Título: Crise nos EUA derruba petróleo e metais
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 30/09/2008, Empresas, p. B9

O fracasso do governo americano em aprovar na Câmara dos Deputados o plano de US$ 700 bilhões contra a crise financeira derrubou os preços das commodities metálicas e do petróleo.

O contrato do barril do WTI negociado para o mês de novembro, em Nova York, encerrou o dia cotado a US$ 96,37, com queda de US$ 10,52. Já o contrato para o mês seguinte caiu US$ 10,09, fechando o pregão a US$ 96,09. Em Londres, o barril de Brent para novembro fechou a US$ 93,98, com desvalorização de US$ 9,56. O vencimento de dezembro perdeu US$ 9,22, fechando o dia a US$ 95,37.

Todas as principais commodities metálicas caíram ontem, com destaque para o cobre, que passou a ser negativo no ano e pode encerrar 2008 no vermelho pela primeira vez depois de sete anos. Sempre em relação ao contrato para três meses, a maior queda percentual no dia foi do chumbo, que terminou o pregão cotado a US$ 1.860 a tonelada, perda de 6,32%. Mas em termos anuais, o níquel acumula a maior queda, de 35,89%, cotado ontem a US$ 16,7 mil a tonelada. O alumínio caiu ontem 2,17%, para US$ 2.460,50, mas ainda está positivo no ano em 2,29%.

As cotações do petróleo começaram o dia em queda, mas afundaram durante a tarde após os congressistas dos EUA barrarem o socorro financeiro. A interpretação dos agentes é que tal problema vai afetar ainda mais a economia real e prejudicar o consumo dos americanos.

A avaliação dos analistas é de que o produto não se sustenta valendo mais de três dígitos em um cenário de recessão nos Estados Unidos. O mercado trabalha com um piso de US$ 90 para os contratos de petróleo no curto prazo, mas o barril pode cair abaixo disso nos próximos meses. Nem mesmo especulações para ganhos de curto prazo seguraram a cotação do produto. Segundo agentes, os investidores estão saindo de todos os ativos, exceto do ouro.

O cobre, o metal com melhor desempenho em 2007, pode terminar este ano com perdas pela primeira vez desde 2001. O metal, usado em fios elétricos e tubulações hidráulicas, pode cair 11% até o fim do ano devido ao declínio da demanda por parte do setor de construção de residências, disse Michael Pento, da Delta Global Advisors, nos Estados Unidos. O cobre vinha tendo altas médias anuais de cerca de 30% nos últimos seis anos, enquanto as minas do Chile e da Austrália se esforçavam para atender o consumo da Ásia.

As construtoras usam cerca de 400 libras-peso de cobre em uma casa típica dos EUA, de forma que os preços podem cair mais do que os de qualquer outro metal industrial devido ao colapso do mercado de habitação. As vendas de novas residências nos EUA caíram para o patamar mais baixo em 17 anos, no mês passado, informou no dia 25 de setembro o Departamento do Comércio americano.

"As pessoas percebem que os nossos piores temores sobre a economia são verdadeiros e que deve haver uma demanda muito pequena" para o cobre, disse William O´Neill, um dos parceiros da Logic Advisors de Upper Saddle River, também nos Estados Unidos. "Para o ouro e outras commodities, as pessoas estão se concentrando nessa idéia de uma ´fuga para um porto seguro´ na nossa crise financeira", completou o analista.

O cobre teve alta de 26% no primeiro trimestre, mais que qualquer outro metal do Índice CRB. O preço caiu 28% desde então, uma vez que o crescimento econômico dos EUA perdeu fôlego e as perspectivas de uma retomada foram reduzidas pela quebra de bancos com créditos imobiliários de alto risco (subprime). A expectativa é que os preços do metal continuem a cair até 2012.

Segundo informou o jornal britânico "Financial Times", o índice Reuters-Jefferies CRB, considerada uma referência global dos preços das commodities, caminhava ontem para a sua pior queda trimestral em mais de 50 anos. O índice acumula desvalorização de 21,2% desde o fim de junho, a pior queda trimestral desde 1956, quando o indicador foi publicado pela primeira vez. No entanto, analistas alertaram sobre a volatilidade do índice e disseram que ele também caiu bastante em 2006, para se recuperar a atingir patamares recordes no começo deste ano.