Título: Montadoras ampliam aposta nos emergentes
Autor: Olmos, Marli
Fonte: Valor Econômico, 30/09/2008, Empresas, p. B8

Antes de tomar a decisão de ampliar a capacidade da fábrica de caminhões e ônibus no Brasil em 25% a partir de 2009, a direção mundial da Mercedes-Benz questionou se deveria mesmo seguir esse caminho diante de uma crise econômica que já havia se propagado pelos Estados Unidos e começava a se refletir em outras partes do mundo. Mas a crise não mudou os planos dos fabricantes de veículos de carga europeus, que mantêm, todos, planos estratégicos voltados para os mercados emergentes. Sergio Zacchi / Valor

Schaller, da Volkswagen, prevê aumento de 30% nos próximos 10 anos

É difícil para a direção de uma multinacional imaginar que os países do Bric (Brasil, Rússia, China e Índia) passariam ilesos pelas turbulências que abalaram a maior economia do planeta. "Por isso, antes de tomar a decisão do aumento de capacidade, discutimos muito", conta Hubertus Troska, responsável pela divisão de veículos comerciais Mercedes-Benz em todo o mundo.

Diante das apostas que a indústria de caminhões e ônibus deposita no vigor dos mercados emergentes, o clima, em Hannover, onde é realizada a 62ª Feira de Veículos Comerciais, não é de crise. Maior exposição do gênero em todo o mundo, a feira de Hannover, que termina quinta-feira, alcançou este ano o recorde de 2 mil expositores espalhados em 275 mil metros quadrados.

Em relação aos Estados Unidos, a preocupação dos europeus parece mais voltada ao impacto da desvalorização do dólar no preço do petróleo. No entanto, as empresas de caminhões e ônibus pensam que as economias emergentes têm fôlego suficiente para atravessar este momento e continuar atraindo os investimentos que, pouco a pouco, deixam os países de origem dessas multinacionais.

"Algum impacto pode ocorrer, mas a condição macroeconômica do Brasil, por exemplo, é hoje muito melhor do que em anos anteriores", afirma Troska. "As crises não nos assustam", completa.

A direção mundial da Iveco prevê queda de 10% no mercado europeu no próximo ano. Mas o principal executivo da companhia, Paolo Monferino, imagina conseguir compensar a retração com as vendas em regiões como a América Latina.

Com três associações que acabam de ser firmadas com empresas chinesas, a Iveco prepara-se para exportar, a partir da China, para mercados da África do Norte, Oriente Médio e Leste Europeu. A empresa, que há dois anos lançou o plano estratégico de ampliar a atividade fora da Europa Ocidental, está agora empenhada em reforçar a rede de serviços em países onde a presença da marca ainda é tímida.

Para alguns executivos, nem o vigor dos mercados em crescimento compensará a retração na Europa. "Mesmo em ritmo fenomenal, as vendas de alguns mercados como Rússia e Oriente Médio não devem conseguir compensar a retração do mercado europeu", afirma Troska, da Mercedes. Mas, para ele, uma queda em torno de 10% nas vendas de comerciais leves nos países da Europa no próximo ano não seria "nada assim tão grave".

Stephan Schaller, presidente mundial da divisão de veículos comerciais da Volkswagen, lembra que os analistas do setor de veículos de carga prevêem um aumento de demanda global de 30% nos próximos 10 anos. "Nos mercado emergentes, esse crescimento poderá chegar a 60%", afirma o executivo. É por isso que, como diz Schaller, "apesar das dificuldades econômicas em certos mercados europeus", a empresa tem a certeza de que vai atingir a meta de crescer mais de 50%, alcançando 800 mil unidades em todo o mundo (incluindo comerciais leves) até 2018. À exceção da América do Norte e Japão, o mercado internacional de veículos comerciais continua em boa forma", diz Mathias Wissmann, presidente da Associação da Indústria Automotiva na Alemanha.