembram que o tucano foi vinculado ao período militar. Ele foi nomeado governador biônico em 1979 e seu governo foi marcado pela "greve da meia passagem", quando a polícia reprimiu violentamente estudantes que protestavam pelo direito a meia-passagem em São Luís. Apesar de ter quase 40 anos de vida pública, o tucano usa como mote a "renovação" na política e mostra-se como executor de grandes obras. A campanha, sob consultoria do publicitário Duda Mendonça, passou a usar até mesmo a imagem de Lula na televisão. Castelo fala que é "amigo do povo como o presidente" e que trabalhará com o governo federal. O tucano também declara o apoio de Jackson, ainda que velado. "Sei que tenho o voto dele."

Castelo já foi ligado à família Sarney. "Rompemos porque eles não deixavam novas lideranças surgirem. Sempre os ajudei, mas tinham medo que eu fosse ofuscá-lo."

Ao tentar se fortalecer no Maranhão, com o apoio de Jackson, o PSDB quer tornar-se um pólo de oposição ao governo federal no Nordeste, região onde Lula tem maioria. Se Castelo vencer em São Luís, dirigentes do PSDB do Maranhão cogitam indicá-lo para disputar em 2010, contra Jackson. Ligado ao governador de Minas Gerais, Aécio Neves, ele deverá ter no mineiro um grande apoio eleitoral, já que em Imperatriz Sebastião Madeira, ligado ao governador de São Paulo, José Serra, também é cotado.

Se vencer, Madeira diz que prefere esperar por 2014 para disputar o Estado. Ele conta com a escolha de Serra para disputar a Presidência em 2010 e, com a eventual vitória do tucano, teria respaldo para a disputa. Além disso, como tucano que mais recebe apoio de Jackson, ele quer tê-lo como apoiador.