Título: Paraguai planeja vender excedente de Itaipu no Brasil
Autor: Goulart, Josette
Fonte: Valor Econômico, 30/09/2008, Empresas, p. B8

O diretor do lado paraguaio de Itaipu, Carlos Mateos, esteve ontem em São Paulo para uma série de reuniões com empresas do setor e consumidores livres. O objetivo do executivo é sondar a possibilidade de vender a parte da energia pertencente ao Paraguai, e que hoje é excedente, diretamente no mercado brasileiro, sem o intermédio da Eletrobrás. Mateos diz que o governo paraguaio não só quer vender a energia de Itaipu de forma direta, como também busca parceiros brasileiros dispostos a construir novas usinas hidrelétricas no seu país.

Vender a energia mais cara para os consumidores finais no Brasil é a forma encontrada pelo governo paraguaio para elevar a receita com sua parcela na produção de Itaipu. Segundo Mateos, não existe nenhuma restrição, no tratado firmado entre os dois países para a gestão da hidrelétrica binacional de Itaipu, ao direito do Paraguai de vender seu excedente diretamente ao Brasil. "Hoje a energia que vendemos ao Brasil, via Eletrobrás, é mais barata do que o preço praticado no mercado regulado", diz o executivo.

O problema é que o documento do tratado de fundação da usina prevê que cada país é dono de metade da energia gerada e obrigatoriamente precisa vender o que não utiliza a um preço pré-fixado. Desde as eleições presidenciais paraguaias, com a consagração de Fernando Lugo como presidente, a discussão para a revisão do tratado esquentou, motivada justamente pela questão de preço.

Segundo Mateos, apenas 4% da energia gerada em Itaipu vai para o Paraguai. A parte excedente é vendida à Eletrobrás. Mas o governo paraguaio recebe uma fração efetivamente muito pequena dos recursos, já que foi o Brasil que financiou a construção da usina. A questão de Itaipu é muito importante para o governo brasileiro, já que 20% de toda a energia consumida no país é proveniente da usina binacional. Por outro lado, virou tema de campanha presidencial com a promessa de revisão de preço e por isso o governo Lugo está empenhado em chegar a um acordo com o Brasil. "Acredito na boa-fé do governo brasileiro", disse Mateos.

O executivo garante que em breve deve voltar ao Brasil para efetivamente fechar contratos de venda de energia. Mateos disse ainda que algumas empresas brasileiras de geração ficaram interessadas em construir usinas no Paraguai. Mas também nesse caso será necessário um acordo. Para que essa projeto saia do papel é preciso que haja um entendimento para que as linhas de transmissão, que ligam Itaipu ao Sistema Interligado Nacional (SIN), possam ser usadas pelas novas usinas a serem construídas.