Título: Alckmin e Kassab mantêm troca agressiva de acusações
Autor: Felício, César
Fonte: Valor Econômico, 29/09/2008, Política, p. A7

O tom agressivo entre o prefeito de São Paulo e candidato à reeleição, Gilberto Kassab (DEM), e o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, marcou o debate realizado ontem na TV Record. O clima de confronto ficou evidenciado ainda no primeiro bloco do programa, quando o candidato tucano lembrou aos telespectadores que Kassab tem o apoio do PMDB do ex-governador Orestes Quércia. "O PSDB foi formado para recuperar o governo de São Paulo da irresponsabilidade", afirmou, em uma menção ao cisma do PMDB que originou o partido, durante o governo Quércia. Joel Silva / Folha Imagem Candidatos à prefeitura da capital paulista: críticas e comentários irônicos marcaram a participação dos candidatos que disputam vaga no segundo turno

"Até duas semanas atrás, antes de começar a cair nas pesquisas, o Alckmin não tinha este discurso. Há quatro anos, me convidou para ser vice-prefeito na chapa de Serra e me aplaudiu. E há poucas semanas, me chamou para conversar e me propôs ser candidato ao governo de São Paulo em 2010, com o seu apoio", afirmou, fazendo menção a uma proposta de acordo que havia permanecido inédita. Nas negociações fracassadas que tentaram evitar a divisão da base municipal nas eleições, a ala serrista do PSDB, o próprio Kassab e o PMDB propuseram publicamente a candidatura de Alckmin ao governo estadual.

O tucano demorou a reagir à investida do seu adversário. Apenas no terceiro bloco do debate, cerca de meia hora depois da discussão com Kassab, é que Alckmin procurou negar que tivesse convidado o prefeito a ser candidato a governador em 2010. "Minha vida política não é de acordo de bastidores." Kassab reafirmou que o tucano fez a proposta e citou pelo menos dois encontros que tiveram para negociações, um na casa do presidente do diretório municipal do PSDB, José Henrique Reis Lobo, e o outro na casa do candidato a vereador Gabriel Chalita.

Líder nas pesquisas, a ex-ministra do Turismo e ex-prefeita Marta Suplicy não ficou imune a questionamentos duros. Foi alvo de críticas de Alckmin por ter deixado as contas da prefeitura em uma situação de crise e de Kassab por ter criado novas taxas municipais. A ex-prefeita devolveu as críticas relacionando ambos com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. "Sua propaganda na televisão é enganosa. Seu partido, durante o governo FHC, participou do maior aumento de carga tributária que já houve neste país. E vem me falar das taxas que criei?", ironizou Marta, dirigindo-se a Kassab.

Quando os candidatos puderam fazer perguntas entre si, Alckmin escolheu o prefeito e voltou ao ataque, afirmando que a prefeitura municipal chegou a ir à Justiça questionar uma decisão judicial que atribuía ao município a responsabilidade pelo oferecimento de vagas em creches na pré-escola. O tucano mencionou ainda que há 158 mil crianças sem vagas em creches. Kassab admitiu um déficit de 80 mil vagas. Mas procurou em seguida demarcar diferenças entre o candidato tucano e o atual governador. "Alckmin fala como se não tivesse tido responsabilidades, mas esteve no poder estadual, como vice ou como governador, por 12 anos. Poderia ter ajudado a prefeitura, como Serra está ajudando", disse Kassab, que, em um lapso, chamou o governador José Serra de prefeito. Após se corrigir, acrescentou: "Alckmin deixou no final de seu governo 86 escolas de lata". "O governo estadual não tem escolas de lata. O senhor está mal informado", respondeu o tucano, que ironizou a ligação entre o prefeito e seu antecessor. "Hoje é fácil ser amigo do Serra, porque ele é poderoso. Em 96, quando o Serra foi candidato a prefeito, eu o apoiei, e o Kassab apoiou o Pitta e depois foi secretário dele."

A agressividade entre Kassab e Alckmin era esperada, já que ambos disputam a vaga no segundo turno para competir com Marta Suplicy. Nos últimos 15 dias, o candidato tucano reformulou sua estratégia de campanha, adotando o tom de oposição em relação ao governo municipal. O nível de ataques já preocupa o comando da campanha do DEM, que prevê não receber o apoio de Alckmin em um eventual segundo turno e conta com a interferência da direção nacional tucana para garantir o apoio formal do PSDB.