Título: Levantamento relativiza peso de gastos em campanha eleitoral
Autor: Izaguirre, Mônica
Fonte: Valor Econômico, 29/09/2008, Política, p. A6

Os gastos com a campanha eleitoral declarados nas prestações de contas dos candidatos não foram decisivos para determinar a reeleição de prefeitos na eleição municipal de 2004. A conclusão é de um estudo da Confederação Nacional dos Municípios (CMN), que pesquisou também a influência, em reeleições, da troca de partido, gastos de campanha, despesas durante o mandato e idade. No pleito de 2004, os reeleitos gastaram em média até menos (R$ 193,32 mil) do que os não-reeleitos (R$ 198,12 mil). Em relação a 2000, a CMN não fez esse levantamento.

A pesquisa indica que elevar investimentos e outros gastos públicos primários durante a administração influencia positivamente. De 2001 a 2004, as cidades governadas pelos reeleitos em 2004 exibiram aumento tanto de investimentos (64%) quanto de outros gastos (14,5%). Nos municípios cujos governantes não se reelegeram, a variação foi menor: respectivamente, 59,9% e 9,2% em igual período.

Os reeleitos em 2000 investiram em média, naquele ano, 12,67% a mais do que em 1998. As demais despesas primárias anuais cresceram 13,57%. Já as prefeituras comandadas pelos que perderam a reeleição em 2000 promoveram, no mesmo período, em média uma elevação de 8,84% nos investimentos e de 11,24% nas demais despesas .

Aumentar gasto não é sinônimo de descuido com a responsabilidade fiscal. De 2002 a 2004, as cidades dos prefeitos reeleitos em 2004 em geral apresentaram índices de responsabilidade fiscal mais altos e portanto melhores do que os registrados pelos municípios dos não reeleitos. Esse índice é apurado pela CNM desde 2002 e considera o desempenho das finanças municipais à luz da Lei de Responsabilidade Fiscal. "A boa administração fiscal tende a ser reconhecida pela população", diz a entidade no documento em que divulga o estudo. O grupo de reeleitos teve médias maiores também em relação aos índices que medem qualidade da gestão e indicadores sociais.

A pesquisa verificou também que, em 2000, pertencer ou não ao partido do governador do Estado não fez diferença. Mas fez em 2004, quando os prefeitos que concorreram pelo mesmo partido do governador tiveram melhor desempenho na reeleição. O percentual de reeleitos também foi maior, em ambos os pleitos, entre os que concorreram apoiados por coligações políticas.

Já o fato de pertencer ao principal partido do governo federal não fez diferença nem em 2000 nem em 2004, segundo a pesquisa, pois os percentuais de reeleitos foram semelhantes entre os que pertenciam e entre os que não pertenciam ao partido do governo central.

O Nordeste foi a região que proporcionalmente mais reconduziu prefeitos a um segundo mandato, nas duas últimas eleições. Entre os nordestinos que tentaram se reeleger, o índice de sucesso chegou a 65,35% no pleito de 2000 e a 60,21% no de 2004. Já entre candidatos à reeleição no Sudeste, o percentual de bem-sucedidos foi menor do país nas duas ocasiões, ficando em 51,4% em 2000 e em 54,89% em 2004 - ainda assim, números altos.

Os resultados indicam que trocar de partido não ajuda, embora também não haja evidências de que atrapalhe significativamente. Tanto em 2000 quanto em 2004, perto de 30% dos que disputaram segundo mandato concorreram por partido diferente daquele ao qual eram filiados na primeira eleição. Mas entre o grupo de reeleitos, esse percentual foi um pouco menor nas duas ocasiões (respectivamente 29% e 29,9%). Já entre os que não conseguiram se reeleger, tinham trocado de partido 30,58% em 2000 e 32,01% em 2004.

A idade foi outro fator avaliado. Nesse item, a pesquisa mostrou que "candidatos com maior idade (mais de 60 anos) elegem-se proporcionalmente menos do que candidatos mais novos". Já o o sexo parece não fazer diferença ou depender do momento. Em 2000, o índice de reeleição foi maior entre as prefeitas (61,88%) do que entre os prefeitos (57,97%) candidatos. Em 2004, foi diferente. Enquanto 58,82% dos candidatos homens se reelegeram, entre as prefeitas, o índice de reeleição foi de 51,08%.