Título: Ibope e Datafolha divergem no Rio
Autor: Grabois, Ana Paula; Magalhães, Heloisa
Fonte: Valor Econômico, 30/09/2008, Política, p. A6

A divergência entre pesquisas de opinião acirrou o clima na reta final de campanha no Rio. Depois de o candidato a prefeito do Rio Fernando Gabeira (PV/PSDB/PPS) ter colocado em dúvida os resultados da pesquisa Ibope divulgada no sábado, o presidente do instituto, Carlos Augusto Montenegro, chamou o candidato de "covarde e omisso". Gabeira questionou o Ibope depois que o Datafolha mostrou dados mais favoráveis a ele e disse que o instituto estaria trabalhando a favor de uma polarização de Eduardo Paes (PMDB) com Crivella (PRB). Enquanto o Ibope mostrou Gabeira em terceiro lugar, com 10%, o Datafolha registrou alta expressiva do candidato, de 11% para 15%, o que garantia um empate técnico com o segundo colocado, Marcelo Crivella. Nos dois levantamentos, Paes lidera, com 29% dos votos.

"Ele é omisso, covarde e dissimulado. Covarde por atacado uma instituição que tem mais de 70 anos sem provas e no achômetro dele. Omisso porque o PSDB, que fez aliança com ele, é o maior cliente do Ibope. O Ibope faz pesquisas para o PSDB, PT, PMDB, para o PV dele. Em Macaé estamos fazendo para o PV", afirmou Montenegro.

Gabeira criticou o resultado do Ibope porque o PMDB, partido de Paes, contratou a pesquisa diária (tracking). Montenegro rebate e diz que o PSDB também contratou tracking para os candidatos Geraldo Alckmin (PSDB), em São Paulo, e Beto Richa (PSDB), em Curitiba. Além disso, afirma que dos 1.500 candidatos destas eleições nos 170 municípios onde o Ibope faz pesquisas, 1.330 vão perder. "A moda é criticar o instituto", disse.

Para Montenegro, a diferença de resultados deveu-se às metodologias e sugeriu que o temporal que caiu na sexta-feira no Rio pode ter distorcido os dados do Datafolha, que faz pesquisas na rua. O Ibope faz pesquisa domiciliar. "Quando se faz pesquisa na rua em ponto de fluxo com dilúvio, não se encontra muitas pessoas, se encontra mais os economicamente ativos", disse. Ele acrescenta que o Rio, por ter um eleitor mais velho e mais pobre faz com que Crivella esteja melhor na pesquisa do Ibope (realizada entre terça-feira e quinta-feira), com 24%, ante 18% apurados pelo Datafolha na quinta e sexta-feira. Em comunicado, o Ibope acrescenta que apesar das diferenças metodológicas, no limite da margem de erro, de três pontos percentuais, as duas pesquisas indicam resultados semelhantes. "Independente do resultado , as duas pesquisas mostram tendência de crescimento de quatro pontos percentuais para Gabeira", informa a nota assinada pela diretora executiva, Márcia Cavallari.

O diretor-geral do Datafolha, Mauro Paulino, discorda. Segundo ele, a diferença nos métodos de elaboração das pesquisas de opinião entre os institutos não é suficiente para explicar resultados tão divergentes entre o Datafolha e o Ibope. "A metodologia não explica a diferença nos resultados dos institutos, porque cada um tem sua estratégia para medir o mesmo fenômeno. No Rio, as pesquisas foram realizadas em datas muito próximas e não era para ter um resultado tão diferente", comentou. "Há uma imprecisão metodológica de um dos dois institutos", analisou Paulino. "E não é do Datafolha", completou.

Para o diretor do Datafolha, as pesquisas que serão divulgadas nesta semana provarão qual dos dois institutos estava equivocado. Paulino disse não acreditar em manipulação política do Ibope, mas questionou sua metodologia. "É cada vez mais difícil imaginar uma pesquisa domiciliar bem feita. É inviável. É difícil entrar em algumas favelas ou subir em condomínios de luxo"

Ontem, o prefeito do Rio, Cesar Maia (DEM), pediu uma auditoria "urgente" nos índices de Crivella, pois suspeita que um hacker esteja interferindo no sistema de computadores do Ibope e cometendo "crime cibernético". "O mais provável é que um hacker esteja entrando em seus sistemas e trocando os códigos de Crivella com outro candidato que tenha mais votos onde ele tem menos. Uma ação dessas, de um hacker experimentado, seria muito difícil de ser detectada", disse Maia, em sua página na internet. Ele ressalta que isso já aconteceu no Rio, no caso Proconsult, quando se transferiam pontos do então candidato Leonel Brizola para brancos e nulos. Para Maia, Crivella tem menos de 18%.

Em Florianópolis, o PT também questionou o resultado de pesquisas de opinião e, em nota, disse repudiar "o uso das pesquisas como forma de manipulação do processo eleitoral". O partido citou um "histórico de erros cometido pelos institutos de pesquisa". "Nas eleições de 2004, em Florianópolis, a pesquisa do Ibope, também realizada em setembro, apontava o candidato do PT com apenas 4%. O resultado oficial, contrariando o Ibope, registrou 16%. Nas mesmas eleições, em São José, a pesquisa do Mapa apontava apenas 3% ao candidato do PT, Círio Vandresen, que acabou obtendo 20% dos votos". O PT citou também exemplo de 2002, quando a pesquisa do Ibope colocava a candidata ao Senado Ideli Salvatti em 5º lugar, com 3%, e Ideli elegeu-se com folga. "Neste caso, derrotamos as pesquisas. Porém, em muitos outros casos, os prejuízos foram incalculáveis, não só para o PT, mas para a democracia." (Colaborou Vanessa Jurgenfeld , de Florianópolis)