Título: Empresas brasileiras recorrem às agências de crédito e multilaterais
Autor: Lucchesi, Cristiane Perini
Fonte: Valor Econômico, 29/09/2008, Finanças, p. C6

Na expectativa da aprovação do pacote de socorro ao sistema financeiro americano, o aperto no crédito bancário cresceu e os mercados de capitais permanecem fechados. Diante disso, as empresas brasileiras com planos audaciosos de investimentos procuram cada vez os mais recursos das agências de crédito dos governos dos países ricos. Não é só o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) que tem sido muito requisitado. A demanda por recursos das agências de crédito à exportação (no inglês, ECAs) e dos organismos multilaterais tem crescido mais do que a oferta.

A Embratel tem sondado o mercado para tentar levantar US$ 200 milhões para investimentos pelo prazo de cinco anos. A EDP precisa de US$ 600 milhões para a construção da usina termoelétrica de Resende, no Rio de Janeiro. De imediato, quer levantar US$ 180 milhões.

Para o consórcio vencedor da licitação para a construção da linha 4 do Metrô já há US$ 310 milhões garantidos em um empréstimo sob o guarda-chuva do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), fechado há cerca de um mês mas e que ainda está para ser assinado nos próximos dias. São US$ 240 milhões de um grupo de bancos, liderado pelo ABN AMRO Real, mais US$ 70 milhões diretos do BID.

O BID entra como credor oficial de todos os US$ 310 milhões, no entanto, reduzindo o risco para os bancos participantes, pois é credor preferencial, o primeiro a receber em caso de moratória. Participam o Société Générale, o KfW, o WestLB, o Sumitomo Mitsui, o BBVA e o Banco Espírito Santo. É uma Parceria Público Privada (PPP) Estadual.

"As empresas brasileiras com amplos cronogramas de investimento têm recorrido mais às agências multilaterais, pois a liquidez do mercado bancário e de capitais secou no mundo todo", diz Frederico Lohmann, diretor de infra-estrutura do Société Générale. "No entanto, a disponibilidade de recursos das agências permanece estável", disse o executivo. "O resultado é que não dá para atender a todo mundo", afirma.

Segundo ele, daqui para a frente as empresas terão de revisar seus programas de investimento diante da nossa realidade internacional. "Será inevitável", afirma o executivo.

Segundo o mercado, a Braskem está quase conseguindo os US$ 700 milhões em pré-pagamento à exportação que pretendia para rolar dívida obtida para adquirir os ativos da Ipiranga no Brasil. Os rumores eram de que a companhia já havia obtido um total de US$ 625 milhões a US$ 690 milhões. Inicialmente, a empresa esperava fechar a operação na semana passada, mas resolveu adiar o fechamento da transação para esta semana.

Até o dia 16, a Braskem havia conseguido captar US$ 550 milhões por cinco anos, com juros de 1,75% ao ano sobre a Libor, taxa interbancária de Londres. Os líderes da operação, Calyon, Citi e Santander, além dos oito participantes da fase de atacado - Banco do Brasil, Sumitomo Mitsui, Mizuho, BBVA, Standard Chartered, Natixis, Intesa (San Paolo) e ING - já haviam assinado cartas de compromisso de que entrariam com US$ 50 milhões cada um.

O pré-pagamento à exportação rola empréstimo-ponte de US$ 1,2 bilhão tomado pela Braskem para comprar os ativos petroquímicos da Ipiranga, que tinha um custo atrativo, de Libor mais 0,35% ao ano no primeiro ano e de Libor mais 0,55% ao ano no segundo e não vencia neste ano. "Mas não gostamos de deixar a rolagem para a última hora e sempre aproveitamos janelas", disse oa Valor na semana retrasada o vice-presidente de finanças e de relações com investidores da Braskem, Carlos Fadigas.

Os US$ 8 bilhões em empréstimos sindicalizados necessários para os projetos de construção das plataformas da Petrobras estão parados. Até mesmo transações de fusões e aquisições, mais rentáveis para os bancos e que geralmente atraem mais interesse, estão com dificuldade para finalização, diz o mercado.

A Cosan precisa de US$ 826 milhões para comprar os ativos da Esso no Brasil e de mais US$ 163 milhões para assumir a dívida líquida da empresa. A holding tem US$ 450 milhões em caixa, que estão em processo de transferência para a subsidiária operacional, a Cosan S/A, por meio de um aumento de capital privado.

De imediato, a Cosan S/A obteve um crédito stand-by do Bradesco, de US$ 500 milhões. O crédito "stand-by" funciona como um cheque especial - o tomador fica com os recursos disponíveis por um tempo, a uma taxa de juros fixa, e só saca se precisar ou quiser. A Cosan S/A levantou outros US$ 300 milhões em linhas de crédito à exportação do Calyon de vários prazos.

A própria Inbev planeja levantar US$ 9,8 bilhões em ações para a compra da Anheuser Busch, por US$ 52 bilhões, pois dessa forma não teria de tomar os recursos no mercado de dívida para comprar a americana, segundo a "Dow Jones Newswires".