Título: Laptop educacional não sai da gaveta
Autor: Borges, André
Fonte: Valor Econômico, 29/09/2008, Empresas, p. B2

O Ministério da Educação (MEC) não pretende tirar da gaveta o já lendário projeto do laptop educacional, a iniciativa que prevê a distribuição de milhares de computadores portáteis entre alunos da rede pública de ensino. Segundo uma fonte do MEC, que atua próxima ao projeto, o programa "Um Computador por Aluno" (UCA), encampado pela Casa Civil, não possui sequer orçamento para ser realizado neste ano e a prioridade do Ministério está voltada para projetos como o Proinfo, que trata da modernização dos laboratórios de informática das escolas públicas, e não para a distribuição de notebooks para os alunos.

Procurado, o MEC não quis se posicionar sobre o assunto. Por meio de sua assessoria de comunicação, informou apenas que um "comitê está reunido e debatendo o tema" e que novos processos licitatórios "estão em fase de elaboração", o que inclui o Proinfo urbano, que irá equipar 22 mil laboratórios escolares.

Na Casa Civil, ainda há a expectativa de que o Ministério tome as medidas necessárias para que o edital de compra de 150 mil equipamentos saia ainda neste ano. "Essa demora é muito frustrante, se o orçamento não for liberado até 15 de outubro, o projeto vai atrasar mais uma vez, para abril do ano que vem", afirma uma fonte da Casa Civil.

O Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), órgão ligado ao MEC, chegou a realizar um pregão eletrônico para aquisição das máquinas em dezembro do ano passado. Na ocasião, a fabricante Positivo Informática foi qualificada com a melhor proposta, mas o MEC acabou desistindo da idéia de ter que pagar cerca de R$ 650 por cada computador portátil. A idéia era que um novo edital fosse publicado em abril, o que também não aconteceu. O governo então contratou a Fundação Getulio Vargas (FGV) para revisar e reduzir as exigências do primeiro edital, com o propósito de baixar o custo das máquinas, mas a viabilidade da iniciativa divide opiniões dentro do próprio MEC.

A idéia de usar laptops como instrumento pedagógico e de inclusão digital é discutida pelo governo há pelo menos três anos. Dois anos atrás, o presidente Luís Inácio Lula da Silva chegou até a colocar as mãos em um protótipo do XO, a máquina criada por Nicholas Negroponte, o professor do Massachusetts Institute of Technology (MIT) que desencadeou essa corrida pelo laptop educacional. De lá para cá, a proposta do UCA já rendeu milhares de palestras, teses de mestrado em universidades e até livro do governo. Com o título "Um Computador por Aluno: a experiência brasileira", a obra foi lançada em julho, em cerimônia realizada no salão nobre da Câmara dos Deputados. Agora só falta sair do papel. "É um projeto ambicioso, sinceramente não sei se vai acontecer nessas proporções que o governo deseja", diz o deputado Paulo Henrique Lustosa (PMDB-CE), que é o relator do projeto na Câmara.

Enquanto as discussões sobre o tema se arrastam no Brasil, alguns países da América Latina já estão realizando seus pilotos para checar, na prática, se a idéia pode ou não dar certo. Em março, a organização "Um Laptop por Criança" (OLPC, na sigla em inglês) distribuiu 240 mil portáteis no Peru e 110 mil no Uruguai. A fabricante de chips Intel também está promovendo a sua máquina ClassMate, com testes em cerca de 30 países.