Título: Caos, petróleo e má gestão levam setor ao vermelho
Autor: Osse, José Sergio
Fonte: Valor Econômico, 30/09/2008, Empresas, p. B5

A crise e o caos no setor aéreo brasileiro em 2007 cobraram seu preço das empresas do setor. Afetada por problemas estruturais e, em alguns casos, pela má condução do negócio, a indústria de transporte aéreo fechou no vermelho pela terceira vez em seis anos.

Segundo dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), o prejuízo do setor em 2007 foi de R$ 346,5 milhões. Em 2006 havia registrado lucro de R$ 684,6 milhões. As perdas são fruto de uma conjuntura extremamente ruim para a indústria e que, mesmo assim, não incorpora ainda um fator que deverá afetar ainda mais o balanço do setor neste ano: o alto preço do petróleo.

No ano passado ocorreu o acidente com o Airbus da TAM no aeroporto de Congonhas (SP), meio ano após a tragédia com o avião da Gol. Em ambos os casos, todos os passageiros morreram e foram levantadas sérias dúvidas quanto a qualidade do serviço de controle aéreo brasileiro e a segurança dos aeroportos, especialmente o de Congonhas.

A drástica redução nas operações de uma das grandes empresas do setor, a Varig, ocorrida um ano antes, também teve seu papel no resultado da indústria no ano passado. Mesmo com a compra pela Gol, a Varig reduziu dramaticamente as operações.

Entre 2006 e 2007, houve um aumento de 37,2% nos custos operacionais da indústria brasileira, para R$ 12,43 bilhões. Embora tenha havido expansão na receita operacional, de 15,8%, para R$ 15,35 bilhões, isso não foi suficiente para sustentar o lucro bruto do setor, que recuou 30,2% para R$ 2,92 bilhões.

Considerando outras despesas da indústria aérea, especialmente despesas gerais e administrativas (entre elas gastos com hospedagem de passageiros não atendidos), o resultado operacional fechou negativo em R$ 451 milhões. Em 2006, a indústria havia tido lucro operacional de R$ 1,08 bilhão.

Os dados mostram que houve um descompasso entre os aumentos na oferta e na demanda por transporte aéreo. A oferta unitária (número de assentos disponíveis multiplicada pelo total de quilômetros percorridos, ASK, no jargão), cresceu 13,8%, considerando tanto as operações nacionais quanto as internacionais. Já a demanda unitária (produto entre o número de passageiros pagantes pelo total de quilômetros percorridos, RPK), cresceu apenas 6,9% - embora em números totais, tenha aumentado 7,9% o número de passageiros no sistema.

Essa diferença se traduziu em uma média de ocupação de aeronaves de 68% - 6,1% menor que em 2006. E, embora o custo unitário (custo por ASK, ou CASK) tenha recuado 11,1% em 2007, essa queda na ocupação levou a uma receita unitária (yield) 11,4% menor.

O setor doméstico sofreu, mas o internacional, mais ainda. O prejuízo operacional com esse segmento foi de R$ 706,8 milhões, 59,5% maior que em 2006. Segundo a Anac, isso ocorreu porque a demanda encolheu e a oferta cresceu. A ocupação caiu 10,6% para 67%. O lado positivo: aumento de 11,7% na receita unitária (yield).

Apesar do mau resultado do setor aéreo brasileiro como um todo em 2007, o segmento de carga, especialmente o internacional, demonstrou forte expansão ante 2006. O aumento no movimento de importações sustentou a expansão, com a ajuda do dólar barato, uma vez que, na parte doméstica, houve retração nos negócios ( de 5,15% para R$ 767 milhões). Na área internacional a receita aumentou 72%. O ganho total com a atividade internacional pulou de R$ 572,8 milhões em 2006 para R$ 985,4 milhões no ano passado.