Título: Lula e Chávez dão aval à venda de máquinas à Venezuela
Autor: Leo, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 30/09/2008, Brasil, p. A4

O projeto do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, para criação de indústrias estatais, recebe hoje medidas concretas de apoio do governo brasileiro, que espera fornecer ao país vizinho máquinas e equipamentos fabricados no Brasil. Após o encontro que terá com Chávez, em Manaus, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve acompanhar a cerimônia em que o venezuelano receberá os pré-projetos para construção de sete tipos de fábricas em território venezuelana, com tecnologia desenvolvida no Brasil. Empresas brasileiras esperam firmar contratos milionários com o governo Chávez. AP

Hugo Chávez, presidente da Venezuela: importação crescente do Brasil

"Os contratos estão prontos e espero que sejam assinados, embora sempre haja conversas de última hora", disse, ao Valor, o diretor-executivo de Mercados da Associação Brasileira a Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Mário Mugnaini. As empresas Tropical Food e Siminox deverão fornecer equipamentos para indústrias de suco de laranja e de goiaba, a Bronzinox fechou negociações para equipar uma indústria de beneficiamento de pescados, e a Indústria de Máquinas Moreno negocia, ainda, o fornecimento para uma fábrica de latas destinadas à indústria alimentícia.

Os contratos dessas empresas giram em torno de US$ 20 milhões, calcula Mugnaini, que prevê negócios bem maiores para três empresas, a gaúcha Kepler Weber, a catarinense Indústrias Pajé, e a paranaense Comil, em negociação com o governo venezuelano para equipar e modernizar os silos destinados ao programa de cultivo de grãos que Chávez pôs em marcha com apoio técnico da Embrapa.

Os venezuelanos querem, porém, que as brasileiras se encarreguem também da construção civil relacionada às fábricas, o que elevaria os investimentos a US$ 210 milhões, mas exige ajustes para evitar o aumento de custo com as operações de câmbio, segundo explica Mugnaini. A remessa de recursos para custear as obras de construção civil teria tributação, o que dificulta a participação das brasileiras, comenta o diretor da Abimaq, informando que o tema deve ser abordado hoje na reunião com o governo, em Manaus.

Os acordos firmados com os venezuelanos são sustentados por cartas de garantia e mecanismos como o Convênio de Crédito Recíproco (que garante pagamentos entre países contra riscos com as variações cambiais), além de serem financiados com recursos do Fundem, o fundo venezuelano de petróleo - ficando livres das restrições a operações de câmbio criadas pelo governo, com o cadastro conhecido como Cadiv. Em intensas negociações com a estatal venezuelana de petróleo, PDVSA, a Abimaq espera ainda tornar-se grande fornecedoras de equipamentos para exploração petrolífera, substituindo, aos poucos, os fornecedores americanos, hoje detentores daquele mercado.

A aproximação com Chávez se revelou, até agora, um bom negócio: a Venezuela já é o quinto maior importador de máquinas e equipamentos do Brasil, com negócios em torno de US$ 600 milhões. Preocupado em garantir o sucesso dos investimentos sustentados com máquinas e equipamentos brasileiros, o governo Lula firmou acordo também para orientar alguns dos programas de industrialização da Venezuela, que, segundo os planos de Chávez, deverá construir 200 fábricas para gêneros básicos, alimentos e até placas de circuitos integrados.

Chávez deve receber hoje, do presidente da Associação Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Reginaldo Arcuri, o que os técnicos chamam de "cadernos de fabricação de nível intermediário", uma pilha de documentos de pouco mais de um metro com especificações para construção de sete tipos de fábricas na Venezuela, com a previsão das estruturas e equipamentos necessários para fabricar no país alimentos, refrigeradores, embalagens de vidro, latas e tampas metálicas, produtos de PVC, válvulas fundidas e placas de circuitos integrados.

Os "cadernos", com custo de cerca de R$ 600 mil, financiados pelo governo brasileiro e executados pela fundação Certi, da Universidade Federal de Santa Catarina, terão uma versão final mais detalhada ainda em outubro, com previsões de volumes de produção, investimentos necessários e recomendações de logística. A Venezuela se comprometeu a fazer no Brasil as licitações para compra de equipamentos destinados às fábricas a ser construídas. O Sebrae, órgão de apoio à pequena e à média empresa, deve treinar gerentes para as fábricas.

Como o programa venezuelano prevê a descentralização dos pólos de desenvolvimento, especialmente ao Sul do país, próximo à fronteira com o Brasil, o governo brasileiro tem planos de aproveitar os investimentos previstos por Chávez para desenvolver fornecedores para a Zona Franca de Manaus, aproveitando a abundância de bauxita e energia na Venezuela, por exemplo, para produção de rodas de alumínio para as indústrias de motocicletas do Amazonas, ou os futuros circuitos montados na venezuela para equipamentos eletroeletrônicos da Zona Franca.