Título: Projetos de infra-estrutura somam US$ 1,5 trilhão
Autor: Vieira, Cândida
Fonte: Valor Econômico, 26/09/2008, Empresas, p. B8

A área de construção é uma das mais promissoras para novos negócios entre as empresas brasileiras e os países árabes, destacam Antônio Sarkis Jr., presidente da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, e Maurício Borges, diretor de negócios da Apex-Brasil. Com os altos preços do petróleo no mercado internacional, as estimativas da consultoria Meed Project são que US$ 1,5 trilhão estão sendo aplicados pelos seis países do Conselho de Cooperação do Golfo (Arábia Saudita, Bahrein, Catar, Emirados Árabes Unidos, Kuwait e Omã), Iraque e Irã (que não é um país árabe) em projetos de construção civil e obras de infra-estrutura.

O Oriente Médio tem sido uma das novas fronteiras de negócios exploradas pela Construtora Norberto Odebrecht, companhia que empreende, desde 1979, um diversificado projeto de internacionalização. A Odebrecht, diferentemente de suas concorrentes no Brasil - Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez e Mendes Júnior (que chegou a atuar no Oriente Médio nos anos 80 - , já apresenta uma presença sólida na execução de projetos em países árabes, atuando atualmente na Líbia e nos Emirados Árabes.

A última frente de negócios aberta pela Odebrecht foi a Líbia, em um momento importante para o país, analisa Daniel Villar, diretor superintendente da Odebrecht na Líbia. Ele lembra que o país empreende uma gradual abertura comercial e cultural, após 15 anos de quase isolamento devido a um embargo comercial imposto pela Organização das Nações Unidas (ONU). Nesse processo de abertura, a Líbia tem oferecido oportunidades na execução de grandes obras de infra-estrutura - rodovias, aeroportos, saneamento etc. Além disso, o país dispõe de recursos para investir na modernização de sua infra-estrutura, proporcionados pela exportação de gás natural e petróleo.

"Tivemos a oportunidade de ser uma das primeiras empresas internacionais de grande porte a iniciar a operação neste país, no momento em que está planejando um alto investimento em infra-estrutura para aumento de sua competitividade", diz Villar. A Odebrecht entrou no país em um momento em que era pequena a presença de empresas de construção pesada e de recursos humanos com capacidade de executar os projetos. "Já tínhamos, também, a experiência prévia em projetos em outros países árabes, como Djibuti e Emirados Árabes Unidos", acrescentou o executivo.

A Odebrecht executa, na Líbia, dois projetos: a construção do terceiro anel viário de Trípoli, capital do país, em parceria com a UDHC, uma empresa local; e dois terminais de passageiros do novo aeroporto Internacional de Trípoli, contratado pelo consórcio ODTV, que a Odebrecht lidera em parceria com a empresa TAV, da Turquia, e com a CCC, do Líbano. Segundo Villar, o terceiro anel viário de Trípoli terá 24 quilômetros de extensão, incluindo 21 viadutos. Os dois terminais de passageiros do novo aeroporto terão capacidade para 20 milhões de passageiros por ano. Os clientes dos dois projetos são os ministérios de Infra-estrutura e Habitação e de Transportes.

A companhia enfrenta, em sua frente na Líbia, alguns desafios. Além das diferenças culturais, as empresas estrangeiras no país precisam adaptar-se a um novo contexto, com contratos complexos, modelos organizacionais e sistemas de gestão de contratos diferentes, explica Villar.

Apesar disso, a Odebrecht vislumbra oportunidades futuras. "Na Líbia ainda há muitos projetos de infra-estrutura a serem implantados", analisa. Ele acrescenta que a "prioridade da Odebrecht atualmente é garantir a satisfação do cliente com a entrega no prazo e com a qualidade exigida dos projetos já contratados". Mas destaca que a companhia continuará a buscar a expansão de suas atividades na Líbia, "desde que possamos mobilizar pessoas e demais recursos na quantidade e qualidade necessárias para executar as obras nesse ambiente tão complexo".

Não são apenas grandes companhias que estão aproveitando a boa fase de comércio com os países árabes. Exportando para Bahrein, Catar, Iraque, Kuwait, Marrocos, Síria, Arábia Saudita, Iêmen, Líbano, Omã, Argélia, Emirados Árabes Unidos, Jordânia, Líbia e Sudão, a Fanem é uma empresa familiar média, fundada em 1924, que produz equipamentos das linhas neonatal (incubadoras, unidades de cuidados intensivos); laboratoriais (centrífugas, câmaras e freezers para vacinas e sangue); diagnósticos e biossegurança. Com 270 empregados e faturamento de R$ 82 milhões, a empresa exporta cerca de R$ 25 milhões, dos quais mais de R$ 7 milhões para os países árabes.

"Temos o maior orgulho de participar da reconstrução do Iraque. Recentemente, mandamos uma remessa de equipamentos no valor de US$ 1,5 milhão e já havíamos realizado outras duas", afirma Marlene Schmidt, diretora-executiva da Fanem.